A mais perfeita das orações
No Pai-Nosso, as petições se desdobram como as sete cores do arco-íris da Nova Aliança; são um caminho luminoso que nos conduz aos tesouros da misericórdia divina.
Redação (11/10/2022 09:34, Gaudium Press) Percorria Jesus a Galileia, pregando o Evangelho do Reino e curando todas as doenças. Grandes multidões acorriam a Ele, pois logo se espalhara sua fama pelos países circunvizinhos.
Certo dia, Ele subiu a uma montanha e pôs-Se a ensinar: Bem-aventurados os que têm um coração de pobre… Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam… Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito… (cf. Mt 4, 23-25; 5, 1-48).
Mais do que a multidão que Cristo tinha diante de Si, por certo, seu divino olhar considerava naquele momento também todas as almas fiéis que ao longo dos milênios prestariam ouvidos atentos às suas palavras.
Portanto, tinha Ele em vista cada um de nós quando nos ensinou a mais perfeita das orações: “Eis como deveis rezar: Pai nosso, que estais no Céu…” (Mt 6, 9). Tão consolador apelativo – Pai nosso! – só podia brotar dos lábios do Filho Unigênito de Deus. Assumindo nossa carne, Ele nos revelou que temos um Pai nos Céus.
“Resumo de todo o Evangelho”
A Oração Dominical – ou Oração do Senhor – serviu de guia para a piedade dos cristãos de todos os tempos. A respeito dela, fizeram entusiásticos comentários diversos Padres e Doutores da Igreja.
Tertuliano a qualifica de “resumo de todo o Evangelho”. Para São Cipriano, ela é um compêndio da doutrina celeste. Na mesma linha, assegura Santo Agostinho: “Se percorrerdes todas as palavras das orações das Sagradas Escrituras, nada encontrareis que não esteja contido na Oração Dominical”. E o Doutor Angélico escreve: “Na Oração Dominical, não somente se pede tudo aquilo que podemos desejar retamente, como também na ordem em que devemos desejar; de tal forma que essa oração nos ensina não só a pedir, como também é normativa dos nossos sentimentos”.
Com efeito, no Pai-Nosso, as petições se desdobram como as sete cores do arco-íris da Nova Aliança; são um caminho luminoso que nos conduz aos tesouros da misericórdia divina.
As três primeiras súplicas põem em exercício as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), porque se ordenam diretamente a Deus: o “vosso nome”, o “vosso Reino” e a “vossa vontade”; as quatro seguintes imploram, no seu conjunto, proteção e auxílio no exercício das virtudes cardeais (justiça, temperança, fortaleza e prudência) e constituem apelos de filhos ao Pai: “dai-nos”, “perdoai-nos”, “não nos deixeis cair” e “livrai-nos”.
Sete pedidos apresentados na perfeita ordem
Inicia-se a Oração Dominical com a reconfortadora invocação: “Pai nosso, que estais no Céu”. Seguem-se os sete pedidos, na ordem em que devem ser feitos, conforme a observação de São Tomás:
Santificado seja o vosso nome: Imploramos aqui o primordial, ou seja, a glória de Deus. Portanto, esta petição inclui todas as outras. Ensina-nos Tertuliano: “Quando dizemos ‘santificado seja o vosso nome’, pedimos que ele seja santificado em nós que estamos nele, mas também nos outros que a graça de Deus ainda aguarda, a fim de conformar-nos ao preceito que nos obriga a rezar por todos, mesmo por nossos inimigos”.
Venha a nós o vosso Reino: Este pedido visa a nossa participação na glória de Deus e, para isso, impulsionados pela esperança, imploramos a “vinda final do Reinado de Deus mediante o retorno de Cristo”, a fim de que Ele reine definitivamente em todos os corações.
Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu: Para os homens merecerem entrar na glória celestial, pedimos que todos observem os Mandamentos da Lei divina. “Pela oração é que podemos ‘discernir qual é a vontade de Deus’ e obter ‘a perseverança para cumpri-la’. Jesus nos ensina que entramos no Reino dos Céus não por palavras, mas ‘praticando a vontade de meu Pai que está nos Céus’ (Mt 7, 21)”.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje: Nesta súplica não visamos somente nosso sustento material. “Este pedido e a responsabilidade que ele implica valem também para outra fome da qual os homens padecem […]. Há uma fome na Terra, ‘não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra de Deus’ (Am 8, 11). Por isso, o sentido especificamente cristão deste quarto pedido refere-se ao Pão de Vida: a Palavra de Deus a ser acolhida na fé, o Corpo de Cristo recebido na Eucaristia”.
Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido: Imploramos perdão por todos os nossos pecados, nos quais trocamos a amizade de Deus pelo amor desregrado a alguma criatura. E como penhor para sermos atendidos, oferecemos-Lhe o sacrifício de perdoar “aos que nos têm ofendido”. Nossa petição não será atendida sem o cumprimento desta exigência. A isto nos incita também o Apóstolo: “Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo” (Ef 4, 32).
Não nos deixeis cair em tentação: Depois de ter implorado com humildade o perdão de nossos pecados, suplicamos a Deus vigilância, fortaleza e, sobretudo, o auxílio da graça para doravante não tornar a ofendê-Lo.
Mas livrai-nos do mal: Nesta última súplica da Oração do Senhor, o “mal” não é uma abstração, mas designa uma criatura, satanás, “o anjo que se opõe pessoalmente a Deus e ao seu plano de salvação”. Nela, pedimos “para sermos livres de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador”.
Quem conforma sua vida aos princípios contidos no Pai-Nosso, este é um perfeito cristão. Não passemos um dia sequer sem recitá-lo! Ele nos acompanha desde o início de nossa caminhada rumo à salvação, pois nossos pais e padrinhos o rezaram na cerimônia de nosso Batismo. E será rezado pelo sacerdote junto ao sepulcro, ao ser depositado nosso corpo em sua última morada, à espera da ressurreição.
Por Pe. Leandro Cesar Ribeiro, EP
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho, out. 2015, n. 166.
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