Batalha de Roncesvales
Carlos Magno foi um heroico varão que brilhou no firmamento da Igreja e da Cristandade. Enfrentou enormes dificuldades, diversas traições e terríveis batalhas, mantendo sempre muita firmeza e confiança em Deus.
Redação (09/03/2022 17:08, Gaudium Press) Seu biógrafo Éginhard, que o conheceu pessoalmente, descreve-o como um homem alto e robusto, cujas partes do corpo eram bem proporcionadas. Fronte vasta e arredondada, olhos grandes e vivos, nariz um pouco mais longo que o comum, fisionomia alegre e agradável.
Grandeza e incomparável dignidade
Em toda sua pessoa, estando em pé ou sentado, reinava uma nota de grandeza e incomparável dignidade. Seu caminhar era firme e varonil; sua voz, sonora. Praticava diariamente equitação e caça, e com frequência natação, onde ninguém o sobrepujava.
Filho do Rei dos francos Pepino, o Breve – assim cognominado devido a sua pequena estatura –, nasceu ele na Austrásia – Nordeste da atual França –, em 742.
Tendo doze anos de idade, seu pai ordenou-lhe que fosse, juntamente com outros nobres, dar boas-vindas ao Papa Estêvão III que, a convite do Rei, acabava de entrar na França e caminhava rumo à cidade de Ponthion – Nordeste do país –, onde Pepino residia.
Estando o Pontífice nas proximidades, o Monarca, a família real e os nobres foram ao seu encontro; chegando à sua presença, todos se ajoelharam e pediram-lhe a bênção. O Papa entoou um hino de ação de graças, sendo acompanhado por todo o povo.
Ao ver o Vigário de Cristo, Pepino, o Breve, desceu do cavalo, prosternou-se humildemente diante dele e, segurando a rédea da sua montada como um simples escudeiro, conduziu ao palácio o venerando hóspede.
Em suas investidas contra inimigos da Igreja, Pepino conquistou muitas terras e cedeu parte delas à Santa Sé, dando assim origem aos Estados pontifícios.
Com a morte de Pepino, em 768, o reino franco foi dividido entre Carlos e seu irmão Carlomano. Três anos depois este faleceu, e Carlos – que posteriormente recebeu o glorioso título de “Magno” – tornou-se Rei da França.
Rei da Lombardia
Desde o início de seu reinado, ele combateu rijamente os inimigos da Igreja, entre estes os lombardos que, impelidos por seu Rei Didier, devastaram diversos territórios da Itália, os quais pertenciam à Santa Sé, e ameaçou invadir Roma. O Papa Adriano I pediu auxílio a Carlos Magno.
Com suas tropas, ele se dirigiu à Lombardia, Norte da Itália. Tal era o número de soldados lombardos que os francos pensaram em efetuar a retirada. Mas Carlos os animou e a Providência Divina interveio. Tomados por um pânico inexplicável, os lombardos fugiram abandonando suas tendas e munições.
Didier se escondeu em Pavia, a qual foi logo sitiada pelos francos. Como o cerco se prolongava, Carlos Magno se dirigiu a Roma, onde a população o acolheu com entusiasmo. Chegando diante da Basílica de São Pedro, subiu a escadaria de joelhos osculando cada um dos degraus.
O rei dos francos fez doação à Santa Sé de terras por ele conquistadas, fortalecendo assim os Estados pontifícios, constituídos por Pepino, o Breve, e depois regressou à Pavia cujo cerco continuava.
Para punir os revoltosos dessa cidade, Deus enviou uma peste que causou muitas mortes. Didier se entregou e Carlos Magno se tornou Rei da Lombardia em 774. Dessa forma, terminou o reino lombardo que havia durado 206 anos.
Alcuíno, o Carlos Magno da cultura
Em 787, Carlos Magno enviou uma circular aos bispos e abades, propondo um programa de instrução pública. O texto desse documento assim se iniciava: “Carlos, pela graça de Deus, rei dos francos e dos lombardos, patrício dos romanos.”
Dessa forma surgiu a “escola palatina”, instalada no Palácio real de Aix-la-Chapelle, atualmente Aachen, situada no Oeste da Alemanha.
O Diácono Alcuíno, nascido na Inglaterra numa família nobre e rica, foi designado diretor dessa escola por Carlos Magno, na qual se seguia uma regra como um mosteiro.
Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que Alcuíno “organizou a renovação da cultura católica ocidental como ela se desenvolveu na Idade Média; foi o Carlos Magno da cultura. Podemos imaginá-lo como um homem venerável, de rosto comprido, fino, olhar que fita do fundo de arcadas oculares onde olhos pequenos e pretos dardejam, ou olhos azuis e inocentes sonham”.
Chanson de Roland
Em 788, Carlos Magno reuniu grande número de soldados e partiu rumo à Espanha a fim de livrá-la da opressão dos muçulmanos. Dominou várias cidades, entre as quais Saragoça – Nordeste do país –, e libertou muitos cativos.
Mas, tendo ocorrido uma insurreição dos saxões na Germânia, ele dividiu seu exército em dois conjuntos e partiu rumo àquele país, comandando as tropas dianteiras. Atravessaram sem dificuldade o desfiladeiro de Roncesvales – na fronteira entre Espanha e França – e continuaram sua marcha.
A retaguarda, dirigida pelos doze pares de Carlos Magno, entre os quais Roland – seu sobrinho –, Olivier e o Arcebispo Turpin, ao chegar naquele desfiladeiro, foi atacada por enorme número de bascos, que estavam nos altos dos rochedos. Os francos lutaram valorosamente, mas não conseguiram vencer: 25.000 homens morreram.
A Batalha de Roncesvales, ocorrida em 15 de agosto de 778, foi descrita pela Chanson de Roland – Canção de Roland –, “uma das mais bonitas obras poéticas de todos os tempos […] Essa canção de gesta projeta a beleza da figura de Carlos Magno de modo extraordinário, e contribuiu para formar uma atmosfera de respeito verdadeiramente religioso, por vezes tributado até por pessoas laicas”.
“A flor do exército de Carlos Magno ali pereceu, inclusive o Arcebispo Turpin, batalhador dotado de uma force de frappe (força de ataque) tão extraordinária que deixava Roland e Olivier pasmos.”
Roguemos a Carlos Magno que nos obtenha de Nossa Senhora o dom da fortaleza, para batalharmos com denodo contra nossos defeitos e os inimigos velados ou declarados da Santa Igreja, confiando que em breve o Coração Sapiencial e Imaculado de Maria triunfará.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
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