Gaudium news > Corpus Christi

Corpus Christi

Dois acontecimentos extraordinários contribuíram para a instituição da Solenidade do Corpo de Cristo.

Corpus Christi

Foto: Cathopic/Dulce María.

Redação (07/06/2023 12:21, Gaudium Press) Corpus Christi –ou Solenidade do Corpo de Cristo– é uma festa que comemora a instituição da Eucaristia na Quinta-feira Santa, destinada a prestar ao Pão do Céu um culto público e solene de adoração e reparação.

A história desta Solenidade remonta ao século XIII. Dois acontecimentos extraordinários contribuíram para a sua instituição: as visões de Santa Juliana de Cornillon em Liège, na Bélgica, e o milagre eucarístico de Bolsena, perto da cidade italiana de Orvieto.

Instituição da celebração de Corpus Christi

Santa Juliana de Cornillon (1193-1258) foi uma religiosa cisterciense que teve frequentes revelações místicas. Algumas de suas visões sobrenaturais, ricas em símbolos sugestivos, levaram-na à convicção de que faltava no calendário litúrgico uma festa que reavivasse nos fiéis a Fé no Santíssimo Sacramento e reparasse as faltas cometidas contra esse adorável Sacramento. Ela pôs todos os seus esforços para alcançar esse objetivo, contando com o apoio de personalidades católicas de seu tempo, como o Arcipreste de Liège, Jacques Pantaleon, confidente da Santa, que mais tarde foi Papa com o nome de Urbano IV.

Este Papa teve a glória de instituir a celebração de Corpus Christi. Em 1264, publicou a bula “Transiturus de hoc mundo” instituindo-a, embora condenasse, na própria bula, a heresia de Berengário de Tours que questionava a transubstanciação. Magistral pedagogia da Igreja que, ao mesmo tempo que exalta o Mistério Eucarístico, denuncia o erro que se lhe opõe.

Para a liturgia de Corpus Christi, São Tomás de Aquino compôs belos hinos que ainda hoje são recitados na Missa e na Liturgia das Horas desse dia.

O milagre de Bolsena

Vejamos uma breve síntese, como se deu o milagre de Bolsena. Corria o ano de 1263. Um clérigo Boêmia, que passou a ser conhecido como Pedro de Praga, estava em peregrinação a Roma. Na viagem, ele parou em Bolsena, cidade da região do Lácio, na Itália, para celebrar sua Missa, embora tivesse dúvidas sobre a real presença na Eucaristia. Aconteceu que, ao erguer a Hóstia consagrada, esta começou a emanar abundantes gotas de sangue, umedecendo o corporal e chegando a cair no chão, o que foi testemunhado por numerosos fiéis que assistiam à Missa e expressaram sua emoção. O celebrante se encheu de temor e suas dúvidas sobre a transubstanciação se dissiparam.

Imediatamente informaram a Urbano IV que se encontrava na cidade vizinha de Orvieto, e este enviou o Bispo do lugar para verificar a veracidade do fato. Constatado o presságio, organizou-se uma procissão levando o corporal à presença do Pontífice que saiu ao seu encontro e ajoelhando-se exclamou: “Corpus Christi!” Em seguida, ele introduziu a relíquia na Catedral de Orvieto e ordenou que fosse edificada em Bolsena uma igreja em homenagem ao Precioso Sangue.

No século XVI, o artista Rafael Sanzio executou uma enorme pintura mural que é visitada nos Museus do Vaticano, “A Missa de Bolsena”; uma glorificação do milagre que é considerado a obra-prima de Rafael como pintor de afrescos.

As procissões eucarísticas

A morte de Urbano IV em 1264 dificultou um pouco a instituição da festa na Igreja. Mas o Deus eterno tem seus “tempos”… Mais tarde, Clemente V tomou o assunto em suas mãos e no Concílio de Viena (1311) ordenou a adoção da festa com um novo decreto. Seu sucessor, João XXII, também pediu sua observância. E a solenidade foi fazendo seu caminho.

Posteriormente, as procissões eucarísticas foram incentivadas pelos Papas Martinho V e Eugênio IV. O Concílio de Trento os oficializou, para serem feitas com pompa e cânticos apropriados, para que o Santíssimo Sacramento receba a homenagem dos fiéis, dos cidadãos em geral e de suas autoridades, tanto eclesiásticas quanto do Estado e das forças vivas da sociedade.

Até não muito tempo atrás, em vários lugares naturalmente víamos comandantes civis e militares com suas insígnias características no Corpus Christi, o que contribuía para o brilho da celebração, ainda que o governo local não fosse confessional. É que ainda não se professava esse secularismo que se porta hostil ao catolicismo; porque uma coisa é indiferença ou equidistância, outra muito diferente é discriminação e oposição…

Ainda hoje, em cidades como a histórica Toledo na Espanha, a procissão de Corpus Christi é sempre realizada com representantes do Estado, das Forças Armadas e de organizações da sociedade civil, sem violar as leis vigentes ou incomodar ninguém.

A celebração de Corpus Christi

Como conclusão, reproduzimos a parte do documento da Congregação Romana para o Culto Divino “Diretório de Piedade Popular e Liturgia” do ano 2002 que trata da celebração de Corpus Christi:

162. A procissão da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é, por assim dizer, a “forma tipo” das procissões eucarísticas. Prolonga a celebração da Eucaristia: imediatamente após a Missa, a Hóstia consagrada na dita Missa é conduzida para fora da igreja para que o povo cristão possa dar um testemunho público de Fé e de veneração ao Santíssimo Sacramento. Os fiéis compreendem e amam os valores contidos na procissão de Corpus Christi: se sentem “Povo de Deus” que caminha com o seu Senhor, anunciando a Fé nEle, que se tornou verdadeiramente “Deus conosco”.

Porém, é necessário que nas procissões eucarísticas sejam observadas as normas que regulam o seu desenvolvimento, em particular as que garantem a dignidade e a reverência devidas ao Santíssimo Sacramento; e também é necessário que os elementos típicos da piedade popular, como a decoração das ruas e janelas, a oferenda de flores, os altares onde será colocado o Santíssimo Sacramento nas estações do percurso, os cantos e as orações movam todos a manifestar a sua Fé em Cristo, atendendo unicamente ao louvor do Senhor (…).

Nos últimos anos, as ruas de nossas cidades e povos não viram a procissão de Corpus Christi; por razões sanitárias, as pessoas tiveram de manter o distanciamento social e isolar-se em casa, enquanto o Senhor também permanecia “recluso” nos tabernáculos, sozinho, sem adoradores.

A pessoa humana é uma unidade, alma e corpo. Preocupar-se apenas com o corpo e descuidar da saúde da alma é outra forma absurda de “laicidade”…

Mairiporã, junho de 2023.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas