Um convite para a humanidade nos dias de hoje
A santidade consiste em praticar todos os atos de nossa vida por amor a Deus e ao próximo.
Redação (26/02/2022 12:30, Gaudium Press) Havia um homem de cultura e instrução em extremo limitadas, cuja adolescência transcorrera nos trabalhos de alfaiataria. Desde sua entrada para o convento da Ordem dos Franciscanos, os superiores lhe confiaram a confecção dos buréis de todos os religiosos, julgando ser esta a missão mais adequada para ele.
Ora, não tardou em evidenciar-se, aos olhos de toda a comunidade, quanto o novo religioso, tão desprovido de agudeza e de conhecimentos humanos, era exímio não só na técnica da costura, mas também, e sobretudo, na prática da virtude, pois fora ilustrado em ciência infinitamente superior por Aquele que ocultou os mistérios de seu Reino aos sábios e os revelou aos pequeninos (cf. Lc 10, 21).
Com efeito, sua vida conventual transcorreu em total dedicação, assumindo seus deveres com profunda seriedade, espírito sobrenatural, inalterável mansidão e generosidade.
Alfaiate esforçado e obediente, nunca recusava nenhum serviço; antes, procurava adivinhar as necessidades de seus irmãos de hábito e adiantar-se a seus desejos. Mal percebia que a túnica de algum religioso estava muito velha e gasta e logo seu amor o impelia a confeccionar uma nova, com todo o cuidado e esmero.
Tendo chegado ao término desta peregrinação terrena, encontrava-se ele em seu leito de dor prestes a dar o derradeiro suspiro, quando, após receber os Sacramentos, dirigiu-se aos frades que o acompanhavam nesse supremo momento, implorando:
– Por favor, tragam-me a chave do Céu!
Aflitos, aqueles filhos de São Francisco pensaram tratar-se de um delírio prévio à morte. Porém, receosos de não realizar a última vontade de um irmão tão querido, procuraram diversos objetos: um livro de piedade, uma relíquia do Santo de sua especial devoção, um crucifixo, as Sagradas Escrituras, sem lograr satisfazer a insistência do pobre agonizante:
– Por favor, tragam-me a chave do Céu!
Finalmente, um dos religiosos com quem mais havia convivido teve uma inspiração: correu à alfaiataria, apanhou uma agulha usadíssima e entregou-a ao moribundo. Este, agradecido e aliviado, tomou com mãos trêmulas o pequeno instrumento, inseparável companheiro durante os longos anos de vida religiosa, osculou-o, persignou-se com ele e rendeu sua alma a Deus, alegre e em paz.
Ele não se havia equivocado. De fato, tal objeto, do qual se utilizara durante a vida não só para costurar, como também para se santificar, na prática heroica da virtude da caridade, servia-lhe de chave, ao transpor os umbrais da morte, para poder penetrar no gozo da visão beatífica.
Verídica ou não, esta breve história nos lembra que a santidade consiste em praticar todos os atos de nossa vida, até os mais insignificantes, por amor a Deus e ao próximo. Ensinamento contido no Evangelho, pela pregação e exemplo do Divino Redentor, que supôs uma autêntica mudança nos padrões morais da humanidade.
O amor a Deus e ao próximo em todos os atos da vida
Quem nunca experimentou, ao menos uma vez na vida, a alegria sobrenatural que invade a alma quando nos debruçamos com dedicação e desinteresse sobre as necessidades de outrem, procurando fazer-lhe o bem?
É a posse desta alegria, por ora passageira, depois eterna, que Jesus nos propõe. Somos convidados a rejeitar o erro de conceber o amor como pura explosão de sentimentos, quando não como manifestação de egoísmo, movido pelo interesse pessoal; somos convidados a abraçar a santidade, procurando fazer tudo – desde varrer o chão ou limpar uma vidraça, até governar uma nação – por amor e com amor, como o frade alfaiate.
Em nossos dias tão conturbados, quando os homens, quiçá mais do que no mundo antigo, correm atrás das vantagens pessoais e se debatem numa sociedade dominada pelo orgulho, pelo ódio e pelo desprezo, ignorando as obrigações da caridade e deixando de lado a glória de Deus, as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo ressoam, mais uma vez, como um apelo à mudança de vida.
Não sejamos surdos a este divino convite. Depositemos nossa confiança em Maria Santíssima e abracemos o admirável exemplo do Homem-Deus, que não hesitou em entregar até a última gota de sangue e linfa por cada um de nós.
Se vivermos nessa impostação de espírito, será possível criar um ambiente de benquerença e respeito que estimule as pessoas à prática da virtude, pois, segundo as palavras do Apóstolo, “o amor é o vínculo da perfeição” (Col 3, 14). Só assim construiremos uma civilização mais cristificada e, ao completarmos o curso desta vida, abrir-se-ão para nós as portas do Céu.
Por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 206, fevereiro 2019.
Deixe seu comentário