Na caravana dos Reis Magos…
É possível que, em algumas circunstâncias, nuvens espessas nos impeçam de contemplar o brilho sacrossanto da Santa Igreja. Neste momento, o que devemos fazer? O mesmo que fizeram os três Reis Magos quando deixaram de ver a estrela.
Redação (08/01/2023 18:58, Gaudium Press) Após as festividades natalinas, tão doces e inocentes, uma dúvida poderia assomar-se ao espírito de muitas pessoas. Com o nascimento de Nosso Senhor, tornou-se verdadeiramente patente a sua humanidade; entretanto, como se poderia conceber que aquele Menino, tão débil e frágil, reclinado no presépio, era ao mesmo tempo Deus?
Na verdade, bastaria folhear um pouco as páginas do Evangelho para sanar esta dificuldade, pois que outra criança houve na História cujo nascimento fosse anunciado e cantado por Anjos?
Mas a misericórdia de Deus é de tal modo incalculável que Ele conduziu os acontecimentos de modo a incutir fé até mesmo nas almas mais céticas. É exatamente isto que a Igreja comemora na solenidade de hoje: a Epifania.
A visita dos Reis Magos
“Epifania” vem do grego, e significa “manifestação”. Liturgicamente, hoje é o dia em que a divindade de Nosso Senhor foi manifestada aos olhos das nações, representadas em três misteriosas e atraentes figuras.
Alguns dias após o nascimento do Salvador, três Reis Magos vindos do Oriente chegaram em Jerusalém perguntando:
“Onde está o Rei que acaba de nascer? Nós vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo” (Mt 2,1-2).
Herodes soube da inesperada visita. Temoroso por sentir seu trono abalado, mandou perguntar aos Sumos Sacerdotes e Mestres da Lei onde o Messias deveria nascer. Responderam-lhe, então: “Em Belém”.
Logo, o rei chamou os Magos em segredo e quis informar-se detalhadamente sobre a misteriosa aparição da estrela. Depois enviou-os a Belém, dizendo:
“Ide e procurai obter informações exatas sobre o Menino. E, quando O encontrarem, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo” (Mt 2,8).
Realmente, os Magos encontraram o Menino. É patente que, pelo menos por alguns instantes, eles deixaram de ver a estrela, como o prova esta passagem do Evangelho de hoje:
“Ao verem de novo a estrela, os Magos sentiram uma alegria muito grande ” (Mt 2,10).
Enfim, viram o Menino com Maria e José, ajoelharam-se diante d’Ele e O adoraram, oferecendo-lhe seus presentes: ouro, incenso e mirra. Os Magos foram avisados por um Anjo de que o rei Herodes não tinha a intenção de adorar o Menino que nascera; cheio de inveja, seu desejo era matá-Lo. Com efeito, Herodes ficou esperando por eles até hoje…
A estrela que nos conduz à Belém eterna
A história é atraentíssima, cheia de pormenores interessantes que constituiriam matéria para artigos durante um ano inteiro, mas nós não tiraríamos todo o proveito deste Evangelho se não o aplicássemos à nossa vida.
Cada um de nós está presente nesta caravana dos Reis Magos. Estamos de passagem por esta terra a caminho do encontro eterno com aquele mesmo Menino que nascera em Belém. Entretanto, o único meio de chegarmos até Ele é seguir a estrela.
Casos houve na História em que navegadores, perdidos nas terríveis e ameaçadoras vagas dos oceanos, alcançaram a salvação através de uma única estrela. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Shackleton e sua tripulação. Em 1914, numa expedição ao Polo Sul, houve uma ocasião em que, no meio de um mar encapelado e sob um céu toldado de nuvens, só conseguiram encontrar o caminho de volta para a vida porque o sol apareceu por alguns segundos, permitindo-lhes medir a posição em que estavam.[1]
Inúmeros outros fatos poderiam ser citados, todavia, uma das principais funções das estrelas é guiar os passos dos homens. Ora, entre todas elas, nenhuma tem comparação com aquela que nos conduz à salvação eterna: a Santa Igreja Católica. Nenhum astro poderia equiparar-se a Ela em beleza e esplendor.
Sua luz é inextinguível, como afirmou o próprio Jesus. Entretanto, é possível que nuvens espessas nos impeçam de contemplar o brilho sacrossanto do Corpo Místico de Cristo. Neste momento, o que devemos fazer? O mesmo que fizeram os Reis Magos quando deixaram de ver a estrela: confiar que, mesmo atrás das nuvens, ela continua a brilhar e que, em certo momento, se fará novamente visível a nós e nos permitirá encontrar o caminho do Céu.
Fixemos o olhar nesta estrela, pois ela é para nós “a alegria da existência, a segurança e a certeza dos nossos passos, a sustentação do nosso entusiasmo e do amor a Deus. Sobretudo, esta estrela é a garantia de uma eternidade feliz. Quem a ela se abraçar terá conquistado a salvação, quem se separar dela seguirá por outros caminhos e não chegará à Belém eterna, onde está aquele Menino, agora sim, glorioso e refulgente pelos séculos dos séculos”.[2]
Por Lucas Rezende
[1] Cf. LANSING, Alfred. A incrível viagem de Shackleton. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 285.
[2] CLÁ DIAS, Jõao Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. Città del Vaticano: LEV, 2013, v. 1, p. 157.
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