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Viver no tempo sob a perspectiva da eternidade

Que tempo é este? Qual é o tempo que estamos vivendo? Os ponteiros do relógio avançam sem interrupção, sucedem-se os segundos, os minutos vão passando. A nossa vida se pauta pela expectativa do dia de amanhã…

Clessidra

Redação (24/01/2021 14:54, Gaudium Press) Quando recebemos o Batismo, passamos da condição de puras criaturas humanas à de filhos de Deus. No instante em que as águas batismais caíram sobre nossas cabeças, todos os pecados que pudéssemos haver cometido, se fomos batizados depois de adultos, foram perdoados — inclusive os piores crimes — e a nossa alma foi revestida de uma branca túnica.

É neste estado que devemos mantê-la durante a vida inteira; e se vier a acontecer que um pedaço desta veste da inocência fique preso numa cerca ou seja ela manchada pela lama, basta um exame de consciência coroado por um pedido de perdão e a absolvição sacramental para que seja restaurada.

O importante é conservá-la sempre alva, porque a qualquer hora — até mesmo no dia de hoje! — podemos ser chamados a prestar contas e, sem esta prerrogativa, não seremos aceitos no Reino de Deus.

A quem de nós foi revelado o momento da morte? Nem sequer alguém muito jovem sabe se durará longos anos…

“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”.

Aos olhos de Deus o tempo não existe, porque tudo é presente. Assim, enquanto filhos de Deus nós somos convidados a viver em função da eternidade.

Quando Deus nos chama, quando nos toca com uma graça no fundo da alma, como respondemos a este apelo? Em todas as circunstâncias da vida Ele está nos convidando ad maiora. Qual é a nossa reação? Nossos círculos sociais, determinadas relações de amizade, os afazeres diários, por vezes, nos afastam do verdadeiro objetivo, sugerindo-nos um sonho naturalista e mundano que não considera a eternidade.

Caprichos, manias, visualizações erradas, egoísmos, más inclinações precisam ser combatidos e rejeitados imediatamente, porque “o Reino de Deus está próximo”. Somos impelidos a ascendermos a um patamar diferente. No que consiste ele?

A partir do momento em que fomos elevados ao plano da graça pelo Batismo, não podemos mais obedecer aos ditames do mundo, nem ter como motor das nossas ações interesses pessoais, vaidades e orgulho. Assim, somos chamados a conversão.

Converter-se significa mudar de vida, tomar um rumo diferente do que vinha sendo seguido. Ou seja, sair de uma situação materialista, naturalista e humana, para assumir uma postura angélica, sobrenatural e divina; esquecer os problemas banais para fixar-se numa perspectiva nova, não mais a do tempo, mas a da eternidade, isto é, a do Reino de Deus.

Devemos viver dos Sacramentos, da oração, de tudo aquilo que nos auxilia no cumprimento de nossa vocação individual e abandonar a tudo o que nos liga às coisas terrenas, porque a nossa existência passou a ser outra! Estamos “angelizados”!

“O tempo está abreviado”

As crianças têm a impressão de que o tempo demora a passar; um mês, é interminável. No entanto, conforme avançamos em idade, um ano parece um esfregar de olhos… Os dias se escoam rápido, e para quem tem experiência da vida tornam-se cada vez mais curtos, consumindo-se em acelerada contagem regressiva.

De fato, quando se parte deste mundo o tempo é nada! E por mais que se venha a descobrir uma pílula capaz de prolongar a longevidade humana até 120 ou 240 anos, o que seria isto em comparação com a eternidade?

Por isso prossegue o Apóstolo: vivam “os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres; e os que fazem compras, como se não possuíssem coisa alguma; e os que usam do mundo, como se dele não estivessem gozando. Pois a figura deste mundo passa” (I Cor 7, 30-31).

Havendo motivo, é bom derramarmos lágrimas, estarmos alegres, adquirirmos bens, usarmos das coisas do mundo que, de si, são lícitas; todavia, não depositemos nisto a nossa esperança, nem nos deixemos fascinar a ponto de nos esquecermos de Deus.

Chegada a hora da morte o corpo repousará no túmulo e a alma se encontrará diante d’Ele para ser julgada. Então, de que valerá o tempo?

Sabemos que “a figura deste mundo passa”. Que proveito terá aquele que caiu em pecado? No fundo, eis a mensagem paulina: “Tudo o que é legítimo pode ser feito, mas que ninguém ponha nisto o seu coração. Pelo contrário, faça como se não existisse e tenha os olhos fixos na eternidade”.

Deixemos tudo para abraçar a santidade

É preciso meditar no dia do Juízo, quando todos os nossos pensamentos virão à tona. Se correspondermos ao convite de firmarmos o propósito de nos unirmos mais ao Salvador e sermos exemplo de bem, de verdade e de virtude para o próximo, esta boa disposição pesará na sentença de cada um de nós.

Certos da bondade do Mestre, roguemos a Ele que nos dê forças para vencer as dificuldades, pois o caminho do Céu não é fácil.

Compenetremo-nos de que a cada passo nos cabe procurar ser mais perfeitos e conformar nossas almas com a d’Ele, pelo princípio inerrante de que ou progredimos ou nos tornamos tíbios.

Com efeito, na vida espiritual nunca estamos estagnados: quem não avança, retrocede!

Peçamos, pois, a São Paulo, São Pedro, Santo André, São Tiago e São João que nos obtenham de Nosso Senhor Jesus Cristo a graça que eles receberam: deixar tudo para abraçar a via da santidade, seja ela em família ou numa vocação religiosa, com coragem e cheios de confiança!

Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 140, Janeiro 2015.

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