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Um Santo que converteu toda sua família

Num castelo da Borgonha – Nordeste da França –, veio ao mundo um varão que, na primeira metade do século XII, iluminou a Igreja e a Cristandade: São Bernardo de Claraval.

Sao Bernardo de Claraval

Redação (19/04/2023 09:25, Gaudium Press) Os pais de Bernardo, que pertenciam à nobreza, tiveram sete filhos: seis homens e uma mulher. Estando grávida de seu terceiro filho, sua mãe sonhou que portava em seu seio um cãozinho de uma brancura deslumbrante, o qual emitia fortes latidos.

Bastante preocupada, consultou um santo eremita que a tranquilizou dizendo: “A senhora dará à luz um menino que será o guardião fiel da casa do Senhor. Pelo poder de suas palavras, incutirá pavor nos inimigos da Igreja e sanará as chagas de grande número de almas”.

 Batalhas para guardar a castidade

Logo após seu nascimento, foi batizado e consagrado a Deus pela sua virtuosa mãe. Ao atingir a adolescência, estudou numa escola dirigida por monges, em Châtillon-sur-Seine, e ali brilhou especialmente pela sua angélica inocência.

Ao realizar uma viagem, precisou hospedar-se na casa de um amigo. À noite, uma mulher, movida por satânico desígnio, tentou entrar em seu quarto. Ele gritou contra ela em tal volume de voz que todos os moradores despertaram e a expulsaram.

Muito rezou e batalhou para guardar a castidade e, por especial graça divina, manteve a virgindade por toda sua vida. Certo dia, por não ter mantido perfeita vigilância ao olhar uma moça, impôs a si mesmo esta penitência: entrou num reservatório cuja água gélida chegava até seu pescoço e ali permaneceu orando por longo tempo.

Quarenta nobres se colocaram sob sua direção

Sao Bernardo e seus paisQuerendo entregar-se totalmente à Igreja, Bernardo pensou em ingressar numa Ordem Religiosa. Algumas pessoas lhe informaram da existência da Abadia de Cister, mas a criticavam dizendo que ali o modo de viver era duríssimo. Pensou ele: “Mas o que desejo é exatamente um mosteiro onde se procure com radicalidade a perfeição e não a vida fácil e mole!”

Começou, então, a falar com seus familiares a respeito de seu altíssimo ideal. Sua mãe havia falecido e seu pai caminhava para a velhice. O irmão mais velho era casado e tinha duas filhas crianças. Persuadido por Bernardo, conversou com sua esposa e ambos combinaram que se tornariam religiosos em distintos mosteiros.

Outro irmão, muito estimado por todos devido ao seu valor militar, não se deixou convencer. Bernardo, que já possuía o carisma da profecia, apontou um lado do torso de seu irmão e afirmou que naquele local uma lança o feriria em breve, mas não o mataria. Alguns dias depois, numa batalha, precisamente isso aconteceu.

Vertendo sangue, ele foi acorrentado e jogado numa prisão subterrânea. Movido pela graça divina, prometeu seguir Bernardo se fosse libertado. À noite, um Anjo lhe apareceu, quebrou seus grilhões e abriu a porta da masmorra. Ele refugiou-se na igreja situada ao lado. Dessa forma, segundo o Direito então vigente, ele se tornou livre.

O jovem Bernardo também convenceu um tio, cavaleiro de grande renome e proprietário de um belo castelo em Autun, na Borgonha. Chamava-se André de Montbard e, posteriormente, foi a Jerusalém onde se tornou membro destacado da Ordem dos Templários.

Tendo constituído um grupo de aproximadamente 40 pessoas, instalaram-se numa imensa casa em Châtillon-sur-Seine, onde permaneceram por seis meses, levando uma vida disciplinada sob a direção de São Bernardo. O varão de Deus, que estava com 22 anos de idade, convenceu a todos a irem com ele até Cister a fim de pedirem admissão na abadia, como noviços.

São Bernardo e seus quatro irmãos foram ao castelo em que haviam nascido a fim de pedir a bênção de seu velho pai. Ao saírem, viram o mais novo que era pequenino e lhe disseram: “Ficai com toda a herança! Iremos para um mosteiro.” O menino afirmou: “Vós recebeis o Céu e me deixais a Terra? Quero ir convosco”.

Quando atingiu a idade conveniente, ele também se tornou monge, e logo depois seu bom pai fez o mesmo.

 O Vale do Absinto se transformou em Claraval

A Abadia de Cister havia sido fundada em 1098 e era governada por Santo Estêvão Harding. Ali se levava uma vida de santidade, mas o número de monges diminuía e não entravam membros novos. Muitas pessoas diziam que em breve seria fechada.

Em 1113, São Bernardo, acompanhado de 32 nobres varões, bateu à porta da abadia e pediu que fossem admitidos como noviços. Acolhidos com alegria, a abadia refloresceu de modo prodigioso. Todos eles cumpriam a regra na perfeição, oravam e trabalhavam no campo. O Santo foi um exemplo de humildade e espírito de sacrifício.  Embora franzino, cultivava a terra, cortava árvores e carregava lenha nas costas.

Devido ao aumento do número de religiosos, erigiram-se dois outros mosteiros. Mesmo assim, era necessário fundar um terceiro. O Conde de Champagne doou aos cistercienses uma propriedade situada em Aube, extremo Leste da França, chamada Vale do Absinto, que era um refúgio de ladrões.

Santo Estêvão para lá enviou como abade São Bernardo, acompanhado de doze monges. Algum tempo depois, tudo estava transformado e o Vale do Absinto – uma erva amarga – passou a ser chamado Clara vallis – Vale luminoso ou Claraval.

Seu irmão caçula tornou-se monge, e o próprio pai foi admitido como irmão converso, passando a obedecer a seu filho, abade. Todos os membros de sua família ficaram religiosos. Faltava apenas sua irmã Umbelina, que era casada e muito mundana.

Conversão de sua irmã

531px San Bernardo Abad de Antonio Palomino Museo del PradoCerto dia, ricamente adornada e com grande séquito, ela chegou à porta de Claraval para fazer uma visita. São Bernardo recusou recebê-la devido à ostentação com que ela se apresentava. Um dos seus irmãos, porteiro do mosteiro, disse-lhe que, com aqueles trajes coruscantes, ela se assemelhava a uma estrumeira enfeitada.

Umbelina, derramando lágrimas, afirmou: “Embora eu seja pecadora, Jesus Cristo morreu por mim. Se Bernardo despreza meu corpo, peço que não rejeite minha alma. Que ele venha e me ordene o que devo fazer; estou pronta a obedecê-lo!”

São Bernardo foi atendê-la, acompanhado de todos seus irmãos que eram monges em Claraval. Proibiu-lhe o uso de vestes mundanas e deu-lhe como modelo a vida de sua mãe. Ela regressou para o Castelo de Fontaines e ali viveu como se estivesse num convento.

Passados dois anos, obteve de seu marido permissão para se tornar religiosa e ingressou num convento em Jully-sur-Sarce, fundado para as esposas daqueles que haviam seguido São Bernardo. Algum tempo depois, foi eleita abadessa e ali faleceu em 1136; seu corpo exalava suave perfume. Por suas altíssimas virtudes, a Igreja a beatificou.[1] Sua memória é celebrada em 12 de fevereiro.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Paris : Louis Vivès. 1901, v. 7, p. 482-488; DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1879, v. 26, p. 261-273.

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