Cruzados conquistam Jerusalém
Depois de longas caminhadas e terríveis sofrimentos, os Cruzados, em junho de 1099, contemplaram do alto das colinas a Cidade Santa e bradaram: “Jerusalém! Jerusalém!” Tiraram seus calçados, ajoelharam, oscularam o chão e, vertendo lágrimas, adoraram o Redentor.
Redação (28/02/2023 11:42, Gaudium Press) Jerusalém era governada por muçulmanos do Egito, que dela se apoderaram após derrotarem os turcos, em agosto de 1098. Sua guarnição se compunha de 40.000 homens.
Para prejudicar os Cruzados que se aproximavam, os egípcios eliminaram as árvores e pastos das redondezas, secaram muitas cisternas e jogaram veneno naquelas que continham água.
Em Belém, explosão de alegria
Godofredo de Bouillon ordenou que uma centena de cavaleiros, comandados pelo príncipe ítalo-normando Tancredo, se dirigissem a Belém. Sabendo da notícia, os católicos dessa cidade realizaram uma procissão entoando salmos de júbilo ao encontro de seus libertadores.
“Toda aquela pobre gente, depois de mais de quatro séculos de opressão, beijava chorando as mãos dos rudes cavaleiros. Conduzidos por um povo em festa, Tancredo e seus companheiros se dirigiram à Igreja da Natividade. ‘Viram o presépio onde havia repousado o doce Menino por quem foram criados o Céu e a Terra. Os habitantes, em agradecimento, pegaram a bandeira de Tancredo e colocaram-na no alto da Basílica da Virgem’.”[1]
A fim de rezar, Tancredo foi sozinho ao Monte das Oliveiras. Cinco muçulmanos vieram atacá-lo com suas armas; reagindo com destreza, ele matou três e os outros fugiram.
Construção de máquinas de guerra
Os Cruzados não tinham os instrumentos necessários para investirem eficazmente contra Jerusalém. Um sírio católico, que se unira a eles, conhecia uma floresta não muito distante. Guiados por ele, cavaleiros para lá se dirigiram e trouxeram madeira a fim de se construir máquinas de guerra.
Isso foi reforçado pela chegada aos portos do Mediterrâneo, situados nas proximidades, de navios procedentes de Veneza e Pisa que trouxeram alimentos aos Cruzados. Assim, puderam fabricar escadas, torres rolantes, catapultas, aríetes.
Como preparação para o ataque, realizou-se um jejum de três dias e uma procissão do Monte das Oliveiras até o Monte Sião, no qual se localiza o Cenáculo onde o Redentor instituiu o Sacramento da Eucaristia.
Enquanto os católicos faziam esse ato de piedade, no alto das muralhas os maometanos, por ódio a Nosso Senhor Jesus Cristo, levavam cruzes nas quais escarravam e jogavam outras imundícies.
A procissão terminou numa igreja dedicada à Maria Santíssima, foi dada uma bênção geral e anunciado que o ataque global às muralhas seria realizado em 14 de julho de 1099.
“Não houve nesse dia nem doente, nem velho, nem criança, nem mulher que não se fizesse soldado. Todos juravam morrer por Cristo, ou vencer com Ele.”[2]
Das três torres rolantes elaboradas, a de Godofredo era mais alta que as muralhas e em seu cume havia uma cruz de ouro. Ao raiar da aurora, elas se aproximaram dos muros, mas foram atingidas por intenso fogo grego jogado pelos sitiados. Por volta de meio-dia, praticamente todos os atacantes se retiraram, exceto o heroico Godofredo que permaneceu no alto de sua torre juntamente com seu irmão Eustáquio de Boulogne.
Defensor do Santo Sepulcro
Quando tudo parecia perdido, apareceu planando no ar, acima do Monte das Oliveiras, um cavaleiro movendo um escudo resplandecente para significar que os Cruzados deveriam voltar ao combate.
Entusiasmados, todos reiniciaram o ataque. Godofredo, de sua torre agora protegida com peles de animais para evitar o efeito do fogo grego, conseguiu saltar para o alto da muralha. Outros cavaleiros o acompanharam, abriram as portas e os guerreiros de Cristo entraram na cidade. Era o dia 15 de julho de 1099, Sexta-feira Santa, três horas da tarde, momento em que Jesus havia morrido no Monte Calvário.
Dez mil muçulmanos morreram, porém, muitos deles se refugiaram na mesquita de Al-Aqsa, construída sobre as ruínas do Templo de Salomão. Caminhando por ruas cobertas de sangue, um batalhão de Cruzados foi até aquele local e liquidou seus ocupantes.
No meio de tudo isso, Godofredo de Bouillon teve um procedimento que causou – e causa até hoje às pessoas de Fé – grande admiração. Retirou sua armadura e vestiu uma túnica de lã dos penitentes. Descalço, acompanhado por três de seus oficiais, caminhou em torno das muralhas, como era costume dos peregrinos, chegou ao Gólgota e, derramando lágrimas, se prosternou diante do Sepulcro de Jesus.
Na noite desse mesmo dia, os Cruzados – depois de terem se lavado e trocado suas roupas ensanguentadas por vestes limpas – percorreram descalços a Via Sacra, por onde o Divino Redentor caminhara rumo ao Calvário. Eles cantavam, rezavam e muitos vertiam lágrimas de dor pelos seus pecados e de alegria pela vitória alcançada.
Passados alguns dias, na Basílica do Santo Sepulcro quiseram proclamar Godofredo como rei de Jerusalém, mas ele declarou que não aceitava esse nobilíssimo título; desejava ser chamado Defensor do Santo Sepulcro e acrescentou que “jamais cingiria uma coroa de ouro no lugar onde o Salvador havia portado uma coroa de espinhos”[3].
Vitória de Ascalon
Três semanas depois, um imenso exército egípcio chegou à cidade de Ascalon, às margens do Mar Mediterrâneo, com o objetivo de retomar Jerusalém.
Godofredo de Bouillon ordenou uma solene procissão pelas ruas da Cidade Santa para implorar o socorro de Deus. Em seguida, reuniu 10.000 guerreiros os quais, sob seu comando, partiram rumo a Ascalon, onde estavam conglomerados perto de 50.000 maometanos.
Nas proximidades dessa cidade, havia imensos rebanhos de gado. Percebendo que isso era uma armadilha elaborada pelos infiéis para que os Cruzados perdessem seu ímpeto de ataque, o conselho de guerra determinou: quem se apossasse de algum daqueles animais teria o nariz e as orelhas cortadas.
Após a celebração de uma Missa campal durante a qual comungaram, os guerreiros da Cruz se puseram em marcha tocando trombetas, e os rebanhos passaram a segui-los.
Com as enormes nuvens de poeira levantadas, os inimigos julgaram que um imenso exército vinha atacá-los e fugiram apavorados. Muitos se refugiaram numa floresta vizinha, a qual foi incendida; outros conseguiram chegar até o mar e escaparam.
Depois dessa vitória, diversos príncipes voltaram para a Europa. Para os que permaneceram no Oriente, Godofredo distribuiu como feudos províncias, cidades, castelos. “O sistema feudal se prestava, aliás, maravilhosamente à dupla necessidade da unidade central e da autonomia das províncias (…) E contribuiu indubitavelmente para o sucesso do estabelecimento dos latinos na Palestina.”[4]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] GROUSSET, René. La epopeya de las Cruzadas. Madrid: Palabra. 2014, p. 29.
[2] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. 23, p. 604.
[3] VÉTAULT, Alphonse. Godefroi de Bouillon. Tours: Alfred Mame et fils. 7. ed. 1883, p. 254.
[4] DARRAS. Op. cit.1876, v. 24, p. 250.
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