São Nicolau ou Papai Noel?
Comemora-se a festa de São Nicolau no dia 6 de dezembro. A maioria das crianças sabe responder de onde vem o famoso Papai Noel: “Do Polo Norte!” Entretanto, poucos conhecem São Nicolau, figura que parece ter sido apagada da História…
Redação (06/12/2023 08:00, Gaudium Press) Quando todos já se encontram imersos num profundo sono, através da chaminé da casa ou por alguma outra entrada que muitos até hoje não descobriram, surge um personagem. De terras longínquas, ele chega voando num característico trenó puxado por renas, com ares de carruagem, transporte no qual toda criança algum dia já fez questão de se sentar, ainda que em sonhos…
Ora, o que faz esse misterioso visitante – curiosamente, nunca confundido com um ladrão – que chega “atrasado” na noite natalina, enquanto todos já dormem?
De barbas sempre alvas e compridas, ele vem trazendo “surpresas” escondidas em grandes sacos vermelhos: presentes de toda espécie, os quais distribui com abundância e despretensão, como quem deseja agradar sem esperar retribuição.
Este generoso personagem é conhecido por alguns como Papai Noel, e por outros como Santa Claus. Ambos os nomes referem-se à mesma pessoa, cuja fama é verdadeiramente mundial e perdura até os nossos dias, mais viva do que nunca, dando-nos a impressão de que será eterna!
Toda criança, em qualquer localidade do globo terrestre, sabe dizer de onde vem Santa Claus: “Do Polo Norte!” Ora, será mesmo este seu ponto de partida?
Defensor da Fé e generoso pai
Na realidade, esta figura natalina não é tão imaginária quanto parece. Ela remonta a um varão que nasceu no século III na Ásia Menor – portanto, não no Polo Norte! –, mais precisamente onde hoje se localiza a Turquia.
De nome Nicolau, nasceu ele de uma família abastada, na Lícia, província romana situada junto ao Mar Mediterrâneo. Pelas virtudes que brilhavam em sua alma, foi eleito Bispo de Mira, uma das mais importantes cidades da região, exercendo o ministério com energia e bondade.
Sempre zeloso da sã doutrina, tomou medidas severas contra o paganismo e combateu incansavelmente as heresias. Mas foram suas obras de caridade para com o próximo que o fizeram célebre em todo o orbe cristão.
Milagres feitos em vida
Um desses fatos se tornou conhecido ainda durante sua vida, valendo-lhe a devoção dos fiéis e uma forte fama de santidade.
Naquela época havia em Mira um juiz que, sob a pressão do suborno, condenou à morte três homens inocentes. Ora, no momento da execução, o bondoso Nicolau apareceu no local, arrancou a arma das mãos do verdugo, repreendeu o iníquo juiz e deu a liberdade aos sentenciados.
Pouco tempo depois, ocorreu em Constantinopla outro fato similar: três oficiais foram indevidamente condenados. Pobre justiça secular, tantas vezes regida pela infâmia da ambição em lugar do amor à Verdade! Estes réus, porém, haviam presenciado a cena acima narrada e não duvidaram: cheios de devoção pela figura imponente e paternal de São Nicolau, puseram-se logo a rezar, rogando a ele que também os salvasse, ainda que à distância… E eis que, naquela mesma noite, o Imperador Constantino teve um sonho com o Santo, no qual recebia dele a ordem de libertar aqueles infelizes, porque eram inocentes!
No dia seguinte, Constantino chamou os três condenados e, interrogando-os, tomou conhecimento de que haviam invocado a “Nicolau de Mira”, pedindo-lhe o seu auxílio. Comovido, o imperador os soltou.
O padroeiro das crianças!
São Nicolau morreu no dia 6 de dezembro, em meados do século IV. As virtudes praticadas por esse varão levaram-no a atingir um alto grau de santidade, e seus milagres post mortem serviram para enaltecê-lo ainda mais. Tornou-se assim, rapidamente, um dos Santos mais conhecidos da Igreja Católica.
O mais famoso de seus títulos foi o de “padroeiro das crianças”. E isto se deve principalmente a dois episódios. O primeiro aconteceu quando o santo Bispo soube que o pai de três moças estava em sérios apuros financeiros e não conseguiria pagar o dote necessário para o casamento das filhas, o que as levaria a adotar uma vida errante…
Cheio de compaixão pelos membros dessa família, Nicolau dirigiu-se até a casa onde moravam e, oculto pela penumbra da noite, lançou pela chaminé um saquinho cheio de moedas de ouro, a fim de ajudá-los. Assim o fez por três vezes. Algumas versões da história chegam a afirmar que um destes generosos saquinhos caiu justamente dentro da meia de uma das jovens, que estava pendurada na chaminé secando…
O segundo fato consiste num magnífico milagre operado em vida por São Nicolau: a ressurreição de três meninos que haviam sido assassinados! Este foi o acontecimento que terminou por consagrá-lo oficialmente como patrono e protetor das crianças.
Desse modo, em vários países estabeleceu-se a piedosa tradição de dar presentes às crianças todo 6 de dezembro, em honra a São Nicolau.
Como pôde transformar-se em Papai Noel?
O que o Papai Noel tem a ver com essa descrição sobre São Nicolau? Como se converteu o tão virtuoso Bispo de Mira num habitante do Polo Norte que, em uma só noite, distribui presentes de Natal a todas as crianças do mundo?
A transformação do Santo numa quimera tem suas mais remotas origens na Reforma Protestante. Assim como há muitos séculos o Imperador Diocleciano havia tentado acabar com a pessoa de Nicolau, os reformadores procuraram apagar da História e, sobretudo, dos corações dos fiéis a lembrança deste grande varão.
Contudo, a devoção a ele estava tão arraigada na Europa que não desapareceu por completo. A figura de São Nicolau misturou-se com entes mitológicos, alguns deles bem antipáticos e agressivos, dando origem a personagens como o Sinterklaas holandês, que passou ao Novo Mundo com os imigrantes desta nação.
Ao longo do século XIX, ele foi tomando em Nova York sua fisionomia atual. Em 1822, o poeta Clement Clarke Moore escreveu um livro intitulado A Visit from Saint Nicholas, no qual apresentava um personagem vindo do Norte, em um trenó de renas voadoras. Anos mais tarde, em 1863, o caricaturista político Thomas Nast fez um desenho para a revista Harper’s Weekly, no qual já apresentava as características que hoje conhecemos: um homem de idade avançada, corpulento, risonho, de barbas brancas abundantes.
A partir de então, várias empresas passaram a se aproveitar desta figura natalina como meio de publicidade, inclusive a Coca-Cola, responsável por consagrar definitivamente seu traje vermelho e branco, em 1920.
Festejemos o Natal com autêntico espírito de fé!
Como se pode ver, Santa Claus é, portanto, a distorção do santo e generoso Bispo de Mira.
Aquele virtuoso varão que brilhou por sua caridade e soube proclamar a verdadeira fisionomia cristã do Natal foi substituído pelo laico Papai Noel que hoje conhecemos e transformado em propagador do consumo. Para muitos homens de hoje, Santa Claus está no centro de todas as comemorações, tomando o lugar do Menino Jesus, causa e alegria do Natal!…
Portanto, muito mais do que simples nomenclaturas históricas, poder-se-ia dizer que esses personagens – Papai Noel e São Nicolau – simbolizam, perante o sublime fato do nascimento do Divino Infante, duas mentalidades opostas: uma é a daqueles que, com os horizontes postos neste mundo terreno, “voam” pelos ares das fantasias frívolas apresentadas pelo consumismo; a outra é a dos que com alegria e fé preparam suas almas para receber no Natal não somente o simpático Bispo de Mira com seus presentes, mas o próprio Homem-Deus!
Peçamos, então, a intercessão de São Nicolau, a fim de que ele nos conceda neste Natal os presentes espirituais dos quais carecem nossas almas, para que, como ele, possamos ser generosos, retribuindo com uma vida pura todo o amor que emana do Coraçãozinho do Menino Deus por cada um de nós.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 228, dezembro 2020. Por Ir. Antonella Ochipinti González, EP
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