Santos Fundadores da Ordem dos Trinitários
Face aos terríveis sofrimentos que os católicos aprisionados pelos maometanos padeciam, Deus suscitou, no século XII, dois varões a fim de fundarem uma Ordem religiosa para socorrê-los, visando sobretudo a salvação de suas almas: São Félix de Valois e São João da Mata.
Redação (10/09/2023 16:57, Gaudium Press) São Félix de Valois, neto do Rei da França Henrique I, nasceu em 1127 na cidade de Amiens – Norte desse país.
Sua mãe, estando grávida, rezava uma novena a São Hugo – sobrinho de Carlos Martel, o vencedor da Batalha de Poitiers, em 732 – e Nossa Senhora apareceu-lhe, tendo nos braços o Divino Infante com uma cruz aos ombros. Ao lado surgiu outro menino segurando uma coroa de flores nas mãos. E Nosso Senhor deu sua cruz à criança, que Lhe entregou a coroa.
A flor-de-lis e a Cruz
Em seguida, São Hugo disse-lhe: “Esta criança é teu filho, o qual trocará as flores-de-lis de França pela cruz de Jesus Cristo.” A flor-de-lis era símbolo do reino da França.
Pertencendo à família dos Valois – que reinou na França de 1328 a 1589 –, Félix foi chamado pelo Rei Luís VII, seu primo, para servir na corte.
Certo dia, fazendo exercícios de equitação com o monarca, este caiu do cavalo e faleceu. O Santo tomou a mão do cadáver e disse: “Em nome da Trindade Santa, levanta-te!” No mesmo instante, o rei ergueu-se totalmente sadio.
Luís VII participou da Segunda Cruzada e levou consigo Félix, o qual se destacou em todas as batalhas por sua fortaleza.
Tendo o rei voltado à França, o Santo o acompanhou e resolveu, movido pela graça divina, levar uma vida de oração e penitência numa floresta nas proximidades de Paris. Assim, ele permutou a flor-de-lis pela Cruz de Cristo, conforme sua mãe fora informada através de uma visão mística.
São Félix reuniu em torno de si diversos discípulos, entre os quais São João da Mata, filho do Conde de Provença – Sudeste da França – e Doutor em Teologia pela Universidade de Paris. Ambos fundaram uma Ordem religiosa com o objetivo de socorrer os católicos que estavam presos pelos maometanos.
Perigos da alma são mais terríveis do que os do corpo
Para conhecermos as razões pelas quais eles instituíram essa Ordem, sintetizamos alguns comentários de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.
Nessa época, os maometanos “viviam de pirataria no mar e em terra, roubando como uma fonte habitual de renda e apoderando-se de cativos como um modo costumeiro de conquistar mão de obra e de incutir terror no adversário. […]
“Por vezes, prisioneiros importantes eram desfigurados, horrorosamente maltratados, mortos e, com muita frequência, corrompidos moralmente. Era, portanto, uma situação miserável também do ponto de vista moral.
“Então, a ideia de libertar os cativos visava resgatar os irmãos na raça, mas principalmente os irmãos na Fé. Era muito mais para salvar dos perigos da alma do que dos tremendos riscos do corpo”.[1]
Aprovada pelo Papa Inocêncio III, a instituição passou a ser chamada “Ordem da Santíssima Trindade e da redenção dos cativos”, ou Trinitários, e se propagou em diversas regiões.
Eis um fato ocorrido com São João da Mata comprobatório do que acima foi afirmado.
Com os donativos recebidos, os monges trinitários entregavam dinheiro aos infiéis a fim de que libertassem os cativos. Por ocasião de sua segunda viagem a Túnis – África –, em 1210, São João da Mata conseguiu resgatar 120 prisioneiros católicos. Obtendo um navio, começou a navegar com eles pelo Mar Mediterrâneo. Mas os maometanos os atacaram, roubaram o dinheiro que portavam, arrancaram o leme da embarcação, rasgaram as velas e zarparam para outras regiões a fim de realizar novos assaltos.
O Santo ordenou aos navegantes que estendessem seus mantos à maneira de velas, ajoelhou-se e, com o Crucifixo nas mãos, entoou salmos e outras orações, sendo acompanhado por todos. Em poucos dias, o navio chegou ileso ao Porto de Óstia, na Itália.[2]
A Virgem e os Anjos revestidos com o hábito da Ordem
Com São Félix houve uma maravilhosa manifestação do sobrenatural.
Num mosteiro do qual era superior, preparava-se a Solenidade da Natividade de Nossa Senhora, mas o monge sacristão esqueceu-se de soar as Matinas – parte do Ofício divino, rezada durante a noite.
Na hora costumeira – alta madrugada – todos dormiam. São Félix desceu ao coro para fazer os arranjos necessários e o encontrou ocupado por Anjos, vestidos com o traje de sua Ordem: hábito branco no qual figura uma cruz vermelha e azul. A Santíssima Virgem, também de hábito, sentada sobre um trono, presidia essa assembleia.
Ela entoou a antífona a qual foi continuada pelos Anjos com uma harmonia incomparável, e São Félix os acompanhou no cântico. Após algum tempo, os monges se dirigiram ao coro e notaram que a face do Santo apresentava extraordinário esplendor.
São Félix faleceu em 1212, aos 85 anos de idade. São João da Mata entregou sua alma a Deus em 1213, tendo 53 anos.
Tirania exercida pela Revolução gnóstica e igualitária
“Devemos nos deter embevecidos na contemplação desses fatos, porque assim compreendemos o que é a misericórdia de Deus e de quantos esplendores a Civilização Cristã é capaz. Se esses episódios se passaram na Idade Média, que maravilhas veremos no Reino de Maria, o qual vai ser ainda superior àquela era histórica? (…)
“Realmente, cada um de nós poderá dizer isso, pois teremos, pela força de Nossa Senhora, derrubado toda a cidade da iniquidade e feito nascer o Reino de Maria, mil vezes mais esplendoroso do que esses esplendores que acabamos de considerar”. [3]
A Ordem dos Trinitários, cuja patrona é Nossa Senhora do Bom Remédio, propagou-se na Europa, América e até no Oriente. Possui o ramo feminino e também terciários, entre os quais se destacou Santa Ana Maria Taigi (1769-1837), mãe de família que recebeu extraordinárias visões místicas. Seu corpo, incorrupto, é venerado na Basílica de São Crisógono, em Roma.
A humanidade encontra-se hoje tiranizada pela Revolução gnóstica e igualitária que arrasta as pessoas para os pecados, entre os quais o orgulho e a sensualidade.
Entregando-se ao pecado, o homem se torna seu escravo como Nosso Senhor afirmou (cf. Jo 8, 34). Roguemos a Nossa Senhora as graças necessárias para lutarmos firmemente contra a Revolução, a fim de glorificar a Deus e salvar nossas almas.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Cantou com Nossa Senhora e os Anjos. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano 23, n. 272 (novembro 2020), p. 26-27.
[2] Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. III, p. 106.
[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Ibidem, p. 29.
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