Quando o homem é mais culpado que o demônio
Ao considerarmos o inferno, encontraremos muitas verdades dignas de nossa humilhação, pelas quais devemos vencer o amor-próprio e reconhecer o nosso nada.
“Os demônios foram condenados por causa de um só pecado, e tu, miserável pecador, mesmo cometendo tantos, ainda não estás condenado. Terás motivos para te humilhar ao ver a grande paciência do Senhor para contigo, sendo tão grande o rigor da justiça para com o demônio.
Se ao demônio fosse concedida a oportunidade de fazer penitência como a ti, ele faria certamente coisas extraordinárias; e tu, que as podes fazer, não as fazes, sendo que cometeste pecados ainda mais abomináveis. Pois não se tem notícia que Lúcifer, quando pecou, tenha procurado persuadir os outros anjos a pecarem, como fazem os pecadores ao incitar outros homens ao pecado. De modo que, nisso, parece que a malícia do homem excede a de Lúcifer, e isso deve ser para o pecador motivo de tanta humilhação que o possa livrar daquela que experimentaria nos tormentos infernais.
Se o homem tem motivos para ficar humilhado diante dos demônios, não os têm menos diante das almas condenadas. Pois, se dizemos que o anjo, por ser espírito, não teve direito à misericórdia no primeiro pecado, que diremos do homem, a quem não bastou ser de barro e de carne tão fraca para ser libertado, havendo alguns que por um só pecado estão no inferno?
Com certeza, se pensares sobre isso, verás que deves procurar superar o condenado em humilhação, assim como o superas nos pecados”.
SÃO FRANCISCO DE BORJA. Seis tratados muito devotos. São Paulo: Cultor de Livros, 2020, p.55.
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