São Francisco de Borja: algumas lições da natureza
Uma análise atenta das criaturas que nos rodeiam pode nos proporcionar valiosos ensinamentos
“Entre as criaturas vegetativas, olhe para as plantas e verá que elas crescem para cima; apenas o homem cresce para baixo, caindo nas coisas vis. Deveria ao menos fazer como a árvore que lança muitas raízes no solo para dar mais vigor aos ramos. E assim o homem, lançando mais raízes de humildade, produziria grandes ramos de virtude.
Que também aos homens causem humilhação as criaturas sensitivas, como os animais, vendo o serviço que prestam a ele que, pelo pecado, tornou-se um deles. Pensa que, quando tu os tratas mal, menos ainda mereces seus serviços, e surpreende-te ao ver como te obedecem, enquanto tu desobedeces ao Criador.
Oh! Pó e cinza, humilha-te e chora com estas palavras, e também quando vires o serviço que te prestam e o descanso que te dão as criaturas. Fica humilhado, pois não pagas com a mesma moeda; e quando alimentas os teus animais, pensa que é mais justo que tu os sirvas, pois eles não foram ingratos nem rebeldes para com seu Criador.
Ao ver um porco no meio da lama, alguém poderia pensar que não é tão sujo como ele. E para que, sobre isso, cada um saiba julgar corretamente, deve-se compreender que nenhuma coisa é má em si mesma senão quando considerada má diante de Deus; e uma vez que tais coisas são naturais aos animais, não são más em si mesmas nem consideradas más diante de Deus. Mas ai de ti, pecador, que, enquanto o porco segue sua natureza, tu abandonas a tua deixando de amar e servir ao teu Deus. Ai de ti que, quando estás em pecado, chafurdas em uma lama mais hedionda que a do porco”.
SÃO FRANCISCO DE BORJA. Seis tratados muito devotos. São Paulo: Cultor de Livros, 2020, p.62.
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