O preço de um resgate
Em um determinado momento de nossas vidas, Deus nos pede um “absurdo”, exigindo que tenhamos fé e certeza na vitória do bem em meio às tormentas.
Redação (21/01/2021 15:10, Gaudium Press) Se a pessoa não aceita bem as disposições de Deus, é levada a julgá-Lo com parâmetros humanos e a achar que Ele age por capricho, criando, assim, uma barreira irremediável em suas relações com o mundo sobrenatural.
Vejamos uma história na qual um pai de família, posto no terrível dilema de escolher entre salvar a vida de seu próprio filho, ou deixá-lo morrer afogado e salvar a de um estranho, tomou uma decisão heroica. Qual foi o resultado?
Era domingo, terminara a Missa. O zeloso sacerdote, muito estimado pelos seus paroquianos, convidou para vir à frente um ancião de aspecto venerável.
Este, após os costumeiros cumprimentos iniciais, disse-lhes:
“Eu quero contar-lhes um fato ocorrido há vários anos, a fim de tirarmos uma lição. Tenho certeza de que todos gostarão de ouvir esta narração.
“Um pai de família, seu filho adolescente e um amigo deste navegavam num barco pelo mar quando foram surpreendidos por violenta tempestade.
“Marinheiro experimentado, o pai tratou de regressar logo à praia. Mas era tarde… As ondas eram tão violentas que em pouco tempo ele perdeu o controle da embarcação.
“Depois de quatro horas de intensa luta para se manter à tona, uma gigantesca onda varreu o frágil barco, arrastando para o mar os dois jovens. Já era noite.
“Sem tardança, o pai pegou a única boia de resgate que havia e teve de tomar a mais difícil decisão de sua vida: a qual dos dois jovens deveria ele lançar a boia?
“Não tinha mais que alguns instantes para decidir. Sabia ele que seu filho era católico praticante, sério cumpridor dos Mandamentos; mas que seu amigo, infelizmente, não o era.
“Maior que o ímpeto das ondas no mar era a angústia da decisão a tomar, no coração desse pai. Ele via os dois jovens a poucos metros um do outro e sabia bem que só conseguiria salvar um. Qual dos dois?!
“Foi, porém, curta sua hesitação. Com voz lancinante, bradou:
“‘Ouça-me, meu filho, você conhece o imenso amor que lhe tenho. Ponha-se nas mãos de Deus e recomende-se a Maria Santíssima!’ E atirou a boia para o outro, salvando-o.
Quanto ao filho, em poucos instantes desapareceu de sua vista, arrastado pelas ondas. Não se encontrou sequer seu cadáver.”
* * *
Considerando com serenidade a ansiosa expectativa de seus ouvintes, o ancião tirou a seguinte conclusão do comovente drama narrado:
“O pai sabia que seu filho, morrendo, iria para a eterna Bem-Aventurança com Nosso Senhor. Mas temia pelo destino do seu amigo, pois este trilhava na vida o mau caminho. Foi por isso que decidiu abandonar seu filho ao sabor das ondas, para salvar a vida do outro.
“Quão grande é o amor de Deus, que fez exatamente o mesmo por nós! Ele sacrificou seu Filho único para nossa salvação.
“Então, eu lhes suplico que façam sempre esta reflexão, sobre a oferta de resgate que Nosso Salvador oferece por todos os homens, todos os dias, no Sacramento da Eucaristia.
Agarrem-se a essa divina boia!”
* * *
Os assistentes retiraram-se aos poucos, em profundo silêncio. Na saída, um jovem que havia observado com especial atenção o velho homem ao longo de sua emocionante narrativa, aproximou-se dele e lhe perguntou:
— Foi uma bonita história que o senhor nos contou, e ela nos ajuda a compreender melhor o amor que Deus provou ter aos homens, entregando seu Divino Filho pela salvação de cada um de nós. Mas será que esse pai viu bem a realidade naquele trágico instante em que decidiu deixar morrer afogado seu filho, com a esperança de que o outro se convertesse? E o outro se converteu?
Expressando em sua fisionomia dor e, ao mesmo tempo, alegria, o homem respondeu com doçura:
— Compreendo o que você diz, meu caro jovem. Pode ser que ele não tivesse visto bem a realidade no angustiante momento de tomar aquela terrível decisão. É bem possível. Mas tenho algo mais a lhe dizer: é que esse pai sou eu, e o amigo de meu filho é o seu Pároco…
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.26, fevereiro 2004.
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