No cume do Tepeyac, uma manifestação de amor e carinho maternal
Hoje, 12 de dezembro, comemoramos a Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina, cuja devoção remonta a fatos acontecidos há quase cinco séculos.
Redação (11/12/2022 10:16, Gaudium Press) Os episódios sucedidos em 1531, até hoje, de forma singular, são lembrados pelas populações católicas de um continente inteiro e, de certo modo, por todo o mundo.
Excepcional aparição
Os fatos mais significativos se passaram com o índio Juan Diego, a quem a Santa Virgem apareceu diretamente,[1] e estão narrados no Nican Mopohua.[2]
A primeira aparição ocorreu num dia em que Juan caminhava ladeando a colina chamada Tepeyac, onde começou a escutar cantos de diversos pássaros, que mais pareciam cantos de anjos do que de animais. Após sentir-se como que transportado ao Céu, ouviu uma voz ainda mais angélica que o chamava: “Juanito, Juan Dieguito”.
Sem temor algum, subiu em direção à voz que o chamava. Chegando ao topo da colina, viu uma nobilíssima donzela, que excedia qualquer tipo de beleza ou perfeição. A sublime Senhora lhe expôs o motivo de estar ali. Primeiro lhe revelou quem Ela era verdadeiramente: a Venerável Mãe de Deus, Santa Maria Virgem, e logo lhe expressou o seu anseio de que edificassem uma “casinha sagrada” naquele mesmo lugar, pois ali Ela daria a conhecer o seu Divino Filho às gentes; nesse local demonstraria a sua misericórdia para com a humanidade, escutaria todos os prantos, os pedidos e as súplicas que lhe dirigissem; sanaria todas as dores, dificuldades e misérias dos que d’Ela se aproximassem; e ajudaria àqueles que realmente a chamassem, a buscassem ou que nela confiassem.
Em seguida, a Santa Virgem encarregou Juan de uma missão. Ele precisaria se dirigir ao palácio do Bispo local, e lá contar-lhe tudo quanto tinha visto e ouvido, sobretudo o tocante ao templo sagrado. Por último, prometeu-lhe que, se assim fizesse, ela mesma lhe retribuiria todo o esforço empreendido.
Tendo ouvido o anseio da Santa Senhora, o índio imediatamente partiu para cumpri-lo. Chegando ao palácio episcopal o Bispo o fez entrar e, ao ouvir todo o relato, não lhe deu muita atenção… acrescentou que viesse outro dia.
Juan Diego, esmorecido, saiu diretamente a fim de contar o resultado da missão à sua Senhora. Disse-lhe que o Bispo não o tinha escutado, e lhe implorou que escolhesse alguém de renome para cumprir tão alta missão. Porém, a Virgem Santíssima já o havia escolhido como instrumento seu, e não voltaria atrás. Ela insistiu que ele mesmo o fizesse, e que não desanimasse.
Um sinal: rosas em pleno inverno
Tendo aceitado, Juan se apresentou ao Bispo novamente, no dia seguinte, e voltou a lhe expor o sucedido. Felizmente, desta vez o Bispo lhe deu atenção, e tendo indagado quanto podia, disse-lhe que só seria possível realizar o seu pedido com um sinal claro que demonstrasse a veracidade de tais fatos. De sua parte, o índio garantiu que isto seria pedido à Venerável Senhora que o enviava.
Tendo visto a convicção de Juan Diego, o prelado fez que alguns dos seus ajudantes o seguissem, a fim ver para onde se dirigia e com quem falava. Mas, enquanto eles o seguiam, perderam-no de vista… Irritados, voltaram para junto do Bispo para persuadi-lo de que se tratava de um impostor.
Juan, por sua vez, dirigiu-se ao topo do Tepeyac, onde a Santíssima Virgem o esperava. Ela mesma garantiu que ele receberia, no dia seguinte, o sinal almejado.
Entretanto, de volta à sua casa, Juan Diego encontrou seu tio, Juan Bernardino, mal à morte, implorando a assistência de um sacerdote.
Por isso, ao romper da aurora, Juan Diego partiu apressadamente ao povoado mais próximo, desviando da colina do Tepeyac, a fim de que a Virgem não o detivesse… Mas desta vez a Rainha dos Céus veio a seu encontro, tranquilizando-o e consolando-o, afirmando que Bernardino já estava curado.
Juan Diego, deixando nas mãos d’Ela a sorte de seu tio, pediu-lhe então o esperado sinal a ser levado ao Bispo da região. Foi então que a Virgem o mandou subir a colina e lá, no topo, recolher algumas rosas em pleno inverno! Para sua surpresa, lá havia rosas em quantidade crescendo em meio ao gelo e espalhando um agradável perfume. Ele então as colheu, depositando em seu manto, desceu a colina e as apresentou a Nossa Senhora; ela, tendo-as visto, tomou-as e logo as depositou novamente no manto, acrescentando ser esse o sinal esperado e pedindo-lhe que não as mostrasse a ninguém antes de fazê-lo ao Bispo.
Por fim, o milagre
Exultando de alegria, o índio saiu rumo ao palácio episcopal. Chegando lá, estavam aqueles mesmos ajudantes do Bispo, que o tinham seguido sem sucesso. Como estavam aborrecidos com Juan Diego, não permitiram que ele passasse. Então, não tendo outro remédio, o índio lhes fez ver as rosas que trazia no manto; e admirados por ver flores em dezembro, tentavam pegá-las, mas não conseguiam, pois elas como que se fundiam ao tecido à maneira de pinturas ou bordados.
Assombrados, foram contar ao prelado tal acontecimento; e ele o fez entrar. Tendo narrado todo o ocorrido e apresentado o anseio da Virgem Santíssima, Juan Diego lhe mostrou o sinal: estendeu seu manto e caíram todas aquelas rosas, e viram como no mesmo manto aparecera a imagem milagrosa da Santa Mãe de Deus. Todos louvaram a Deus, e o Bispo tomou o manto de Juan Diego para levá-lo à capela, a fim de que fosse venerado.
Passou-se o tempo, e construíram uma basílica em veneração e honra da Santa Mãe de Deus, cuja imagem se delineara naquele humilde manto de um índio que se tornou santo: São Juan Diego.
É desde a basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina, que graças e favores — quais novas rosas crescidas em lugares inóspitos — são derramados de modo copioso sobre quantos a veneram.
Por Daniel Lozano
[1] Informações extraídas de: VELÁZQUEZ, Primo Feliciano. Flor y canto del Tepeyac, historia de las apariciones de Santa Maria de Guadalupe. Xalapa (Veracruz): Servir, 1981.
[2] Texto em língua Nahuatl, idioma local, que relata os fatos relevantes à aparição de Guadalupe; literalmente significa “Aqui se narra”, pois assim começa o texto em dita língua.
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