As bofetadas de Dom Bosco
Pequenos episódios da vida de Dom Bosco descrevem como ele se servia de tapas e bofetadas para afastar o espírito maligno dos seus alunos. E eles recebiam esses golpes com muita alegria e fervor.
Redação (31/01/2023 11:05, Gaudium Press) Dia comum no Oratório de Turim, por volta do ano 1864. Como de costume, apinhavam-se em torno de Dom Bosco várias dezenas de estudantes ávidos de aproveitar o tempo de recreio para uma meia hora de convívio com aquele santo sacerdote ao qual amavam e veneravam como pai.
Sempre alegre e empenhado em transmitir a seus birichini a alegria da virtude, Dom Bosco nunca perdia de vista as fisionomias de seus juvenis interlocutores. Fixando certo dia os olhos num jovem cuja mente parecia vaguear sonhadoramente pelo mundo da lua, deu-lhe uma forte bofetada.
Logo em seguida o Santo amainou com um largo sorriso a perplexidade do agredido e lhe disse ao ouvido: “Fique tranquilo. Não bati em você, mas no demônio”.
Remédio contra a tentação e contra a melancolia
Episódios semelhantes a este eram comuns no dia a dia do Oratório.
Narra o Pe. Lemoyne que, “deparando-se com algum jovem de aspecto melancólico, Dom Bosco o chamava, inquiria o motivo de sua tristeza e o advertia: ‘São Filipe Neri ensinava que a melancolia é o oitavo pecado capital’. Consolava-o depois com alentadoras palavras e terminava por dar-lhe algo à maneira de uma bofetada, dizendo: ‘Alegre-se!’ E com isto – coisa admirável! – restituía-lhe a primitiva alegria”.
Em outras oportunidades, Dom Bosco recorria à autoridade desse mesmo santo para explicar o motivo do tapinha que acabara de dar em algum menino: “São Filipe Neri agia assim com seus jovens, aos quais dizia: ‘Não bato em ti, mas no demônio que te tenta’”.
Que julgavam os rapazes do Oratório a respeito desses tapas, tapinhas e bofetadas?
O Cardeal Giovanni Cagliero, que ainda não tinha cumprido os treze anos quando conheceu seu fundador, dá este interessante testemunho: “Estávamos persuadidos de que Dom Bosco sabia que o aluno esbofeteado tinha uma tentação qualquer na cabeça”. E o Pe. Lemoyne, discípulo e biógrafo de Dom Bosco, acrescenta: “Além disso, os alunos estavam bem convencidos de que as bofetadas de Dom Bosco possuíam o poder de fortalecê-los na luta contra o demônio”.
Por favor, dê-me mais uns tapas…
Assim, era comum algum deles pedir a Dom Bosco uma bofetada, que este dava enquanto dizia em tom de gracejo: “Com esta, o demônio não te incomodará mais hoje”. A outro assegurava que durante seis meses não seria perturbado pelo diabo.
Via-se todos os dias algum jovenzinho aflito por qualquer agitação interna aproximar-se dele e, sem nada dizer, apresentar-lhe o rosto à espera de uma palmada, e sair correndo depois de recebê-la, alegre como quem acabava de ser brindado com um grande favor.
E não só os jovenzinhos apreciavam essa singular forma de afastar o demônio. Vejamos o que diz a carta de um clérigo salesiano reproduzida pelo Pe. Lemoyne: “Meu amado pai […]. A última bofetada com a qual o senhor me presenteou continua gravada em minha face. Quando penso nela enrubesço-me e julgo adequado possuir no meu rosto a marca de seus amáveis dedos. Mande-me, por favor, boas bofetadas, eu as espero. Amo mais Dom Bosco do que o mundo inteiro. […] E se alguma tristeza ou mau pensamento me assalta ao longo do dia, basta-me recordar meu caro Dom João para ficar imediatamente livre. Querido Dom Bosco, prostrado diante do senhor, ofereço-lhe tudo quanto possa exigir de mim; dou-lhe tudo. Aceite-me como o menor dos seus servos e não exclua do grande livro dos seus filhos o seu, em Jesus Cristo, Giuseppe Pittaluga”.
Quais eram os verdadeiros esbofeteados?
Dom Bosco tinha em alto grau o dom de discernimento dos espíritos, pelo qual ele via o estado de alma de seus alunos. Conhecia suas tentações e seus pecados, a ponto de com frequência lembrar ao penitente alguma falta esquecida na Confissão. Era também capaz de acompanhar as tentações e maus atos de jovens que estavam inteiramente fora do alcance de suas vistas.
Em 1863 encontrava-se pregando os Exercícios Espirituais em outra casa da congregação, quando viu dois meninos saírem do Oratório às escondidas para banhar-se num rio próximo. Depois de nadar durante certo tempo, entabularam na margem uma conversa sobre temas inconvenientes. Dom Bosco a ouviu e os interrompeu com uma série de vigorosas palmadas nas costas. Assustadíssimos porque não viam o “agressor”, mas sentiam ardente dor nas espáduas, voltaram às pressas ao Oratório.
Na manhã seguinte o diretor, Pe. Alasonatti, recebeu um bilhete de Dom Bosco, comunicando que vira os dois transgressores e lhes dera uma boa lição. O diretor os chamou, e estes reconheceram sua culpa. Ainda lhes doíam as espáduas, tão fortes haviam sido as palmadas recebidas.
Em outra ocasião, Dom Bosco perguntou a um dos jovens que o rodeavam:
— Você não se lembra de ter recebido em tal dia um tapa dado por mão invisível?
Muito surpreso, o interpelado respondeu que sim e indagou como Dom Bosco tomara conhecimento do fato. Este se limitou a fazer outra pergunta:
— E que fazia você naquele momento?
Vendo o rosto do rapazinho se enrubescer como uma brasa, tomou-o à parte e o tranquilizou, dizendo-lhe ao ouvido algumas poucas palavras de advertência e de alento.
* * *
Os episódios acima relatados deixam claro quão profusamente usava Dom Bosco o dom de cercear a ação do espírito maligno sobre os birichini do Oratório por meio de tapas e bofetadas, e como seus jovens alunos recebiam aqueles golpes como valioso favor. Os espíritos infernais, ao contrário, as detestavam. Melhor prova não pode haver de que eles eram os verdadeiros prejudicados.
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 188, agosto 2017.
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