O que significa amar o próximo?
O amor ao próximo consiste principalmente em beneficiar os pobres e necessitados? Qual o papel do bom exemplo na caridade cristã?
Redação (10/07/2022 06:24, Gaudium Press) O Evangelho recolhido para este 15º Domingo do Tempo Comum traz à tona o episódio de um mestre da lei que procura colocar Jesus em dificuldade.
– Que devo fazer para receber em herança a vida eterna? – pergunta o mestre da lei com arrogância.
– E o que diz a lei? – responde nosso Senhor indagando-lhe.
– Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao próximo como a ti mesmo!
– Falaste corretamente. Faze isso e viverás.
– E quem é o meu próximo?
Após o Divino Mestre tecer a parábola daquele pobre homem que caíra nas mãos de assaltantes, e embora rejeitado pelo sacerdote e pelo levita, foi acolhido pelo bom samaritano com compaixão, Jesus lhe pergunta:
– Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?
– Aquele que usou de misericórdia- respondeu-Lhe.
– Então, vai e faze a mesma coisa! (Cf. Lc 10,25-37)
O cerne da caridade
Ora, que ensinamento podemos extrair desta parábola?
Para muitas mentalidades, o ter “compaixão” e o “amar o próximo” vem a ser principalmente o ato de beneficiar os pobres e necessitados, atendendo-lhes com bens materiais, ou para com os enfermos, fazendo-lhes recobrar a saúde, ou ainda o tratar o próximo com cordura e amabilidade, sem jamais proferir palavras grosseiras e duras que possam gerar a divisão, a desarmonia… É isto o que Nosso Senhor quer nos ensinar? Apenas estas obras correspondem à caridade cristã?
Sem dúvida alguma, estas práticas têm o seu mérito e valor sobrenaturais; e a aqueles que assim o fizerem por amor a Deus terão a sua recompensa na vida futura. Neste sentido, afirma São Basílio: “Há em nós um sentimento íntimo, o qual tem suas causas intrínsecas e nos predispõe a amar a Deus. E quem obedece a esse sentimento põe em prática a doutrina dos preceitos divinos e atinge a perfeição da divina graça. Amamos naturalmente o bem; amemos também nossos próximos e parentes; ademais, demos espontaneamente aos benfeitores todo o nosso afeto”.[1]
Todavia, isto quer dizer que tão-somente o aditamento de bens terrenos, ademais da amabilidade e o respeito no trato, farão com que as almas alcancem o Céu? Nisto constitui o cerne da caridade?
A vida eterna com Deus não se adquire pelo dinheiro ou pela boa saúde, nem mesmo por se ter uma boca que saiba somente pronunciar palavras amáveis e dóceis; pois até mesmo os pecadores podem agir desta maneira com aqueles que os amam (cf. Lc 6,32).
Há um bem maior que deve ser feito aos homens, mas que infelizmente é esquecido neste mundo: ser exemplo e modelo de vida cristã!
Quantos homens perdem as suas almas por um mau exemplo recebido, por uma atitude nossa de indiferença diante do seu pecado, a qual não se censura; ou pelos ditos, palavras e cenas imorais que circulam nos mais variados ambientes de nosso século, às quais não damos mostras de rejeição; modas que ferem o pudor e arrastam uma multidão de pessoas a abraçarem as vias do pecado, às quais não criticamos e, por vezes, até seguimos.
Enfim, toda uma existência cheia de preocupações humanas e egoísticas, voltadas para o prestígio e para o gozo passageiro, acaso não contradiz com a caridade cristã? Ser cúmplice ou indiferente para com estas más ações, que ferem o Coração do bom Deus, é sem dúvida alguma arrastar as almas a não amarem o seu Criador.
Se realmente amamos a Deus e ao próximo, é preciso que nossa forma de viver condiga com nosso interior, se de fato almejamos ser caridosos para com o próximo e, em especial, para com os mais necessitados.
Por Guilherme Motta
[1] SÃO BASÍLIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c. X, v. 25-28.
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