O Anjo de Portugal e Fátima
“Não temais! Sou o Anjo da Paz”. Eis as doces palavras proferidas pelo Anjo de Portugal aos três videntes de Fátima.
Redação (10/06/2023 15:40, Gaudium Press) Fátima, situada no seio luso da península Ibérica, geograficamente pequena, mas grande e honrosa aos olhos de Deus, foi o cenário para uma especial manifestação sobrenatural no início do século passado.
Na história da salvação, Fátima marca o crepúsculo do segundo milênio e o alvorecer de uma nova era para a humanidade. Tanto no âmbito espiritual quanto no temporal, até aos dias de hoje, ouve-se o eco das revelações da Santíssima Virgem aos três pastorzinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta.
Com efeito, o ano de 1917 será, sem dúvida, um ano sempre vivo nos corações marianos; porém, aprouve a Deus que tais aparições de Nossa Senhora fossem precedidas por outras manifestações também notáveis.
Voltemos nossos olhos ao ano de 1915.
O Anjo da Paz
Enquanto a humanidade agitava-se pelos tumultos da primeira guerra mundial, quatro meninas pastoreavam seus rebanhos pelos vales de Fátima, circundados de oliveiras, carvalhos e pinheiros, em meio a colinas desnudas e pedregosas. Em dado momento, as pastorinhas avistaram algo que lhes chamou muitíssimo a atenção: Pairando sobre certo arvoredo do vale, viram uma nuvem alvíssima, “como se fosse uma estátua de neve, que os raios de sol tornavam ainda mais transparente”[1] – segundo explicou Lúcia, uma das quatro jovens.
Todavia, entre os meses de abril e outubro deste ano de 1915, em mais duas ocasiões, a aparição se repetiu.
Na primavera do ano seguinte, Lúcia estava na mesma região, já não mais com suas três colegas, e sim com Francisco e Jacinta. Uma chuva fina obrigou-os a se abrigarem num local conhecido como Loca do Cabeço, onde, pela primeira vez, viram claramente uma aparição celeste.
As crianças, há pouco, haviam rezado e brincavam quando um forte vento sacudiu as árvores. Admiradas, viram sobre o olival um jovem resplandecente de luz e de sublime formosura. Aparentava ter uns quinze anos e seu fulgor assemelhava-se ao brilho do cristal atravessado pelos raios do sol. Vinha ele voando em sua direção. Assim descreveu mais tarde a irmã Lúcia:
“Ao chegar junto de nós, disse:
– Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.
E, ajoelhando em terra, curvou a fronte até o chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras:
– Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-vos! Peço perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.
Depois, erguendo-se disse:
– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”.[2]
Terminadas estas palavras, o anjo retirou-se. Tal foi a atmosfera sobrenatural e a grandeza do fato ocorrido que as crianças permaneceram por um longo período ali paradas, repetindo a oração transmitida pelo anjo. Tanto sentiam a presença de Deus que não ousavam falar. Apenas no dia seguinte, esta atmosfera sobrenatural aos poucos foi diminuindo.
A segunda e terceira aparição
No verão do ano de 1916, encontravam-se os três primos de Lúcia em sua casa. Estavam brincando no quintal, junto a um poço, quando novamente apareceu o celeste jovem de luz. Nesta segunda aparição, o anjo veio fazer uma nobre convocatória aos jovens pastorzinhos, desta vez não só à oração mas também à heroica via do sofrimento e da vitimação. Revelou-lhes que os Santíssimos Corações de Jesus e Maria tinham sobre eles desígnios de misericórdia.
Foi também nesta aparição que embaixador celeste lhes revelou quem era:
– Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal.[3]
No princípio do outono, novamente na Loca do Cabeço, deu-se a terceira e última aparição, como narra a Irmã Lúcia:
“Depois de termos merendado, combinamos ir rezar na gruta, que ficava do outro lado do monte. Logo que aí chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: ‘Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-vos, etc.’ Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vimos que sobre nós brilhava uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vimos o Anjo tendo na mão esquerda um cálice, sobre o qual estava suspensa uma Hóstia, da qual caíam algumas gotas de Sangue dentro do cálice”.[4]
O Anjo deixou o cálice e a Hóstia suspensos no ar, e prostrou-se em terra junto às crianças. Fez que rezassem com ele três vezes a oração:
– “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espirito Santo, adoro-vos profundamente e ofereço-vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores”.[5]
Tendo concluído a oração, o anjo deu a Hóstia para Lúcia, e a Francisco e Jacinta, o cálice:
– “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”.
Após terem recebido a Sagrada Eucaristia, prosternaram-se novamente com o Anjo e rezaram a mesma oração por três vezes. Após isso o Anjo desapareceu. Os três primos continuaram na mesma atitude, a rezar esta mesma prece, a tal ponto que, ao levantarem-se, já se fazia noite, e foi necessário retornarem para casa.
Encerram-se assim as celestes manifestações do Anjo de Portugal, não sem deixar muita paz e serenidade nos corações daquelas almas eleitas, preparando-as para a sublime e grandiosa revelação que Maria Santíssima, em breve, lhes faria. De tal modo estas palavras do anjo penetraram em Lúcia, Francisco e Jacinta que, a partir deste momento, começarem a realizar sua missão de vítimas expiatórias pelos pecadores, através de diversos sacrifícios e de uma assídua vida de oração.
* * *
Que o Santo Anjo da Paz possa infundir também em nossos corações este ardoroso amor a Deus, a fim de que possamos ser em nossos dias ecos fiéis da mensagem de Fátima.
Por Jean Pedro Galdino
[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Fátima, Aurora do Terceiro Milênio. 3. ed. Lisboa: Companhia do Minho, S. A. Barcelos, 2000, p. 40.
[2] Ibid., p. 41-42.
[3] Ibid.
[4] Ibid., p. 43.
[5] Ibid.
Deixe seu comentário