Cristo Rei, Igreja Rainha
Aproveitemos esta solenidade para festejar também a Santa Igreja, que é a Rainha do Mundo.
Redação (20/11/2022 09:59, Gaudium Press) “Viva Cristo, Rei! E sua Mãe Santíssima, Rainha!” É o brado que ecoa através das ruas e praças por onde passam as procissões católicas. Sim, Cristo é Rei: Rei dos homens e Rei do Universo.
A realeza absoluta de Cristo[1]
Cristo é Rei, em primeiro lugar, por direito de herança: “Ele é o unigênito Filho de Deus e por Este foi constituído como herdeiro universal, recebendo poder sobre toda a criatura, no mesmo dia em que foi engendrado (Cf. Hb 1,2-5) ”.[2]
Entretanto, comumente não se aplica a qualidade de “Rei” ao Pai e ao Espírito Santo, sendo que, com o Filho, ambos formam uma só indivisa Trindade. Por quê?
Uma das características quase indispensáveis de um rei é a de ter nascido na mesma nação que desejar guiar. Podemos imaginar como seria descabido que, por exemplo, um argentino, um mexicano ou um boliviano governasse o Brasil. Pois bem, embora o título de “Rei dos homens” se possa aplicar analogicamente às três Pessoas da Santíssima Trindade, ele cabe mais propriamente ao Filho, uma vez que Ele se encarnou, tornando-se Homem como nós, exceto no pecado. Portanto, Ele também é Rei por ser Homem-Deus.[3]
Além disso, quando adquirimos um objeto à custa de dinheiro, dizemos que o possuímos por direito. Ora, fomos resgatados das garras do demônio por Cristo e “comprados” por Seu preciosíssimo Sangue Redentor, como diz São Paulo: “Fostes comprados por um grande preço!” (1Cor 6,20). Portanto, nosso Senhor também é Rei por direito de conquista, pelos seus sofrimentos.
Por fim, Cristo é Rei por aclamação, Rei de todas as exterioridades e Rei do interior dos homens. Através de sua superabundante graça, nós O elegemos para reinar em nossos corações. Recebemos o Santo Batismo, O reafirmamos por ocasião de nossa Crisma e O renovamos de modo solene a cada páscoa. Ele também governa todas as exterioridades: pelo poder arrebatador de seu exemplo, de suas máximas e parábolas, de suas revelações, conselhos e ensinamentos, seu domínio e influência se estendem aos povos de todos os tempos e sobre a sua Igreja.
Em nosso interior, o Reinado de Cristo se estabelece pela participação em sua vida divina. Somente n’Ele se encontra a plenitude da graça e, como fazemos parte de seu Corpo Místico, todas as graças que recebemos têm sua origem n’Ele. Este é o ponto primordial de seu governo neste mundo: o reinado sobrenatural, realizado, na sua essência, através da graça e da santidade.
Portanto, na plenitude do termo, podemos dizer que Cristo é Rei, Rei dos homens e Rei do Universo!
Entretanto, é natural que haja uma cerimônia de coroação para os reis. Quando foi realizada a de nosso Senhor?
Uma coroação ímpar
“Naquele tempo, os chefes zombavam de Jesus” (Lc 23,35). Assim se inicia o Evangelho de hoje, e a sua continuação nada mais é do que a narração do desenrolar da Paixão. Dir-se-ia que está em total desarmonia com a presente solenidade, visto que é próprio a um rei dominar, vencer e triunfar.
Na realidade, quem tem olhos sobrenaturais percebe que, com os seus sofrimentos, Cristo dominava, vencia e triunfava sobre o pecado, a morte e o demônio. Mais ainda: a realeza de Cristo atingiu uma plenitude que não podemos cogitar – infinita – na hora de sua morte. A Paixão foi, pois, a cerimônia de coroação de nosso Senhor.
Mas quão peculiar, ímpar e única foi essa coroação. Ela não era feita de ouro, mas de espinhos. Entretanto, que coroa houve na História que contivesse pedras preciosas mais refulgentes do que o próprio Sangue do Redentor? O seu cetro era uma simples cana. Seu manto real era, na verdade, um manto de irrisão, um manto que cobria a sua nudez. Por fim, seu trono era a Cruz!
Quantas outras coroações não houve ao longo da História; entretanto, nenhuma marcou tão a fundo mentes e corações quanto esta. Desde esse dia, quem quiser ser lembrado pelas gerações futuras, sendo rei ou não, deve saber manejar o timão do sofrimento e da Cruz de Cristo.
Comemoremos também a Rainha
Não podemos, de modo nenhum, encerrar estes comentários sem dizer algumas palavras a respeito da Esposa deste Rei. A bela, nobre, santa e imaculada Rainha que nasceu do lado aberto do Senhor: a Santa Igreja, Católica, Apostólica e Romana.
Ela vive, aterrorizada, dias terríveis de sua existência. Combatem-Na com uma fúria nunca antes vista; perseguem-Na com inédita sanha ardilosa; deformam-Na, zombam d’Ela e A ultrajam.
Todavia, não devemos analisar tal situação somente com olhos de tragédia e de angústia. A exemplo de seu Divino Esposo, esta é a hora de sua coroação triunfal. Aproxima-se a passos largos o momento de sua “Ressurreição”, pois Ela não pode morrer.
Encontramo-nos diante desta grandiosa conjuntura. Nós, que somos filhos da Igreja, filhos de Cristo, que posição tomaremos? O Evangelho de hoje nos oferece dois caminhos: o do bom ladrão ou a do mau ladrão
O segundo, mesmo sofrendo e à beira da morte, uniu-se às injúrias daqueles que crucificavam o Bom Mestre.
Já o primeiro, arrependido, não aceitou tais ultrajes e se pôs a defender o Salvador; pediu-lhe perdão por seus pecados e disse-Lhe: “Lembra-Te de mim quando entrares no teu reinado” (Lc 23,42). O Senhor lhe respondeu: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
Diz-se, jocosamente, que este ladrão – São Dimas – foi tão exímio em sua profissão que roubou até o Céu. Na verdade, deu-se outra coisa: seu arrependimento foi tão sincero que ele não se contentou em pedir perdão, mas tomou a defesa de nosso Senhor. É exatamente isto o que devemos fazer.
Aproveitemos, pois, esta solenidade para festejar também a Igreja, que é a Rainha do Mundo. Saibamos ver n’Ela, não obstante, os inúmeros golpes que recebe, a sua verdadeira face imaculada. Amemo-La de todo o coração e tenhamos presente que todo aquele que se põe ao seu lado e toma a sua defesa contra os seus inimigos, poderá ouvir, em paz, a mesma promessa que Jesus fizera ao bom ladrão: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Cf. Lc 23,43).
Por Lucas Rezende
[1] Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. Città de l Vaticano: LEV, 2012, v. 6, p. 489-492.
[2] Idem, p. 489.
[3] Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, Santo. Enarratio in psalmum V, n. 3. In: Obras. Madrid: BAC, 1964, v. XIX, p. 35-36.
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