Veneza está vazia… o vírus da morte a visitou
A cidade ficou fantasma
Veneza tornou-se uma cidade que parece ter sido abandonada, pelos seus habitantes. Chego à praça de São Marcos, também lá, não encontro ninguém. Até os famosos pombos que brincavam com os turistas nos seus voos rasantes, observam agora tristes e interrogativos, aquele deserto. O que aconteceu no coração da Sereníssima? Seus guerreiros teriam desertado?
Caminho um pouco mais e observo: as lojas, os restaurantes finos, os hotéis famosos. Os músicos que frequentemente, em suas poéticas vielas, homenageavam a Antonio Vivaldi, um de seus filhos, nascido naquelas terras… , as pequenas tendas com preciosos cristais de Murano, tudo emudeceu-se.
A fuga da morte
De repente com num passe de mágica as gôndolas deixaram seus reflexos na água e se refugiaram em algum beco do canal, para fugirem daquele cenário de desolação. A morte, vestida e mascarada como para um baile de carnaval, faz incontáveis vítimas.
Os jornais comentam que as águas tornaram-se mais límpidas. Pergunta-se: não será o reflexo da cor das lágrimas do mar, que chora pela cidade deserta?
Sim! A morte se apresenta de um modo invisível e implacável, que mata através do medo e da desinformação. Minha Veneza deixou seu eterno dia de festa. Não se vestiu de luto, pois não houve tempo para isso. Assim mesmo, ela continua bela com os seus palácios refletidos na águas, mas abandonada…
A lição do passado
Será que o passado trará uma nova lição a esses dias angustiosos em que vivemos? Seus habitantes lembrarão da peste trazida pelo conde de Mantua e que se espalhou rapidamente desde o Campo de San Lio?
Foi naquele 22 de março de 1630, há quase trezentos e setenta anos, no qual o patriarca de Veneza Giovanni Tiepolo fez uma promessa: “prometo solenemente erguer nesta cidade uma igreja e dedicá-la à Virgem Santíssima, chamando-a “Santa Maria della Salute”, e que cada ano no dia em que esta cidade seja declarada livre do presente mal, Sua Serenidade e Seus Sucessores irão solenemente com o Senado visitar dita igreja em perpétua memória da pública gratidão por tanto benefício”.
E na praça de São Marcos, no mesmo mês e ano de 1630, o doge de Veneza Nicola Conarini, o clero e todo o povo reuniram-se para rezar. Terminada a peste o números de mortos somavam-se a 80.000 venezianos e 600.000 no território da Sereníssima República.
Haverá uma nova promessa? Será construída uma nova igreja a Nossa Senhora da Saúde, rogando pela Itália e pelo mundo? Muitas preces subirão aos céus? Só o futuro nos dirá!
Deixe seu comentário