Como será a felicidade no Céu?
A esperança do prêmio eterno é um valioso alento para suportar, com resignação cristã, a cruz de todos os dias.
Redação (21/08/2023 09:36, Gaudium Press) Como bem sabemos, o Céu é a herança dos filhos de Deus. A fim de compreender mais a fundo esta verdade, façamos um contraste. Se consideramos como é o inferno, constatamos nele a total ausência de amor: lá ninguém ama o próximo, vive-se num delírio de ódio de uns contra os outros, seja em relação aos Bem-Aventurados do Céu, seja em relação a quem participa da mesma desgraça. É o ódio perpétuo, a tudo e a todos. Pelo contrário, no Céu vive-se eternamente no amor. E se o amor causa felicidade, será essa a essência do Céu, resultante da visão beatífica, porque é uma necessidade da inteligência aderir à verdade e da vontade amar o bem ao seu alcance. Tal aspiração das potências da alma será saciada em sua plenitude na posse da visão do próprio Deus.
No Céu, onde não há fraude, encontra-se o Bem e a Verdade em essência e, por isso, é impossível ao homem deixar de amar. Desta forma, a partir do momento em que a alma vê a Deus, na visão beatífica, a inteligência e a vontade aderem de imediato a Ele, de maneira absoluta e irrevogável.
Fomos criados para a bem-aventurança, mas como será ela?
Todos nós fomos criados para Deus, e é por Ele que nossa alma anseia. Do fato de O possuirmos no Céu vem essa plenitude de gozo. Por que plenitude? Porque a intensidade e a duração da alegria dependem da qualidade do objeto possuído. Se é pequena, com o tempo se gasta e nos cansamos dele, como costuma acontecer, mais cedo ou mais tarde, em relação aos bens materiais e a tudo quanto é deste mundo. O prazer humano é caduco. Quem poderá ouvir sem interrupção a mesma música, por mais bela que seja, ou contemplar durante anos, sem mover-se, uma única paisagem? Nesta vida não há o que não termine por enfastiar. Mas Deus não, porque no Céu Ele será visto em seu todo, mas não totalmente. E como é a Suprema Verdade e Beleza, sempre apresentará a nossos olhos aspectos novos pela eternidade inteira, sem nunca nos entediar.
“Então”, comenta São Roberto Belarmino, “a sabedoria não consistirá mais numa investigação da divindade no espelho das coisas criadas, mas na própria visão descoberta da essência de Deus, causa de todas as causas, e da primeira e Suma Verdade”. O desejo natural de conhecer e de saber se sacia com esta visão, pois nosso entendimento será elevado pela luz de Deus – o lumen gloriæ –, para ser capaz de compreendê-Lo da forma mais perfeita possível à nossa condição. E se nesta vida a noção de certas verdades nos traz alegria, qual será a felicidade originada pela dilatação da inteligência humana por um empréstimo da inteligência divina?
Contudo, o gozo celestial não seria completo se fosse restrito tão só a atender os anelos da inteligência. Também a vontade alcança nele a plenitude de sua satisfação. O coração tem necessidade de amar e de ser amado, e nada produz tanta felicidade quanto realizar esse ideal, ainda que seja de modo passageiro. Quando alguém a quem prezamos muito, sobretudo se é superior a nós em algum ponto, nos diz “Eu te estimo muito!”, nosso coração se alarga por nos sentirmos amados. Como será imenso nosso júbilo quando Deus nos disser: “Meu filho, Eu te quero muito! Tanto que te criei, e foi meu amor que infundiu em tua alma todo o bem existente nela. Vem, meu filho! Aqui estou Eu para ser o teu gozo eternamente!” Diz Santo Afonso que as almas “no Céu têm certeza de que amam e são amadas por Deus. Veem que o Senhor as abraça com um grande amor, que nunca mais cessará, por toda a eternidade”. Esta é a felicidade no Céu!
Felicidade que sacia sem saciar, porque não produz fastio. Assim como a Verdade, também a Bondade de Deus é infinita, proporcionando ao homem sempre conhecer algo novo e digno de ser amado. Os Santos criaram uma imagem muito expressiva ao comparar o deleite eterno a uma sede que, satisfazendo-se, nunca se sacia: sede de sede. “Os bens celestes saciam e sempre alegram o coração […]. E, apesar de saciar plenamente, parecem sempre novos, como se fosse a primeira vez a degustá-los; sempre os fruímos e sempre os desejamos; sempre os desejamos e sempre os alcançamos”.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 248, agosto 2022.
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