Um sacerdote santo pode mudar a vida dos fiéis?
Qual a relação entre a eficácia do ministério sacerdotal e a santidade pessoal de quem o exerce?
Redação (25/06/2020 15:00, Gaudium Press) Considerando com profundidade a essência da ordenação sacerdotal e do próprio ministério sagrado, São Tomás nos ensina que os presbíteros devem tender à perfeição mais ainda que um religioso ou uma freira porque são eles a oferecer os sacrifícios, fazendo o papel de intermediários entre Deus e o povo. Apresentar-se manchado pelo pecado diante do Altíssimo, para exercer o múnus sacerdotal, seria uma afronta ao Criador. “Os sacerdotes […] serão santos para o seu Deus e não profanarão o seu nome, porque oferecem ao Senhor os sacrifícios consumidos pelo fogo, o pão de seu Deus. Serão santos” (Lv 21, 5-6).
Ainda conforme a teologia tomista, o ministro ordenado é elevado a uma dignidade régia no meio dos outros fiéis de Cristo, pois O representa e, em diversas ocasiões, age in persona Christi. Impossível, portanto, imaginar um título superior. E como ele é chamado a ser mediador entre Deus e os homens, além de guia destes para as coisas divinas, deve necessariamente ser-lhes superior em santidade, embora todos os batizados sejam também chamados à perfeição.
E de fato, para se entender tal ensinamento, basta ter bem presente o alto grau de santidade que a Celebração Eucarística e a santificação das almas exigem de um ministro¹, como nos adverte o Divino Mestre: “Vós sois o sal da terra; mas, se o sal se torna insosso, com que se salgará? Não servirá para nada senão para jogá-lo fora a fim de que os homens o pisem. Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13-14a). Diante dessa enorme responsabilidade, compreende-se o motivo pelo qual não poucos santos tiveram receio de serem ordenados sacerdotes.
O sacerdote é modelo para os fiéis?
Esta questão é de candente atualidade, pois o sucesso maior ou menor de seu ministério em favor dos fiéis pode depender, de modo particular, do próprio sacerdote. Sendo visto pelos fiéis como alguém escolhido por Deus para guiá-los, o ministro ordenado deve ser sempre exemplo de virtude.
Sabemos que os Sacramentos operam com eficácia pelo poder de Cristo, produzindo a graça por si mesmos. No entanto, sua penetração será maior ou menor conforme as disposições interiores de quem os recebe. E aqui entra um elemento subjetivo no qual tem importante papel a ação pastoral do sacerdote, pois sua virtude, seu fervor, seu empenho em pregar o Evangelho, em última análise, a santidade de sua vida — a qual é, por sua vez, uma forma excelente e insubstituível de pregação —, podem influenciar os fiéis a receberem os Sacramentos com melhores disposições, beneficiando-se, assim, mais de seus frutos.
Dada a natureza social do homem, a boa reputação decorrente da prática da virtude leva os outros à imitação. Assim, quanto mais semelhança com Cristo encontrarem os fiéis nos ministros de Deus, tanto mais facilmente se deixarão guiar por eles.
Bem ressalta Dom Chautard que a um sacerdote santo corresponde um povo fervoroso; a um sacerdote fervoroso, um povo piedoso; a um sacerdote piedoso, um povo honesto; a um sacerdote honesto, um povo ímpio². Grande é, pois, o papel da virtude do sacerdote na vida dos fiéis.
Por Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP
1 Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. De Sanctificatione sacerdotum, secundum nostri temporis exigentias. Roma: Marietti, 1946, p.66-67.
2 Cf. CHAUTARD, OCSO, Jean-Baptiste. A Alma de todo o apostolado. Porto: Civilização, 2001, p.34-35.
(Texto extraído e adaptado da Revista Arautos n.98. fev. 2010 p.18, 22 A santidade do sacerdote, à luz de São Tomás de Aquino).
Deixe seu comentário