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Admiração: a árvore de Zaqueu

       A admiração é a árvore que Deus plantou em nossas almas para que possamos contemplá-Lo. De nossa parte, resta-nos apenas subir até ela como fez Zaqueu, o cobrador de impostos.

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Redação (30/10/2022 09:38, Gaudium Press)Naquele tempo, Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo” (Lc 19, 1-3).

O que fez, então, Zaqueu? Correu à frente e subiu em uma figueira. Jesus o viu, chamou-o e disse que iria ficar em sua casa naquele dia. Ao fim da visita, o Mestre disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 9-10).

Este é o Evangelho de hoje. Contudo, isso que se passou com Zaqueu repete-se conosco em inúmeras ocasiões: não conseguimos ver o Salvador, por causa da multidão. Mas Deus plantou ao nosso alcance uma árvore que, nesses momentos, constitui a nossa verdadeira salvação. Que árvore é essa? Um impressionante fato que se deu, em fins do século XIX, nos ajudará a descobrir.

Uma menina que marcou a História

Cega e surda aos 18 meses de idade, Helen Adams Keller (1880-1968) viu-se reduzida a um triste isolamento, sem comunicação com o mundo exterior, a não ser pelo tato, olfato e paladar. Esta menina norte-americana, com efeito, viria a marcar a História não pela raridade de sua doença, mas sim pelo modo ímpar com que a enfrentou.

Com o auxílio de sua educadora, Anne Mansfield Sullivan, Helen pode aprender a linguagem das mãos, o alfabeto braile e, por fim, a falar fluentemente. E não foi só isso: ao cabo de algum tempo, e não sem grande dificuldade, Helen Keller chegou a dominar o francês e o alemão, percorrendo o mundo dando palestras e escrevendo livros.

É preciso confessar que, para tudo isso, foi absolutamente imprescindível a presença de Anne Sullivan. Se Helen não a tivesse encontrado, talvez permaneceria até o fim de sua vida imersa na terrível, trágica e silenciosa noite de sua mente e de seus sentidos.

Mas não foi isso o que se deu. Helen pôde falar e, não poucas vezes, crivou a sua mestra com perguntas como estas: O que faz o sol ser quente? Onde estava eu antes de vir para minha mãe? Os passarinhos e os pintainhos saem do ovo: de onde vem o ovo? Quem fez Deus? Onde está Deus? A senhora já viu Deus?[1]

Estas são perguntas que revelam uma alma admirativa, que busca a Deus. Quem sabe se não terá sido essa admiração que deu a força de vontade a Helen Keller para ter sido quem foi? Os dados são escassos para confirmar tal hipótese, mas também não são suficientes para negá-la.

Mas queremos enfatizar outro aspecto: a inclinação natural a Deus e às coisas celestes, presente na alma de toda criatura humana. Do contrário, como uma menina que não enxerga nem ouve poderia formular perguntas de tão alto gabarito? De fato, “assim como pelo heliotropismo as plantas crescem à procura da luz, também as almas necessitam abrir-se à contemplação das criaturas para, a partir delas, subir até o Criador”.[2]

Admiração é o repouso da alma

A admiração é a árvore que Deus plantou em nossas almas para que possamos contemplá-Lo. De nossa parte, resta-nos apenas subir até ela como fez Zaqueu, o cobrador de impostos.

Muitas vezes, “a turba deste mundo nos impede de reconhecer o Senhor; precisamos calcá-la aos pés, para nos elevarmos a uma virtude superior e ver do alto a Cristo”.[3] Quando a inveja nos assaltar, impelindo-nos à cólera, à rivalidade, etc. saibamos subir à árvore de Zaqueu.

As discórdias, o voltar-se somente às coisas materias, apenas nos precipitam na agitação, na tristeza e na aflição. A admiração, pelo contrário, concede-nos repouso e tranquilidade, pois faz com que o nosso coração se volte ao seu fim último, Deus. Tenhamos sempre presente as palavras de Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em Ti”.[4]

Por Lucas Rezende

 


[1] Cf. KELLER, Helen Adams. A história de minha vida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940, pp.248-249.

[2] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito obre os evangelhos. Città del Vaticano: LEV, 2012, v.6 p.439.

[3] MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.752.

[4] SANTO AGOSTINHO. Confessionum. L.I, c.1, n.1. In: Obras. Madrid: BAC, 1955, v.II, p.82.

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