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Vigilância e oração

Fervorosos e medíocres… todos alcançam o Céu?

Foto: Wikipedia

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Redação (12/11/2023 14:54, Gaudium Press) Pouco se sabe sobre a vida privada de Jesus. Porém, iniciada a sua vida pública, o anúncio do Reino dos Céus ocupará a essência da mensagem de salvação trazida por Ele: “Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,17; Mc 1,15). São estas as palavras — afirma São João Paulo II[1] — nas quais Jesus inaugura seu ministério: chama as pessoas à conversão, em razão da proximidade do Reino.

Vemos então, que o Divino Mestre utiliza múltiplas parábolas para descrever este Reino: procurado como um tesouro escondido (cf. Mt 13,44); semelhante a um grão de mostarda lançado à terra, que cresce e torna-se maior que todas as hortaliças (cf. Mc 4,30-32), e ao fermento, que uma mulher tomou e misturou com farinha (cf. Lc 13,20); ou comparado a uma pérola de grande valor (cf. Mt 13, 45) e ainda à boa semente de trigo junto à qual o inimigo semeou o joio (Mt 13,24).

Contudo, particularmente expressiva é a parábola descrita no Evangelho deste 32º Domingo do Tempo Comum: as cinco virgens que saem ao encontro do esposo com suas lâmpadas acesas, e as outros cinco imprudentes[2] que não estavam prontas para a festa, devido à falta de óleo em suas lamparinas.

Que lição terá para nós esta parábola?

Vigiai e orai…

Recordemos aquela passagem do Evangelho, na qual Nosso Senhor sobe ao monte do Getsemani, onde sofreu a sua dolorosa agonia, e deixou verter suor e sangue por causa dos pecados dos homens. Após ter padecido tal suplício, foi ter com os discípulos e encontrou-os dormindo. Então, disse a Pedro: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,40-41). Reparemos que Nosso Senhor ressalta primeiramente a necessidade da vigilância, e, em seguida, trata da importância da oração.

Ora, sem dúvida alguma, a passagem do Evangelho deste dia aponta dois tipos de alma: aquelas que são fervorosas, vigilantes, e as que são tíbias e medíocres. As virgens prudentes souberam se precaver e providenciaram óleo suficiente para o resto da noite, adentrando assim alegremente para a festa, e as outras cinco que pouco se importaram com o pouco óleo que possuíam; chegaram atrasadas e tiveram esta severa resposta do noivo:

“Em verdade eu vos digo, não vos conheço!” (Mt 25,12)

E, como conclusão do Evangelho:

“Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia nem a hora” (Mt 25,13)

Como se explica esta atitude das virgens imprudentes? Elas simbolizam aquelas almas que estão à procura dos deleites do mundo, preocupadas em satisfazer os seus sentidos. Muito pouco se interessam com o Noivo, que é Cristo, e, por isto, são medíocres e tíbias, julgando que o escasso esforço que fazem na prática de alguma virtude é suficiente para alcançar o Céu. O livro do Apocalipse bem expressa a atitude de Deus para com estas almas: “Não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te” (Ap 3, 15-16). A misericórdia de Deus é infinita, mas exige do homem que haja uma correspondência à graça, pois do contrário, como entrar no Céu sem apetência pelo sobrenatural e sem o desapego das coisas terrenas e pecaminosas? Pois “no outro mundo — assevera São João Crisóstomo —, quem não tiver boas obras não poderá ser socorrido por ninguém, não porque não queiram fazê-lo, mas por ser impossível. As virgens insensatas, na realidade, procuraram refúgio no impossível”.[3]

Assim sendo, imitemos o exemplo das virgens prudentes que dedicaram suas vidas pelo Noivo, Deus nosso Senhor, mediante a prática da virtude, da oração, mas também da vigilância, pois cientes da condição de concebidas em pecado original, desconfiaram de si mesmas e depositaram suas esperanças naquele que é capaz de salvá-las das garras do tentador maligno.

Por Guilherme Motta


[1] Cf. JOÃO PAULO II. Encíclica Redemptor Hominis, n. 20 (AAS 71, 1979, 313).

[2] Embora o texto litúrgico apresente a tradução “jovens imprevidentes” e “previdentes”, o texto grego deste Evangelho emprega a expressão “virgens loucas ou néscias”: παρθένος (parthénos) – virgem; μωρός (morós) – louco, néscio; φρόνιμος (phrónimos) – prudente. Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano -São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 2, p. 442.

[3] JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía LXXVIII, n. 1. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (46-90). 2. ed. Madrid: BAC, 2007, v. II, p. 553.

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