A mediocridade e a via do heroísmo
“O sorriso cético e ressentido dos medíocres jamais conseguirá deter a marcha vitoriosa dos que têm fé”.
Redação (20/01/2023 17:25, Gaudium Press) Uma característica inconfundível do medíocre é viver enjaulado, por vontade própria, atrás das grades de expectativas estreitas e terrenas. Ele se torna vítima de uma espécie de maldição da banalidade, pela qual os horizontes sobrenaturais lhe sobrepujam, causando antipatia e torpor.
A mediocridade configura-se como uma das principais causas da incredulidade. A virtude da fé abre a inteligência do homem para os horizontes infinitos e grandiosos da Revelação, à maneira de uma ponte que liga a terra ao Céu.
Pelo contrário, para quem vive, como as galinhas, voltado para o chão a procurar o alimento que sacia o ventre, essas perspectivas sobrenaturais causam enfado, implicância e, finalmente, repulsa.
Onde falta fé, os milagres não suprem sua ausência, como vemos em nossa sociedade. Quem não sabe das inexplicáveis curas ocorridas em Lourdes? Enfermos desenganados voltam sãos, depois de terem permanecido em oração confiante à sombra da Gruta de Massabielle. Tantos conhecem esses prodígios, mas quão poucos creem e se convertem de coração!
A espada da verdade e a fúria da mediocridade
“Repreende o justo e ele te amará” (Pr 9, 8), diz a Escritura. No entanto, se for um injusto, a repreensão o moverá ao ódio. A mediocridade se baseia num alto conceito de si mesmo, num orgulho larvado e complacente que leva o coração humano a se sentir satisfeito consigo, numa vidinha deleitosa e banal.
Por isso o medíocre tem aversão a qualquer gênero de crítica, e reage como um animal feroz contra quem ousa lhe formular a mais leve censura.
A mediocridade é a grande inimiga da magnanimidade, virtude ligada à fortaleza que manifesta com especial fulgor a imensidade do poder e do amor de Deus. Em sua vida pública, Nosso Senhor apresentou-Se enquanto a Grandeza Encarnada, deixando ver de modo rutilante a sobrenaturalidade de sua missão e sua origem divina: tratava-se do Verbo gerado pelo Pai, desde toda a eternidade, e feito Homem no seio virginal de Maria Santíssima.
E a Cruz foi o preço pago pelo Filho de Deus por ter ousado brilhar dessa forma aos olhos de homens afundados no pântano hediondo e emoliente da mediocridade.
O confronto entre a espada da verdade e a fúria bestial da mediocridade mostra bem que o apostolado se faz num campo de batalha no qual os inimigos mais ferozes podem ser aqueles que, na aparência, apresentam-se como cordatos e pacíficos.
Nesse sentido, o apóstolo católico deve ter seu olhar interior aceso, vigilante e atilado, pronto para reconhecer os que escutam as verdades rutilantes do Santo Evangelho com autêntico enlevo e, pelo contrário, os que desejam permanecer adormecidos na noite de seus pecados. Estes serão seus mais terríveis adversários.
Cheio de coragem, como imitador da Sabedoria Encarnada, precisa ele incentivar os bons e repreender os maus, consciente das consequências que se seguirão: o ódio, a luta, o risco e, às vezes, o martírio.
Pão e circo
O mundo de hoje jaz, em boa medida, sob a tirania da mediocridade. O “pão e circo” dos romanos decadentes continua a ser, numa versão modernizada, a moeda com que o mundo compra a cegueira voluntária das multidões.
Dinheiro, diversão, prazer, comodidade, avanços tecnológicos e outras vaidades enchem as expectativas bitoladas de milhões de pessoas que, quais novos Esaús, renunciam a voar pelos nobres e árduos horizontes da Fé a troco de um banal prato de lentilhas. Deles São Paulo afirma “que se portam como inimigos da Cruz de Cristo, […] cujo Deus é o ventre” (Fl 3, 18-19).
O resultado de tal prevaricação está diante de nossos olhos: quando se presenciou na História da humanidade uma crise moral mais dramática e devastadora que a de nossos dias? Os Mandamentos Divinos, sem exceção, são conspurcados da forma mais abominável por parte das massas inertes, escravas da mediocridade.
Não podemos, porém, desanimar, pois a verdade será a vencedora!
Abracemos a via do heroísmo!
Ao Se deixar imolar na Cruz e ressuscitar glorioso, Nosso Senhor feriu de morte a mediocridade e fez surgir em sua Igreja uma estirpe de heróis capazes das mais santas audácias a fim de implantar no mundo a obediência à Lei Divina.
Sim, uma miríade de varões e damas foram capazes de, com desprezo pelos mesquinhos aconchegos mundanos, dar a vida para tornar esta terra uma imagem do Céu e conquistar a eternidade.
Por isso podemos afirmar, parafraseando um pensamento de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, que “o sorriso cético e ressentido dos medíocres jamais conseguirá deter a marcha vitoriosa dos que têm fé”.
Somos convidados a fazer parte dessa coorte radiante e magnífica dos que seguem a Nossa Senhor Jesus Cristo pelo caminho sangrento do Calvário, com a firme certeza da vitória final.
Nossa Senhora prometeu em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Façamos dessas palavras o nosso estandarte de guerra e combatamos por Ela as batalhas do apostolado, sabendo discernir a ação da graça que, em meio ao lodaçal moderno, vai fazendo germinar um lírio alvíssimo e incontaminado.
Esse lírio será capaz de vencer com seu fulgor irresistível as trevas da noite, e de domar com sua pureza militante o furor da tempestade. Dele nascerá a ordem sacral, hierárquica e altamente perfeita do Reino de Maria.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.241, janeiro 2022.
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