Bastam cinco pães e dois peixes
Colocando algo de nossa parte – que poderá ser pouco, mas oferecido com amor – Deus faz o resto.
Redação (06/03/2023 12:37, Gaudium Press) O hábito da adoração eucarística conduz, naturalmente, à prática da Comunhão Sacramental. É inconcebível um assíduo visitante do Santíssimo Sacramento e até metódico em seus compromissos de adoração semanal ou mensal, que não aspire a desfrutar desse momento ápice da vida da alma que é quando se recebe o Pão da Vida. Ali, mais do que uma visita ou um encontro com o Senhor, é uma comunhão íntima. Entretanto, tende a ocorrer esta incongruência: subestimar a Comunhão, ainda que se honre ao Santíssimo Sacramento visitando-o.
Por que isso acontece? Pouco amor de Deus? Formação deficiente? Falta de confissão sacramental? Letargia espiritual? Alguma outra razão?
O conhecimento e o amor andam de mãos dadas
Entre as causas evocadas que levam ao afastamento da Comunhão, a falta de formação ou de instrução ocupa sem dúvida uma posição de destaque. Porque para viver a Fé é necessário conhecê-la, tendo ao menos dados suficientes para iluminar a inteligência e motivar a vontade. Esses conhecimentos serão posteriormente fecundados pela graça de Deus e produzirão frutos; é assim que se dá a marcha de ascensão na vida espiritual.
Ora, conhecimento não significa erudição, nem mesmo saber de cor o catecismo dos principiantes. No caso em questão, conhecer equivale um pouco aos cinco pães e dois peixes que o Senhor usou para realizar o milagre da multiplicação (Mt 14, 17). Colocando algo de nossa parte – que poderá ser pouco, mas oferecido com amor – Deus faz o resto. Este “algo” importa aqui numa compreensão básica do mistério eucarístico e, claro, em um amor sincero a Jesus, presente nas espécies consagradas. Portanto, não é só conhecer, é também amar; o conhecimento e o amor andam de mãos dadas, encorajando um ao outro mutuamente. E ambos são um dom de Deus.
Os benefícios que oferecidos pela recepção da Comunhão
Para motivar esse caminhar no que se refere à Comunhão sacramental, são preciosas as digressões que faz o Padre Tomás de Kempis em sua conhecida obra “Imitação de Cristo” sobre os benefícios que oferecidos pela recepção da Comunhão. Ao enumerá-los, o Padre Kempis não faz mais que refletir os ensinamentos da Igreja sobre o tema.
Diz o P. Kempis: “Estes são os mais excelentes frutos da Santa Comunhão:
I.- Nos une a Nosso Senhor Jesus Cristo incorporando-nos a Ele. Por isso Ele mesmo disse: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 57).
II.- Aumenta e conserva a graça na alma, dá abundância de virtudes, força contra as tentações, vitória contra inimigos visíveis e invisíveis, e inclusive bem-estar corporal e perfeição de vida à quem se apresenta a ela com frequência e dignidade.
III.- Restaura e ilumina o entendimento, recria e alegra o coração, expulsando as trevas.
IV.- Torna a alma humilde e piedosa e inflama o desejo do Amor divino.
V.- Aumenta os hábitos virtuosos, atenua as incitações da carne e pacifica os ardores da concupiscência.
VI.- Aumenta a esperança pela certeza da Fé e aumenta a devoção.
VII.- Redime e apaga os pecados veniais, preserva dos pecados mortais, faz perseverar os santos desejos, as boas intenções e as boas resoluções e, em geral, faz superar todas as dificuldades.
VIII.- Nos faz participar de todos os méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo e nos dá o penhor da glória do paraíso.
IX.- Nos dispõe a praticar o bem, a ser misericordiosos e generosos para com os desamparados e a causar pavor aos demônios infernais.
X.- A Santa Comunhão diminui sempre a pena devida aos nossos pecados”.
Que tesouros nos revela esta enumeração! Não se pode conceber um bem maior do que a soma de todas essas graças recebidas em uma Comunhão: tal é o empenho de Deus em nos ajudar, nos enriquecer e nos salvar!
A consideração cuidadosa desses benefícios pode ser a base para que se opere o milagre da própria reforma espiritual – sim, a sua, caro leitor – e a de toda uma comunidade, assim como de alguns poucos pães e peixes chegaram a comer “cinco mil homens sem contar mulheres e crianças” (Mt 14, 21). Convencido do valor da Eucaristia, se trata de experimentar a sua força transformadora.
A importância de receber a Comunhão para termos vida em nós e alcançar o céu
Nos ensinamentos contidos no capítulo VI do Evangelho de São João, Nosso Senhor deixa claro aos seus discípulos a importância capital de receber a Comunhão para termos vida em nós, alcançar o céu e ressuscitar no último dia.
Portanto, vamos ao banquete eucarístico bem preparados e seguros de sua poderosa eficácia. A Eucaristia fortalece a vida espiritual porque é a raiz, a fonte, o centro e o cume de toda a vida cristã, contém todo o tesouro espiritual da Igreja que dela se alimenta constantemente.
Uma multidão saciou sua fome corporal com aqueles pães multiplicados milagrosamente no deserto, pães que teriam sido extremamente saborosos; mas… esses pães pouco ou nada valem em comparação com o Pão do Céu!
O Evangelho diz que antes de instituir o seu Corpo e Sangue no Sacramento na Última Ceia, o Senhor nos amou “até ao extremo” (Jo 13,1), quis permanecer entre nós, até dentro de nós! Inclusive tornou-se alimento para não ficar sozinho, trancado e esquecido no interior de um tabernáculo…
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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