São João Fisher
No dia 22 de junho a Igreja celebra a memória de São João Fisher, juntamente com a de São Tomás Morus, ambos martirizados na Inglaterra por se recusarem a aderir à revolta de Henrique VIII contra o Papado.
Redação (22/06/2023 08:32, Gaudium Press) São João Fisher tinha sido capelão da mãe de Henrique VII e chanceler da universidade de Cambridge, antes de ser nomeado Bispo de Rochester.
Opôs-se ao divórcio de Henrique VIII e Catarina de Aragão, bem como à constituição da igreja anglicana. Tendo negado a prestar o juramento exigido pelo rei aos bispos ingleses, foi detido e encarcerado na Torre de Londres.
Durante sua reclusão, em maio de 1535, foi feito Cardeal pelo Sumo Pontífice Paulo III.
São João Fischer foi condenado a morrer por torturas, mas a pena lhe foi comutada para decapitação, devido ao muito debilitado estado de saúde em que se encontrava.
Assim, nas primeiras horas do dia 22 de junho, o oficial da Torre encontrou-se com o prisioneiro na cela, recordou-lhe que era idoso e não poderia suportar o regime do cárcere por longo tempo. Em seguida, declarou-lhe ser vontade do rei que a execução tivesse lugar naquela mesma manhã.
— Está bem — respondeu o santo —, se é essa a mensagem que me trazeis, não constituiu para mim novidade. Espero-a todos os dias. Que horas são?
— Cerca de cinco.
— Para que horas foi marcada a minha partida deste mundo?
— Às dez.
— Então, agradeço-vos que me deixeis dormir uma hora ou duas mais, pois não dormi muito essa noite, não por medo, mas por causa de minhas doenças e grande fraqueza.
Tranquilidade na hora da morte
Ao voltar às nove horas, o oficial encontrou Fischer de pé e vestido. O santo Bispo tomou o novo Testamento e com grande consolação leu essas palavras de São João:
Ora, a vida eterna é essa: Que te conheçam a ti como um só Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei sobre a Terra, acabei a obra que me deste para fazer; e agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo com aquela glória que tínheis em si antes que houvesse o mundo.
Depois, pediu que lhe dessem seu manto forrado. Ao que lhe interrogou o oficial:
— Mas, meu senhor, por que haveis de ter um tal cuidado com vossa saúde, se vosso tempo está contado, e pouco mais tendes que uma hora de vida?
— Peço meu manto para me conservar aquecido até o momento da execução. Pois ainda que não me falte coragem quanto a morrer santamente, não quero, entretanto, comprometer minha saúde nem um minuto sequer.
Caminhou rumo ao cadafalso endireitando seu corpo tão magro e descarnado que parecia que a morte tinha tomado a forma de um homem. Sobre o patíbulo, com voz inteligível e clara pediu aos que assistiam a execução que rezassem por ele:
— Até agora nunca tive medo da morte; contudo, sou carne. E São Pedro, receando-a, negou o Senhor três vezes. Ajudai-me, pois, a que no instante preciso em que eu receba o golpe mortal, não ceda por fraqueza em nenhum ponto da Religião Católica.
Já no lugar do suplício lhe ofereceram o perdão por várias vezes, se quisesse dizer o que dele esperavam. Mas foi inabalável.
Após o suplício, seu corpo ficou exposto, desnudo, durante todo o dia. Sua cabeça, espetada numa lança, foi posta na ponte de Londres. Quinze dias depois, como ainda parecesse viva e o povo começasse a acreditar num milagre, foi lançada ao Tâmisa.
Confiar em Nossa Senhora para enfrentar a morte
Eis para nós, católicos, um modelo de como enfrentarmos o momento de nossa própria morte. Tenhamos esse espírito de vigilância e humildade manifestado por São João Fisher. Nunca imaginemos que, por praticarmos boas obras de apostolado, não seremos tentados nem fraquejaremos na última hora.
Devemos, sim, pedir a graça de sermos vigilantes sobre nós mesmos, a graça de resistir sempre à tentação quando esta se apresente, compreendendo que o espírito pode estar pronto, mas a carne é fraca.
Como nos recomenda a Santa Igreja, a graça de termos uma boa morte deve ser pedida com toda a insistência, pois não sabemos o que pode nos suceder no derradeiro instante de nossa vida.
De modo especial peçamos a Nossa Senhora que nos assista com sua misericórdia no momento de deixarmos este mundo rumo à eternidade.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Dr. Plinio n. 123, Junho 2008.
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