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Carlos Martel e a Batalha de Poitiers

Por especial desígnio da Providência, o califa de Damasco admitiu num dos mais altos cargos do governo um valoroso católico, que teve um filho chamado João.  

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Redação (23/02/2022 08:48, Gaudium Press) Residia nas cercanias daquela cidade um monge dotado de prodigiosa cultura que transmitiu seus conhecimentos ao jovem João, o qual os assimilou e desenvolveu com sabedoria. Tendo falecido o pai de João, o califa, admirado pela ciência adquirida pelo filho, nomeou-o grão vizir.

       O Imperador do Oriente, Leão, o Isáurico, incentivado por judeus, promoveu atroz perseguição à Igreja mandando destruir as sagradas imagens.

       Ele obrigou, sob pena de morte, que todos habitantes de Constantinopla levassem as imagens que possuíam à praça central da cidade, onde foi feita enorme fogueira que as consumiu. De todas as igrejas foram arrancados os mosaicos, pinturas, baixos-relevos. Os católicos que resistiram foram mortos ou tiveram um braço ou perna decepados.

        Para combater a heresia iconoclasta, o Grão vizir João escreveu obras defendendo o culto de imagens, as quais tiveram grande repercussão em Constantinopla.

Mão direita decepada

       Instruído pelo ímpio Isáurico, um hábil copista, imitando a letra de João, redigiu uma carta “assinada” por este ao imperador, recomendando-lhe que fizesse uma investida militar contra Damasco a fim de libertá-la dos maometanos.

       A falsa missiva foi enviada ao califa que ao lê-la mandou cortar a mão direita do grão vizir, dizendo que no dia seguinte ele seria degolado. Durante a noite, prosternado diante de uma imagem de Nossa Senhora, João pediu à Virgem que o ajudasse a provar sua inocência. Milagrosamente, a mão cortada veio unir-se ao braço ensanguentado.

       Verificando pessoalmente o milagre, o califa quis restabelecer João no cargo, mas ele preferiu passar o resto de sua vida num mosteiro, onde se tornou presbítero, dedicou-se aos estudos e alcançou a plenitude da santidade. Entregou sua alma a Deus em 749.

       Escreveu diversas obras teológicas de tanta profundidade que foi posteriormente declarado Doutor da Igreja. “São João Damasceno é por excelência o teólogo da Encarnação.”

O Islã queria banir do mundo a Religião Católica

       Na França, Dagoberto I havia reunido os diversos reinos num só. Após sua morte, em 639, surgiram soberanos tão preguiçosos que ficaram conhecidos pelo desprezível título de “rois fainéants – reis que nada fazem”. O poder passou a ser exercido pelos então chamados prefeitos de palácio, sendo que um deles marcou a História: Carlos Martel, nascido em 688.

       Escreve Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

       “Em fins do século VII de nossa era, a Civilização Cristã e a Igreja atravessavam períodos difíceis que, humanamente, não poderiam ser vencidos.

       “A França, que a conversão de Clóvis tornara o ponto de apoio da obra civilizadora da Europa bárbara, estava retalhada e decadente, governada pelos reis fainéants. As heresias fermentavam aqui e acolá; as hordas bárbaras conservavam a sua idolatria, os costumes cruéis e hostilizavam o Papa; havia ainda resquícios do antigo paganismo e o Oriente já fazia ameaças de cisma.

       “E contra todo este mundo cristão, assim desgarrado e desorganizado, levantava-se o colosso muçulmano, forte e coeso, e até então invencível, e que, numa guerra já secular, queria banir do mundo a Religião Católica.

       “Foi então que surgiu aquele senhor da Nêustria e da Austrásia [Carlos Martel], cujos territórios são os do Norte da França, […] que, em Poitiers, quebrou a arrogância do Islã, e marcou o início da decadência maometana.

       “Esse mesmo guerreiro valente, que defendeu o Papa das hordas lombardas e o livrou da insolência dos gregos, mereceu a coroa da França e, mais ainda, mereceu da Providência ser o avô de Carlos Magno, o Imperador que levou aos confins da Europa a Fé e a civilização.”

Muçulmanos sofrem fragorosa derrota

       Os sarracenos, que dominavam quase toda a Espanha, se precipitaram contra a França praticando morticínios. Bordeaux, no Sul, foi arrasada e a população passada a fio de espada.

       Caminharam rumo ao Norte e, em Poitiers, Carlos os enfrentou. “Os francos, pesadamente equipados, usavam cotas de malha e capacetes de metal; os muçulmanos, montados em pequenos e fogosos cavalos, conduziam o ataque como um turbilhão. […]

       “As suas cargas loucas, em pleno galope, chocaram-se contra os batalhões quadrados dos francos”.  375.000 maometanos morreram, enquanto que do lado francês houve apenas 1.500 baixas. Esse número de muçulmanos mortos explica-se pelo fato de que eles levavam consigo suas mulheres – são polígamos – e crianças, pois pretendiam habitar na França.

       Após essa batalha, o heroico vencedor adquiriu o sobrenome de Martel, que significa martelo, “por causa da enorme maça de armas que manejava alegremente em combate”.

Carlos Martel se declara protetor do Papado

       Do próprio campo onde se realizara a batalha, ele enviou mensageiros ao Papa São Gregório III a fim de comunicar-lhe a vitória. Levavam belos objetos, encontrados entre os despojos, para ornar a Basílica de São Pedro. Nas regiões em que passavam, eram recebidos com entusiasmo pela população.

       Em todas as igrejas da França e da Itália, houve solenes cerimônias de ação de graças. Os emissários francos receberam a ordem de dizer ao Pontífice que Carlos Martel, seu filho, após ter sido objeto de uma proteção tão extraordinária de Nosso Senhor Jesus Cristo, se declarava o protetor do Papado e não permitiria que alguém fizesse o menor insulto ao Vigário de Cristo.

       São Gregório III, em reconhecimento, enviou a Carlos Martel as chaves do túmulo de São Pedro e partes das cadeias do Príncipe dos Apóstolos. Atingido por uma enfermidade, o herói de Poitiers, em 741, entregou sua alma a Deus.

       Teve ele um filho que se tornou Arcebispo de Rouen e atingiu a glória dos altares: São Remígio. Sua memória é celebrada em 19 de janeiro.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja

 

 

 

 

 

 

 

 

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