Uma cátedra sobre o Concílio Vaticano II nos Institutos de Teologia
O Concílio Vaticano II é um grande desconhecido! Os novos presbíteros, formadores de opinião no grêmio da Igreja, têm de conhecer o concílio.
Redação (09/11/2023 12:16, Gaudium Press) Alvíssaras! Aproximamo-nos dos 60 anos de encerramento do magnífico Concílio Ecumênico Vaticano II. Comemoraremos este auspicioso sexagenário em 2025. Não há dúvida de que o Papa Francisco vem envidando esforços em prol da implementação do vigésimo primeiro concílio ecumênico. Afinal de contas, um concílio não vira realidade da noite para o dia. É mister o labor de várias gerações. São Paulo VI e São João Paulo II também se dedicaram intensamente a pôr em prática a doutrina e os princípios do Concílio Vaticano II.
Embora a interpretação dos dezesseis documentos do Vaticano II transcorra ao lume da chamada “hermenêutica da continuidade,” consoante frisou excelentemente Bento XVI, o Concílio Vaticano II – e qualquer concílio ecumênico – forjou um particular modo de ser católico. Quamanha diferença entre os tradicionalistas (obstinadamente fixados em certa caricatura do Concílio de Trento) e os católicos realmente afinados com o Concílio Vaticano II e o magistério papal! Nenhum concílio altera a essência da mensagem do Divino Fundador da Igreja, mas descortina caminhos e, muita vez, explicita pontos da doutrina bimilenar. Pensemos, por exemplo, no episcopado como grau do Sacramento da Ordem, item do Magistério esclarecido pelo Concílio Vaticano II.
Infelizmente, o Concílio Vaticano II é um grande desconhecido! Os tradicionalistas assestam-lhe críticas balofas; jamais ouvimo-los enfrentar um texto sequer do esplêndido concílio, provando o porquê de alguma incongruência. Vale dizer, não leem, nem tampouco estudam os documentos.
O recente episódio, largamente divulgado nas redes sociais, de um padre tradicionalista, que desafia o arcebispo de São Paulo, insistindo na celebração da “missa tridentina”, em cabal descumprimento da Traditiionis Custodes, mostra quão imprescindível é a criação de uma cadeira universitária que trate especificamente do Concílio Vaticano II. Os novos presbíteros, formadores de opinião no grêmio da Igreja, têm de conhecer a fundo o concílio; têm de amá-lo e viver sob a égide dos paradigmas do Concílio Vaticano II. Em última análise, aqui se encontra o desiderato do Espírito Santo, que inspirou todos os concílios ecumênicos.
Oxalá daqui para frente, na perspectiva dos 60 anos, os bispos promovam congressos, conferências, palestras etc. a respeito do teor do Concílio Vaticano II, envolvendo maciçamente os leigos. Quantos fiéis não se deixam ludibriar por grupos ultraconservadores e tradicionalistas que só destilam ódio e desunião pela Internet! Gente carente de conhecimento teológico, com a mente forrada de preconceitos e meias verdades.
O sínodo em curso, que discute o tema da sinodalidade (caminhar juntos), aponta meios de concretizar todo o ideário do Concilio Vaticano II. Este é, exatamente, o escopo do sínodo. Podemos dizer, por exemplo, que o Vaticano II resgatou o papel primitivo dos leigos. Desta feita, nada mais consentâneo com o sínodo que a ereção de uma disciplina acadêmica exclusivamente votada ao estudo acendrado dos documentos do Concílio Vaticano II.
Por Edson Luiz Sampel
Professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina
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