São Rábano Mauro: compositor do Veni Creator
O século IX foi marcado por pecados hediondos, cometidos por importantes membros das sociedades eclesiástica e civil. A fim de orientar as pessoas no meio dessas trevas, Deus suscitou varões que brilharam por suas altíssimas virtudes, entre os quais São Rábano Mauro.
Redação (03/05/2022 08:53, Gaudium Press) Filho de pais nobres, São Rábano nasceu no ano de 780, em Mogúncia, e desde criança recebeu formação religiosa na Abadia de Fulda, ambas cidades localizadas na Alemanha.
Depois foi estudar no Mosteiro de São Martinho de Tours, na França, onde se tornou aluno do célebre Alcuíno que, sob a orientação de Carlos Magno, organizou o ensino na Europa de então. São Rábano praticou com tal perfeição a obediência que Alcuíno lhe deu o sobrenome Mauro, em memória do discípulo predileto de São Bento, que se destacara nessa virtude.
Tendo sido ordenado sacerdote, São Rábano Mauro, em 822, foi nomeado abade do Mosteiro de Fulda. O esplendor de seus dons, virtudes e cultura se difundiram por todas as regiões, fazendo com que a essa casa religiosa acorressem alunos da Franca, Inglaterra, Alemanha e até de Roma bem como de outras cidades da Itália. Bispos, reis, príncipes e pessoas de destaque o consultavam. Famílias reais, principescas e de alta nobreza enviavam seus filhos para serem educados no Mosteiro de Fulda.
Passado algum tempo, o Rei da França Luís, o Bonachão, e seus filhos – que guerreavam entre si por motivos egoístas –, quiseram obter apoio de São Rábano em suas desavenças, mas ele não aceitou. Para evitar q ue o mosteiro fosse objeto de vingança de algum desses partidos, demitiu-se do cargo de abade – que exercera durante 20 anos – e foi viver numa ermida nas proximidades de Fulda, onde se dedicou à oração e ao estudo.
Cinco anos depois, tendo falecido o Arcebispo de Mogúncia, o povo dirigiu-se à ermida e lhe rogou que fosse seu sucessor. Percebendo que era a vontade de Nosso Senhor, deu seu assentimento.
Concepção mística do universo
São Rábano Mauro escreveu diversas obras entre as quais comentários sobre quase toda a Bíblia, dirigidos a monarcas para a formação moral deles.
“Preocupado com o apostolado intelectual, desejoso de formar os monges e o clero e, através deles, o povo cristão, ele se esforça em interessar os príncipes por sua ação e, com suas instâncias, contribui eficazmente na continuação da obra de Carlos Magno.”
No Tratado Sobre o universo, São Rábano apresenta uma concepção mística do cosmo: o conhecimento não deve se limitar à estrita materialidade dos seres; é preciso compreender que eles são símbolos de realidades espirituais.
A respeito desse importantíssimo tema, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira ensina:
“Entre as caraterísticas da alma, quero destacar aqui uma das mais nobres, isto é, a aptidão de relacionar as coisas da matéria com as do espírito, e umas e outras com Deus.
“Todo o universo foi criado à imagem e semelhança de Deus. De onde existirem analogias entre todas as criaturas. Pois seres análogos a um terceiro são, por isso mesmo, análogos entre si. Daí as coisas materiais terem o poder de exprimir as espirituais.
“E um dos usos mais nobres que se possa fazer de cada uma, e de todas no conjunto, consiste em lhes conhecer essa expressão espiritual. Através dessa expressão, a inteligência conhece melhor as coisas do espírito. Serventia excelsa que tem a matéria até para os bem-aventurados após a ressurreição, quando, entretanto, verão Deus face a face.”
São Rábano Mauro redigiu também tratados sobre Psicologia, Pedagogia, gramática. Compôs muitas poesias e sua obra genial foi o cântico em louvor do Espírito Santo Veni Creator Spiritus (Vinde Espírito Criador), que se espraiou por todo o mundo.
Faleceu em 856 e sua memória é celebrada em 4 de fevereiro.
Excomunhão de um Rei e dois Arcebispos
Outro varão que iluminou o século IX foi o Papa São Nicolau I – pontificado de 858 a 867 –, o qual defendeu firmemente a superioridade do poder papal sobre o poder temporal, tornando-se um precursor do grande São Gregório VII, que governou a Igreja de 1073 a 1085 e, entre outros gloriosos feitos, batalhou de modo admirável contra o ímpio Henrique IV, Imperador do Sacro Império Romano Alemão.
Em 860, Lotário II, Rei da Lotaríngia – região que corresponde atualmente à Bélgica, Holanda bem como partes da França e da Alemanha –, repudiou sua esposa, Theutberga, e se uniu a uma péssima mulher, que era irmã do Arcebispo de Colônia.
Os Arcebispos dessa cidade e o de Tréveris, ambas na Alemanha, apoiaram vergonhosamente o divórcio de Lotário II e seu “casamento” com a concubina. São Nicolau excomungou os três.
Os prelados se revoltaram contra o Papa e, em 864, chegaram mesmo a incitar o Imperador Luís II a invadir Roma, mas esse crime, pela intervenção da imperatriz, não foi perpetrado. Três anos depois, São Nicolau entregou sua alma a Deus.
Castigo infligido por Deus
Em 869, Adriano II, sucessor de São Nicolau I, recebeu no Mosteiro de Monte Cassino, Itália, Lotário II e o Arcebispo de Colônia.
Após as conversações, Adriano II foi celebrar a Missa e, na hora da comunhão, disse a Lotário: “Se estais de fato arrependido do crime de adultério, e tendes o firme propósito de não mais o cometer, receba o Sacramento da vida eterna. Mas se vossa penitência não é sincera, não tenhais a temeridade de receber o Corpo e o Sangue de Cristo, pois será vossa própria condenação.”
Lotário, aferrado a seu pecado, comungou bem como diversos membros de sua comitiva que estavam mancomunados com ele. Em seguida, iniciaram sua viagem rumo à França.
Ao chegarem à cidade de Lucca – Noroeste da Itália –, uma estranha doença acometeu quase todos eles: os cabelos, as unhas e a própria pele se desprendiam do corpo, causando terríveis dores, convulsões e a morte. Os que haviam comungado sacriligamente – Lotário II, o Arcebispo de Colônia e outros integrantes do séquito real – foram atingidos por esse mal e faleceram. Somente aqueles que não tinham cometido o sacrilégio ficaram isentos dessa doença e se mantiveram vivos.
Peçamos a Nossa Senhora que urgentemente faça cessar os pecados muitíssimos mais graves praticados abertamente em nossos dias, e seja instaurado em todo esplendor o Reino de Maria.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
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