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Frei Galvão: tu és a grande honra de nosso povo!

 “Animam suam in manibus suis semper tenens”, bela frase esculpida em seu túmulo. Nunca deixou nenhuma glória do mundo tocar em sua alma e sempre esteve com ela em suas mãos.

Santo Antonio de SantAna Galvao

Redação (23/12/2022 14:57, Gaudium Press) No dia de hoje, completam-se 200 anos de falecimento do primeiro Santo brasileiro: Santo Antônio de Sant’Ana Galvão.

Antônio nasceu no ano de 1739, na pequena vila de Guaratinguetá, em São Paulo, tendo como pais Antônio Galvão de França, um português que se dedicava ao comércio, e Isabel Leite de Barros.

“Se foi meu filho quem a deu, está bem dada!”

Desde sua mais tenra infância, Antônio demonstrou uma grande nobreza de alma ao se compadecer dos mais necessitados. Conta-se que, certa vez, uma pobre senhora bateu à porta de sua casa pedindo uma esmola. Não sabendo o que oferecer, o pequeno encontrou uma fina toalha elaborada com distinto material e a deu à indigente. Muito agradecida, a senhora se retirou com a satisfatória “esmola”.

Passaram-se alguns dias e ela, como sentisse pesar a consciência por haver recebido tecido tão rico de uma criança que mal sabia avaliar o valor das coisas, retornou à casa de seu beneficiário a fim de lhe restituir o material. Desta vez quem abriu a porta foi Isabel. A senhora insistia para que aceitasse de volta a nobre peça, mas Isabel apenas disse: “Se foi meu filho quem a deu, está bem dada!”.

Ingresso na vida religiosa

Aos treze anos de idade, já instruído nas primeiras letras, foi levado por seus pais para estudar em um seminário jesuíta em Belém do Pará, onde poderia adquirir melhor formação que na pequena Guaratinguetá. Antônio só voltaria a ver seus familiares seis anos mais tarde. Este período de seminário foi importantíssimo para que se confirmasse na alma do santo o chamado à vocação religiosa.

 Regressando a São Paulo, já com dezenove anos, decidiu ingressar no Convento franciscano de Santa Clara, em Taubaté, mas sua entrada não foi possível. Era preciso fazer o noviciado no Rio de Janeiro, no convento de São Boaventura em Macacu. A cerimônia de votos ocorreu a 16 de abril de 1761, presidida por Frei José da Madre de Deus Rodrigues. Após isso, Galvão foi enviado ao convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro. Lá haveria de ser ordenado sacerdote em junho do ano seguinte, para depois retornar a São Paulo, onde, alguns anos depois, em 1766, se consagraria à Santíssima Virgem, por quem conservava viva e terna devoção.

O divino anseio: construção de um convento

Em São Paulo, Frei Antônio recebeu o encargo de confessor no Recolhimento de Santa Teresa, então única comunidade de religiosas existente na cidade. Ali conheceu a Ir. Helena Maria do Sacramento, freira galardoada pela Providência com dotes místicos e grande santidade. Apenas com o santo sacerdote é que ela veio a revelar muitas de suas visões sobrenaturais, dentre as quais uma se destacava: Nosso Senhor Jesus Cristo pedia, Ele próprio, que se fundasse ali uma nova casa de vida religiosa.

Entretanto, muitos obstáculos se interporiam à realização do divino anseio…

Em meio à adversidade, paz e coragem

Na época, iniciava-se uma perseguição religiosa no local, e a fundação de um convento granjearia a antipatia de muitos em São Paulo. Era um empreendimento arriscado. Mas a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo encontrou eco na alma de seu amigo, Frei Galvão, que, sem titubear, se lançou na difícil empresa. Em 1774, com aprovação eclesiástica e civil, inaugurava-se a pequena casa que serviria de convento por alguns anos, no bairro da Luz.

Como faz com todas as obras de Deus, o demônio pôs-se a planejar, de pronto, a destruição do novo convento. Em 1775 subiu, ao governo de São Paulo, Martim Lopes Lobo de Saldanha. Este novo capitão-general buscou de todos os modos arruinar a fundação. Conseguiu, enfim, o consentimento do bispo da região em ordenar o fechamento do local. Nosso santo o que fez? Tendo recebido a dramática notícia, dirigiu-se, com aquela confiança em Deus que caracteriza as almas santas, ao convento. Bem sabia ele que as obras de Nosso Senhor, à semelhança d’Ele, ainda que morram, hão de ressuscitar.

Celebrou a Santa Missa na comunidade e, terminada esta, sem nenhuma manifestação de revolta, deu a fatídica notícia às irmãs. Algumas foram levadas por seus pais para a casa novamente, outras se instalaram no Recolhimento de Santa Teresa e apenas sete, que eram as mais próximas da Irmã Helena – já falecida –, fecharam o convento, obedecendo a ordem superior, mas permaneceram dentro…

Por mais de um mês, prolongou-se a milagrosa estadia das religiosas no convento fechado. Viviam em orações e penitências durante todos os dias. Em certo momento veio a faltar água, mas, no mesmo dia, caiu uma chuva torrencial que abasteceu o convento pelo restante da inusitada estadia. Elas se alimentavam apenas de morangas que misteriosamente cresciam nos jardins em quantidade durante este período.

A fundação ressuscita

Passado este tempo, ouviram batidas na porta do convento e uma voz conhecida que dizia: “— Irmã Gertrudes, Irmã Teresa, Irmã Conceição estão aí?” Era Frei Galvão que retornava com a notícia da “ressurreição” do Recolhimento. O que havia acontecido? Um mês antes, Martim Lopes havia enviado ao vice-rei, que se encontrava no Rio de Janeiro, um relatório atacando o Recolhimento da Luz. A resposta foi uma severa repreensão ao inimigo de Frei Galvão, e a ordem de reabertura do convento.

Com a ressurreição da comunidade, começaram a ingressar numerosas vocações, ávidas de uma grande entrega de suas vidas a Nosso Senhor. Tanto foi assim que, neste período, o convento passou a ser conhecido como o “Viveiro de Santas”. Ora, como a pequena residência não era capaz de conter mais tantas pessoas, iniciaram a construção de uma nova casa.

O célebre Mosteiro da Luz, localizado hoje na Av. Tiradentes, em São Paulo, começou a ser construído e, quatorze anos após o início das obras, em 1788, passou a alojar as freiras. A construção foi concluída em 48 anos, e dentre os trabalhadores, um deles era o próprio Frei Galvão, que só pôde contemplar o término da obra da eternidade, pois faleceu em 1822, deixando a torre por concluir.

Para a construção deste convento era necessário arrecadar doações. Frei Galvão percorreu várias aldeias de São Paulo com esta intenção, entretanto, via-se que prezava muito mais pelas almas que por seu objetivo imediato.

Reconciliando rivais de forma inusitada

Em Itu, havia duas famílias profundamente rivais. Não havia esperança de que fizessem as pazes… Sabendo disso, o santo anunciou que iria pregar em uma determinada Igreja do local e, ao chegar ao púlpito, passou a discorrer sobre a beleza da Caridade. Em determinado momento, o pregador interrompeu seu fio lógico e disse:

— O culpado de não vos reconciliardes sou eu, porque não soube dizer-vos, com a pobreza de minhas palavras, o quão grande e divina é a caridade”. E se pôs a flagelar. Basta dizer que os membros das famílias inimigas se abraçaram logo em seguida!

Tal era o apostolado que fazia Frei Galvão com toda a população dos locais por onde passava que ninguém queria sua partida.

Certo dia, o implicante Martim Lopes decidiu expulsar Frei Galvão de uma cidade, por ter defendido um homem falsamente considerado criminoso. Entretanto não foi possível… Toda a população se amotinou no palácio de Martim e este teve de revogar a ordem dada.

“O fim coroa a obra”

Toda a vida de Frei Galvão foi de uma entrega total de si mesmo aos outros. E como é impossível contar tantos fatos em limitado espaço, passemos para o final de sua vida. Como diz o provérbio latino: “Finis coronat opus”, o fim coroa a obra.

As forças físicas, em determinado momento, começaram a lhe faltar. Contava ele a avançada idade de 84 anos. Como não conseguisse mais caminhar do Mosteiro de São Francisco, onde residia, até o Convento da Luz, seus superiores autorizaram-no a morar na Capela-mor de sua fundação. Chegando lá, escolheu um pequeno espaço nos fundos do local e colocou ali uma cama paupérrima. E assim passou neste lugar, seus últimos dias de vida. No dia 23 de Dezembro de 1822, dois dias antes do Natal do Senhor, o primeiro Santo brasileiro nascia para a Eternidade.

Quanta glória traz para o Brasil a história deste Santo!

Animam suam in manibus suis semper tenens”, bela frase esculpida em seu túmulo. Nunca deixou nenhuma glória do mundo tocar em sua alma e sempre esteve com ela em suas mãos, nos ensinando que a única glória que devemos procurar é a glória de Deus.

Por Gabriel Denkiewicz

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