Solenidade de Todos os Santos: festa nos Céus e na Terra
Confirmados pela testemunha de tantos e tantas que nos antecederam na conquista dos bens eternos, cabe a nós, em especial no dia de hoje, seguir os seus exemplos para que possamos no fim de nossas vidas, pela intercessão da Rainha de todos os Santos, Maria, receber uma recompensa imerecida nos Céus.
Redação (01/11/2023 08:03, Gaudium Press) Hoje, no Brasil, a Liturgia festeja a todos quantos nos precederam com o sinal da fé e se encontram, por fim, na no monte do Senhor (cf. Sl 23,2). Tantos são os que povoam a mansão celeste, que foi instituído pela Igreja um dia específico à glorificação deles, em seu conjunto.
Somos assim convidados a nos alegrar pelo fato de sermos irmãos destes que agora são merecedores de tanta honra e louvor, e, sobretudo, nos lembrar que eles nos auxiliam a cada passo de nossa vida terrena; donde, quanto mais implorarmos tão caro patrocínio, tanto mais eles intercederão em nosso favor.
Um chamado para todos os fiéis
Uma verdade fundamental nos é apresentada com esta solenidade: nós não fomos feitos para esta terra, pois o nosso destino é eterno; e fomos criados para gozar das bem-aventuranças celestes, vendo a Deus face a face. Nesta terra, porém, enquanto peregrinamos na penumbra da fé, a contemplação dos membros da Igreja Gloriosa nos serve de alento para caminharmos pressurosos rumo ao Céu.[1] Eles são, portanto, modelos de vida para nós.
Vemos na primeira leitura uma imagem dessa realidade: São João nos relata que, na sua visão, contemplou “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro” (Ap 7,9). Eis a meta que é estabelecida para todos os homens, a de serem daqueles que tenham na fronte a marca dos servos de Deus (cf. Ap 7,3).
Para isto, é preciso corresponder à imensa graça recebida pelo Criador em virtude do Batismo, consoante ao que nos afirma a segunda leitura, também de São João: “Eis o grande presente de amor que o Pai nos deu, o de sermos chamados filhos de Deus” (cf. 2 Jo 3, 1). Com efeito, a graça santificante que nos é infundida pelo Batismo nos transforma a tal ponto que, por assim dizer, todo o nosso sangue vê-se substituído pelo “sangue divino”,[2] ou seja, somos ontologicamente aperfeiçoados.
Contudo, a infusão da graça santificante marca apenas o início do caminho rumo ao Céu, o qual atingirá seu termo quando contemplarmos a Deus face a face, após nosso juízo particular. Logo, com o Batismo todos recebemos o chamado à santidade.
Bem-aventuranças: paradigma da santidade
Ora, Deus nunca exige de nós algo sem nos dar os meios para realizá-lo. Por esta razão, no Evangelho de hoje, nosso Senhor nos indica a via a ser seguida rumo à santidade: a prática das bem-aventuranças. “De fato, elas são o resumo de toda a moral católica, de toda a via de perfeição, de toda a prática da virtude, e se neste dia comemoramos as miríades de santos que habitam o paraíso celeste, é porque eles realizaram em sua vida aquilo que o Divino Mestre delineia como causa de bem-aventurança”.[3]
A título de menção, vemos tal santidade na vida de São Francisco de Assis, que levou a pobreza de espírito a extremos admiráveis, merecendo assim o Reino dos Céus; ou em Santa Mônica, cujas orações incessantes pela emenda da vida de pecado que levava o seu filho Agostinho, seguiu-se uma consolação ímpar, ao vê-lo se converter e rumar para a santidade.
Mas podemos ainda louvar São Martinho de Porres por sua mansidão exímia, que o fez possuidor dos favores celestes; admirar Santo Elias, ao contemplar o seu zelo pelo Senhor dos exércitos (Cf. 2 Rs 1,9-13); proclamar os méritos de São Luís Gonzaga ou de Santa Maria Goretti que, puros de corpo e coração, desfrutam agora da visão beatífica.
Enfim, confirmados pela testemunha de tantos e tantas que nos antecederam na conquista dos bens eternos, cabe a nós, em especial no dia de hoje, seguir os seus exemplos para que possamos no fim de nossas vidas, pela intercessão da Rainha de todos os Santos, Maria, receber uma recompensa imerecida nos Céus.
Por Jerome Sequeira Vaz
[1] Cf. SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS. Prefácio. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 692.
[2] Cf. ROYO MARÍN, Antonio. Somos hijos de Dios: Misterio de la divina gracia. Madrid: BAC, 1977, p. 21.
[3] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: Comentários aos Evangelhos dominicais. Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano, 2013, v. 7, p. 232.
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