São Charbel Makhlouf
24 de julho, memória de São Charbel Makhlouf: tipicamente um árabe contemplativo, que traz no fundo do olhar todo o mistério das noites do Oriente, assim como os de suas próprias meditações, de sua própria alma.
Redação (24/07/2022 09:29, Gaudium Press) São Charbel Makhlouf era tipicamente um árabe contemplativo, que traz no fundo do olhar todo o mistério das noites do Oriente, assim como os de suas próprias meditações, de sua própria alma.
Um homem que passou a vida inteira num cenóbio, imerso no mais completo silêncio, em contínua contemplação e numa inteira obediência, procurando única e exclusivamente conhecer e amar a Deus, e fazer a vontade d’Ele custasse o que custasse. Nesse intuito, enfrentou dificuldades e catástrofes, com o espírito sobrenatural e a obstinação dos santos.
Adquiriu alto grau de interioridade, um total desapego de si mesmo, mantendo-se invariável quando era humilhado e desprezado dentro de sua comunidade religiosa.
Nota-se nele uma indiferença em relação a tudo que não se refere a Deus; não lhe afligem ambições de honras, nem preocupações com dinheiro; nada de vaidade, sentimentalismo, pena de si. Somente uma firme constância em atingir o ideal — Deus — e uma limpeza de alma por onde, confiando na misericórdia divina, ele sabe que O agrada.
Se alguém pretender oferecer-lhe qualquer coisa que o desvie de sua trajetória espiritual, a recusa será tão completa que não se terá coragem de fazê-lo. Ele desarma previamente qualquer proposta desonesta.
Diante desse homem, a única atitude razoável é o silêncio, o respeito e, por fim, o pedido de orações.
Entretanto, revela também a alma de um sofredor. Percebe-se montanhas de sofrimento cristalizadas em seu interior. Porém, padeceu com tanta temperança, que todas as tempestades sopraram dentro dele e o deixaram mais rígido, mais firme.
De maneira que se trata de um ancião, é verdade, mas inteiramente composto, e não decrépito. Homem profundamente equilibrado, que aceitou o sofrimento por completo e ficou além da dor; nada mais o assusta. Na Terra, não tem outro medo senão o de pecar; outra esperança, senão a do Céu.
Mártir da vida de obediência
Quando menino, levava uma vaca para pastar num campo pertencente à sua família. Ali havia uma espécie de gruta que servia de refúgio durante o calor. Quando ele notava que o animal tinha se saciado, dizia-lhe:
“Repouse aqui; agora é minha vez e vou recitar minhas orações”.
A rês então se deitava e ficava quieta até ele terminar de rezar. Esse prodígio repetiu-se tantas vezes que o lugar mudou de nome e passou a chamar-se “el-Qaddis”, ou seja, “o santo”.
Tornando-se moço, entrou na Ordem religiosa de eremitas maronitas e vestiu o hábito que, na linguagem florida do oriente, era conhecido como o “traje angélico”: túnica preta, com tecido abundante, e um cordão feito de pele de cabra. Foi-lhe dado o nome de Charbel, um mártir de Edessa do segundo século, comemorado no rito maronita em 5 de setembro.
Enquanto noviço, São Charbel destacou-se pelo cumprimento perfeito da regra, com muita humildade. Poder-se-ia pensar que essa observância representa uma falta de personalidade, de domínio de si, pois a pessoa faz aquilo que os outros mandam.
Nada de mais equivocado, pois não há nenhum homem para quem não seja difícil fazer o que os outros ordenam. A vida de obediência, em si, é um verdadeiro martírio.
Esse martírio São Charbel Makhlouf viveu, numa imolação para fazer tudo de acordo com o espírito do Fundador e não a seu talante, movido por inspiração mundana.
Fé profunda
Atestam seus contemporâneos que, em tudo quanto fazia, sentia-se sua fé profunda. Por exemplo, rezando a Missa, no momento da Consagração, às vezes lágrimas lhe saltavam dos olhos. O Pe. Francesco Sibrini, que conheceu São Charbel treze anos antes de sua morte, dizia:
“Ele não permitia que o material usado antes da celebração da Missa, como o sabão e a tolha de mão, fosse utilizado para outra finalidade. Terminada a Eucaristia, logo depois da ação de graças, mandava lavar a toalhinha, para sempre ter as mãos modelarmente limpas ao celebrar o santo sacrifício.”
Se ele assim cuidava para retirar a poeira das mãos, quanto mais fazia para extirpar a da alma!
Outros religiosos diziam:
“Assistíamos frequentemente a Missa celebrada por ele e parecia-nos que via com seus olhos o Filho de Deus. Sua voz era baixa e seu rosto refletia a alegria interior”.
Quer dizer, tinha-se a impressão de que São Charbel conversava com Nosso Senhor durante a celebração eucarística.
Um irmão leigo disse que ele parecia não saber fazer outra coisa senão rezar, celebrar a Missa e observar a regra. E outro afirmou: “Charbel se distinguia de todos os outros monges, como um grande carvalho se diferencia de uma ervinha do campo”.
Ele morreu na vigília do Natal de 1898.
São Charbel Makhlouf é um modelo magnífico de varão que abraçou as vias da santidade desde os primórdios de sua existência e a levou até o fim de seus dias. E depois de sua morte, essa trajetória de perfeição é coroada por estupendos milagres.
De fato, segundo o mosteiro de São Maron, existem cerca de 29.000 milagres documentados no arquivo do mosteiro, obtidos por intercessão de São Charbel.
Plinio Corrêa de Oliveira
Texto extraído, com adaptações, de conferências em 24/1/1972 e 1/2/1972.
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