A paixão de Cristo em nossos dias
Uma análise atenta e séria do estado em que se encontra o mundo hodierno nos revela em que fase estamos: a Igreja está passando por uma misteriosa, mas real paixão.
Redação (06/04/2023 15:24, Gaudium Press) Na Sexta-Feira Santa, a Igreja recolhe o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo João. Neste texto, vemos, num misto de comoção e indignação, a alternância de figuras que circundam o Cordeiro Divino prestes a ser imolado.
Dentre estas figuras, sobressai em maldade o vulto ignóbil dos fariseus. Outrora devotos cumpridores da Lei, estes tinham se transformado numa “raça de víboras” (cf. Mt 12,34). De apóstolos da ortodoxia, converteram-se em mestres da hipocrisia.
Além de desviar o povo eleito do autêntico cumprimento da vontade divina, esses agentes do mal não puderam suportar a aparição do verdadeiro Messias, o qual lhes frustrava completamente os planos de perversidade. Seus pensamentos não eram outros que aqueles descritos no livro da Sabedoria: “Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. Sua existência é uma censura às nossas ideias; basta sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas” (cf. Sb 2,2-16). Para estes homens perversos, havia uma única saída, e foi esta a que utilizaram: assassinar o Salvador.
Qual não foi sua surpresa ao perceberem que, ferindo o Pastor, o rebanho inteiro foi curado, pois “ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas” (Is 53,5).
Pois bem, será que tudo isso não tem um paralelo com nossos dias?
Nestes nossos dias…
Ao longo de sua existência, a Igreja – Corpo Místico de Cristo – revive, de certa forma, as fases da vida de Cristo, sua cabeça.
Uma análise atenta e séria do estado em que se encontra o mundo hodierno nos revela em que fase estamos: a religião é cada vez mais posta de lado; os bons, perseguidos; os maus – assim como Barrabás – inocentados. A Igreja está passando por uma misteriosa, mas real paixão.
Ora, se isto é verdade, onde estão os fariseus desta paixão? Onde, os promotores do infame assassinato?
Por toda a parte. Sim, pois onde reina o pecado desenfreado; onde os costumes imorais possuem a mais descarada cidadania; onde o erro é tido por virtude; onde a verdade é silenciada e o erro proclamado; onde, enfim, o bem faz às vezes de mal; em todos estes lugares, encontram-se os fariseus do nosso século, tramando velada ou abertamente. Com sanha, eles querem novamente consumar a paixão, não mais de um Homem-Deus, mas de sua instituição divina.
O que fazer então? O mesmo que fez Maria Santíssima: manter-se de pé junto à cruz, com uma certeza inabalável de que virá a ressurreição e, na medida em que nossas possibilidades o permitam, tentar barrar a ação farisaica onde nos for possível.
Não nos esqueçamos: a Igreja é imortal! Logo, quando ela parece dar seu último suspiro, em algumas partes do mundo, ela já estará exalando um perfume primaveril; basta procurarmos com fé, que encontraremos sua parte ressurrecta.
Agindo assim, poderemos, à semelhança do apóstolo João, acompanhar Maria Santíssima aos pés da Cruz para merecer tê-la ao nosso lado no dia da Ressurreição
Por Aloísio de Carvalho
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