Gaudium news > São Mayeul: príncipe da tradição monástica

São Mayeul: príncipe da tradição monástica

Entre os eminentes varões de Deus que governaram Cluny, instituição que tantos benefícios trouxe à Igreja e à sociedade temporal, destacou-se São Mayeul, nascido em 910.

Mayeul abbe de Cluny

Redação (26/06/2022 15:17, Gaudium Press) Seu pai descendia do Duque de Arles – Sul da França –, era riquíssimo e muito generoso: doou a Cluny vinte grandes propriedades, com as igrejas nelas existentes.

Sendo ainda muito jovem, seus progenitores faleceram e as terras que herdou foram devastadas por maometanos e húngaros. Mudou-se, então, para a propriedade de um seu parente situada em Mâcon – Oeste da França.

Recusou peremptoriamente ser arcebispo

Desejando aprimorar seus conhecimentos, entrou na escola episcopal de Lyon, onde estudou as sete artes liberais e posteriormente Filosofia e Teologia. Concluiu de modo brilhante os cursos, regressou ao Mâcon e tornou-se sacerdote. Tendo vagado o arcebispado de Besançon – cidade francesa nas proximidades da Suíça –, o clero e o povo o elegeram para ocupá-lo. Mas ele recusou peremptoriamente e se fez monge.

Segundo testemunho de seus contemporâneos, São Mayeul possuía uma personalidade fascinante. Alto, formoso, sábio, eloquente, tinha uma alma de fogo. Santo Odilon, seu sucessor como Abade de Cluny, escreveu: “Os reis e príncipes da Terra o chamavam senhor e mestre, e ele mesmo era na verdade o príncipe da tradição monástica.”

Em Cluny, ele se destacou pelas suas virtudes e foi nomeado bibliotecário. O Abade Aimar, tendo ficado cego, transmitiu o seu cargo a São Mayeul, em 954. Assim, passou a governar todos os mosteiros dependentes de Cluny, missão que cumpriu sapiencialmente durante 40 anos.

Realizou muitos milagres entre os quais a cura de um menino cego, filho de um camponês que trabalhava nas terras da Abadia de Cluny. O pai apanhou a vasilha de água na qual São Mayeul lavara as mãos e molhou os olhos do menino, que imediatamente ficou curado.

Batalha de Tourtour

O Imperador Oto I, o Grande, tomando conhecimento das altas virtudes de São Mayeul, mandou chamá-lo para ir até seu palácio, e ficou de tal modo admirado que lhe transferiu o governo de todos os mosteiros da Itália e Alemanha que dele dependiam.

E a Imperatriz Santa Adelaide, esposa de Oto, sempre o tratou com veneração, procurando servi-lo como uma simples religiosa.

Em 972, regressando de uma viagem que fizera a Roma, São Mayeul foi aprisionado nos Alpes por muçulmanos que ali possuíam uma fortaleza. Muitos o trataram com respeito, mas um deles colocou um pé sobre uma Bíblia que o Santo trazia consigo, fazendo com que este lançasse um gemido de indignação. Nesse mesmo dia, esse ímpio entrou em violenta briga com um companheiro e teve seu pé cortado.

Ao tomar conhecimento de que São Mayeul estava preso, muitos nobres se uniram e obtiveram o valor do resgate que os maometanos exigiam.

Obtida sua libertação, os monges dos mosteiros dirigidos por Cluny se empenharam com ardor em promover uma guerra contra os muçulmanos. Eles aliavam a mansidão à combatividade, como deve fazer todo verdadeiro católico.  Conseguiram reunir a população em tornou de Guilherme, Conde de Provença, região do Sudeste da França, o qual formou um grande exército composto de nobres e homens do povo.

Após cinco terríveis investidas contra os muçulmanos, Guilherme os derrotou na Batalha de Tourtour e arrasou sua fortaleza dos Alpes, em 973. Grande foi o número de pagãos mortos, e aqueles que se converteram à verdadeira Religião se salvaram. Essa vitória católica marcou a expulsão definitiva dos maometanos da França e pressagiou as Cruzadas.

Vinte anos depois, sentindo que ia morrer, o Conde Guilherme chamou São Mayeul à Avignon, onde se encontrava. Essa cidade do Sul da França tornou-se depois famosa porque alguns papas nela se estabeleceram durante o Cisma do Ocidente, de 1378 a 1417. Guilherme doou à Cluny diversos domínios que possuía e, tendo recebido os últimos sacramentos, entregou sua alma a Deus.

Clero, nobreza e povo pedem-lhe que seja papa

StatueMayeulCom a morte de Oto, o Grande, em 973, o Império e sobretudo a cidade de Roma entraram em caos. Bento VI foi estrangulado e surgiu um antipapa. O clero e o povo queriam que São Mayeul fosse pontífice. Santa Adelaide e seu filho Oto II chamaram-no e pediram-lhe que assumisse a Cátedra de Pedro, mas ele recusou, alegando não possuir as qualidades necessárias para exercer essa altíssima missão, e preferia cuidar dos monges de Cluny.

Em todas as regiões, celebravam-se as virtudes de São Mayeul. Muitos mosteiros na França estavam decadentes porque os monges haviam caído no relaxamento.

O sobrinho do Imperador Oto, o Grande, Hugo Capeto, o qual fora sagrado Rei da França em 987, pediu ao Santo que colocasse esses mosteiros na disciplina de Cluny.  Ele atendeu à solicitação e logo os monges readquiriam o fervor.

Durante anos, São Mayeul se dedicou ao aperfeiçoamento espiritual, intelectual e até mesmo material dos mosteiros subordinados a Cluny.  Sentindo o peso da idade, ele designou seu discípulo perfeito, Santo Odilon, para sucedê-lo como abade após sua morte.

Em 994, Hugo Capeto rogou a São Mayeul que fosse até à Basílica de Saint Denis, nas proximidades de Paris, a fim de afervorar os religiosos que ali viviam. Apesar de bastante enfraquecido, ele iniciou a viagem, mas, chegando ao Mosteiro de Souvigny – Centro da França –, adoeceu gravemente.

Os monges circundaram seu leito e, prosternados, pediram sua bênção. Após abençoá-los, ele, antegozando as alegrias celestes, afirmou: “Senhor, estou encantado com a beleza de vossa mansão. Quão amáveis são os vossos tabernáculos!” E sua alma foi conduzida ao Paraíso. Era o dia 11 de maio de 994.

Ao saber da notícia de sua morte, Hugo Capeto imediatamente viajou para Souvigny e determinou que seus funerais fossem celebrados com toda solenidade .

Por Paulo Francisco Martos

       Noções de História da Igreja 

 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas