Santo Inácio de Loyola: o conquistador da América e do Brasil
A vida de Santo Inácio de Loyola nos mostra como ele, diante de Deus, foi um verdadeiro conquistador. Se Cristóvão Colombo e outros descobridores tiveram o mérito de encontrar novas terras, Santo Inácio e sua Companhia tiveram a glória de batizar um novo continente.
Redação (30/07/2020 14:55, Gaudium Press) Instalado em um convento franciscano, o inesquecível descobridor da América sonhava encantado com as maravilhas de além-mar. Cristóvão Colombo estava extasiado com as histórias de Marco Polo sobre o reino de Xipangu. As pontes de madrepérola, as montanhas de ouro e as praças com bancos de esmeralda só faziam multiplicar os planos, os mapas e as teorias do navegador genovês. Sua pertinaz ideia de chegar àquela terra de sonhos parecia loucura para alguns; para outros era um investimento tão custoso quanto duvidoso e não valia a pena arriscar.
Com efeito, a Espanha católica ainda estava em luta pela reconquista e o rei Fernando julgou ser demasiado temerário investir as riquezas do Tesouro Real numa aventura tão incerta. Era o ano de 1491 e as esperanças de Colombo o angustiavam.
O nascimento de um conquistador
Neste mesmo ano, 1491, nascia, no Castelo de Loyola, o oitavo filho de D. Beltrán Yáñez de Oñaz y Loyola e de D. Marina Sáenz de Licona y Balda. Esta família nobre e distinta o batizaria com o nome de Íñigo que, mais tarde, ficaria conhecido como Inácio.
Ainda menino, conheceu o rei Fernando, a quem deixou encantado por sua inteligência e nobreza. Estas características, bem como um feitio considerado belo em sua época, lhe trariam uma verdadeira escravidão à vaidade durante largos e infelizes anos.
A descoberta de almas para conquistar
Em janeiro de 1492, afinal, Fernando e Isabel – os reis católicos – terminariam de reconquistar a última cidade da Espanha que permanecia em domínio mouro. Com a expulsão de Boabdil – o rei mouro – da região de Granada e pela intervenção de um ou dois homens que davam crédito aos planos de Colombo, a viagem finalmente foi patrocinada pela rainha. Naquele mesmo ano, Santa Maria, Pinta e Niña cruzariam o Atlântico sob as ordens do esperto genovês. Apesar de não encontrarem bem exatamente o que prometiam os lábios de Colombo, pelo menos descobriram, de fato, novas terras para o rei de Espanha.
O que havia, isto sim, era muita gente para ser instruída na lei de Deus, na religião, nas letras e nos costumes; havia almas para educar, ensinar e salvar. Quem se encarregaria disso? Alguém precisava conquistar aquelas almas para Cristo!
Vaidade, vaidade…
Esse alguém ainda estava sendo preparado por Deus…
Inácio de Loyola tinha 21 anos quando partiu para a guerra contra os franceses em Pamplona, no ano de 1512.
Ferido na perna esquerda por lascas de pedra e, logo depois, na direita por estilhaços de uma bala de canhão, o valente e vaidoso Inácio cai por terra, sem condições de continuar a luta.
Depois de alguns dias, prestes a morrer, o guerreiro pede os sacramentos. Todavia, naquela mesma noite, o Apóstolo São Pedro lhe aparece em sonho. Muito bondosamente, o Príncipe dos Apóstolos impõe a mão sobre suas feridas e as cura. Ao acordar, Inácio já não sentia mais os perigos iminentes da morte e, dentro de poucos dias, estava de pé, curado.
Uma decepção, entretanto, veio desanimar o vaidoso combatente. Ele era o mais belo nobre da corte; não podia ser que, por causa daquela enfermidade, permanecesse coxo e disforme como havia ficado. Chamou, então, o médico e lhe disse que seria necessário tirar a saliência de cima do joelho. Para isso, ele deveria fazer uma abertura de tamanho suficiente para pôr o osso a descoberto, a fim de arrancar toda a protuberância.
O médico disse a Inácio que infelizmente isso não poderia ser feito, pois um homem não era capaz de suportar uma dor como esta, visto que, para atender seu pedido, seria necessário serrar o osso. Impaciente, respondeu-lhe Inácio: “Pois então serre!”. E assim foi feito.
Eu quero ser santo!
Meses ainda o torturariam na cama para recuperar-se da violenta cirurgia. A vaidade era a única anestesia mas, por ela, Inácio suportaria tudo!
O isolamento e o aborrecimento faziam com que o vaidoso guerreiro mergulhasse nos romances de cavalaria, então muito em voga na Espanha. Ao final das leituras, sobraram-lhe apenas dois livros – imediatamente rejeitados por Inácio: Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e Flor dos Santos.
O tempo corria e o amargo ócio obrigou-o, a contragosto, iniciar a leitura do que restara. Apesar do tédio inicial, Inácio logo se deleitou com a vida dos santos. Aqueles exemplos de humildade e heroísmo encantaram o jovem enfermo, sobretudo, porque aqueles eram homens que não punham nesta terra suas esperanças e suas glórias, mas sim, em Deus e na eternidade. Foi então que, resoluto, mas não sem lutas interiores, Inácio de Loyola cravou nas linhas da História, por um só brado, a sua conversão: “Eu quero ser santo!”.
A conversão de um homem conquista a de um continente inteiro
A partir da conversão de Inácio, começaram para ele graças realmente extraordinárias de convívio com a Santíssima Virgem, com Nosso Senhor Jesus Cristo e com os santos. As comunicações com o céu e as abundantes graças místicas o instruíam na santidade, nos escritos – como ocorreu com os exercícios espirituais –, no apostolado e na fundação da Companhia que deveria dar-se no futuro.
Por esta conversão, Santo Inácio de Loyola começava a idealizar, em seu coração, uma ordem religiosa com características marcadamente militares para a conquista das almas. Por essa Companhia, os missionários iriam do Japão ao novo continente de Colombo, guiando, ensinando, instruindo, santificando e salvando almas, povos e nações inteiras.
A fundação da Companhia de Jesus
Depois de uma longa história marcada inclusive pela mendicância, por peregrinações, pelo sacerdócio, por promessas, pelos acidentes em viagens por terra e por mar, veio a aprovação das constituições escritas por Inácio. Ela foi reconhecida pelo Papa Paulo III e com ela estava fundada, por Santo Inácio e seus discípulos, a Companhia de Jesus, não sem enormes dificuldades. Era o ano de 1540, e Inácio, apesar de tudo, não queria se considerar o Fundador pois julgava que sua missão era apenas a de organizar e guiar a Companhia de Jesus.
Os missionários
Por intercessão de Diogo de Gouveia, os primeiros missionários da Companhia de Jesus foram enviados para a Índia, já que, naquela época, o rei de Portugal havia ganhado terreno nessa parte do Oriente.
O êxito apostólico, apesar das contrariedades e dificuldades, logo fez expandir a obra de Santo Inácio por outras partes da Terra.
O Brasil de Santo Inácio
Ainda antes de morrer em 31 de julho de 1556, aos 65 anos, Santo Inácio havia deixado, em todo o mundo, um modelo de santidade. Deste modelo se configuraram homens como São Francisco Xavier e tantos outros santos incomparáveis, dentre os quais, um tão estimado apóstolo e incansável pregador: São José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil.
Se houve uma época em que o Brasil foi um país católico, em larga medida isto se deve a Santo Inácio. Sendo ele o pai espiritual do Padre José de Anchieta e do Pe. Manuel da Nóbrega, sem dúvida pode ser considerado pai de todos os brasileiros que, por sua causa, herdaram esta fé católica.
Ora, se hoje não vemos mais neste país o triunfo da fé, com certeza, é porque os homens preferiram voltar à antiga vaidade e à leitura dos romances, em vez de abandonar tudo isso para imitar a vida dos santos.[1]
Por Cícero Leite
[1] Os dados biográficos de Santo Inácio de Loyola foram extraídos de: DAURIGNAC, J. M. S. Santo Inácio de Loiola: fundador da Companhia de Jesus. Trad. M. Fonseca. 4 ed. Porto: Apostolado da Imprensa. 1958.
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