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Um Anjo pairando sobre as vastidões do Império

Diante do perigo bárbaro, surge a figura de um homem que dá a impressão de ter sido constituído pela Divina Providência para salvar o Império Romano do Ocidente. Seu nome era Estilicão.

Diante do perigo bárbaro, surge a figura de um homem que dá a impressão de ter sido constituído pela Divina Providência para salvar o Império Romano do Ocidente. Seu nome era Estilicão.

Redação (13/04/2021, 15:47, Gaudium Press) No ano de 395, o Imperador Teodósio, em seu leito de morte na cidade de Milão, recomendou a seus dois filhos, Arcádio e Honório, fidelidade a Estilicão.

Regente do Império do Ocidente

Quem foi ele?

Nascido nas cercanias de Constantinopla, seu pai era vândalo e sua mãe cidadã romana. Recebeu ótima educação e falava correntemente latim e grego. Muito mais importante do que isso, era um verdadeiro católico.

Distinguiu-se na vida militar e também na diplomacia, obtendo grande êxito em sua embaixada junto ao rei da Pérsia, que ameaçava invadir Bizâncio. 

Casou-se com uma sobrinha de Teodósio. Alguns meses depois este faleceu, deixando dois filhos, Arcádio com 18 anos de idade, e Honório com apenas onze. Arcádio herdou o Império do Oriente, sediado em Constantinopla, e Honório o do Ocidente, cuja capital era Roma.

Estilicão tornou-se o regente do Império do Ocidente e uma de suas filhas casou-se com o jovem Honório. Logo depois ela morreu, e Honório desposou outra filha de Estilicão. 

Teve o regente que enfrentar enormes dificuldades, quer devido a péssimos indivíduos que se aboletaram na corte de Bizâncio, quer por causa dos bárbaros os quais ameaçavam o Império. Como prêmio de suas eminentes qualidades, Estilicão recebeu o título de cônsul.

Vencedor de Alarico

Alarico, rei godo, rompendo o acordo que fizera com o Império, no ano 402 conduziu uma multidão de bárbaros em direção à Itália, visando conquistá-la.  A corte se encontrava em Ravena, onde os imperadores do Ocidente haviam estabelecido sua residência oficial.

Em Roma, os senadores, os patrícios, os endinheirados fugiram para as ilhas da Sardenha, Córsega e Sicília. O Imperador Honório, apavorado, queria também escapar com sua família, mas Estilicão empregou toda a sua energia e conseguiu retê-lo em Ravena.  

Milão estava a ponto de ser invadida por Alarico. O heroico Estilicão enfrentou-o e dizimou seu exército, mas o rei godo conseguiu fugir para uma região da atual Europa oriental.

Pouco tempo depois, Alarico reuniu novas tropas, penetrou na Itália e fez exigências financeiras para não atacar Roma. Estilicão se esforçou para obter os meios necessários a fim de apaziguar o rei godo, mas não encontrou apoio. O Imperador Honório, deixando-se arrastar por sua moleza e pelas intrigas de homens infames, mandou matar Estilicão. Este e seu jovem filho, que se encontravam em Ravena à porta de uma igreja onde procuravam asilo, foram barbaramente assassinados .

Escolhido pela Divina Providência para salvar o Império

Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“Diante do perigo bárbaro, surge a figura de um homem que dá a impressão de ter sido constituído pela Divina Providência para salvar o Império Romano do Ocidente. Esse homem, porém, fracassou miseravelmente.

“Seu nome era Estilicão. Embora bárbaro de nascimento, tinha se identificado de modo profundo com o Império Romano. De fato, ingressou na carreira das armas e se tornou um grande general, sendo encarregado de vigiar as fronteiras do Império face aos germanos, ao longo do Reno e do Danúbio. De tal maneira Estilicão era o homem-chave, o qual podia conter todos os perigos, que, onde ele estivesse, o Império estava salvo; e onde ele faltasse, o Império estava perdido. 

“Assim, quando os bárbaros invadiram a Itália pelo Norte, as autoridades do Império do Ocidente deram ordem a Estilicão para vir apressadamente defender os domínios ameaçados. Ele desguarneceu o Reno e o Danúbio, acorreu com suas tropas e, em território italiano, obteve duas estrondosas vitórias contra os ostrogodos, conjurando completamente o perigo que estes representavam.

“Contudo, durante o período em que o denodado general permaneceu na Itália, os bárbaros germanos, inteirando-se de que o Reno e o Danúbio estavam desguarnecidos, e que Estilicão – o único homem por eles considerado temível – encontrava-se longe dali, começaram a atravessar em grande número esses rios, passando para a França, a Espanha e até para o Norte da África.

“Não bastasse essa avalanche de germanos, aconteceu que outro chefe bárbaro, desta vez visigodo, chamado Radagaiso, passou os Alpes e seguiu em direção de Roma. O perigo era iminente para todo o Império.

“Estilicão, entretanto, junto a Florença, inflige tremenda derrota aos visigodos. Salva novamente a honra do Império e preserva a Itália das invasões bárbaras.

Assassinado por ordem do próprio imperador

“O general tinha agora os braços livres para continuar a marcha rumo ao Norte, a fim de lutar contra os bárbaros que haviam invadido o Império, de maneira a tentar fechar a fronteira setentrional, como já fizera no Sul.

“A esta altura dos acontecimentos, Estilicão nos parece uma espécie de Anjo pairando sobre as vastidões do Império, detendo de todos os modos as hordas bárbaras que nele procuravam penetrar.

“Ora, este homem que se nos afigura investido de tão bela missão na luta contra a barbárie – ele mesmo descendente de bárbaros, mas muito assimilado pela civilização romana –, na plenitude de sua gesta de guerreiro, cai no campo de batalha, assassinado de maneira vil e infame, por ordem do próprio imperador, que não teve sequer o pudor de esconder o assassínio. Mandou matá-lo, temendo que Estilicão quisesse, ele mesmo, tornar-se imperador.

“Intrigas miseráveis de corte decadente, que não compreendia a grandeza de um homem desses e o valor de seu heroísmo por Roma. Uma corte onde não se achava um só espírito apto a fazer o seguinte raciocínio: ‘Se Estilicão é capaz de impedir a invasão dos bárbaros e salvar Roma, e eu não sou, se ele quiser ficar imperador, que fique, mas nós vamos evitar a invasão dos bárbaros.’ […]

“Estilicão foi, pois, assassinado da maneira mais ostensiva, clara e evidente, no ano de 408. Conhecedores desse hediondo crime, os visigodos se indignaram, dizendo que aquele intrépido guerreiro era um inimigo leal, a quem eles muito admiravam. Em seguida, afirmaram que, para castigar o Império pelo assassínio de Estilicão, haveriam eles de marchar sobre a Itália.

“De fato, invadiram-na no ano de 409. E tais eram as hordas que passaram a penetrar na Itália que a queda do Império Romano do Ocidente tornou-se praticamente inevitável. ” 

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História da Igreja” – 47)

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  1-  Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1869, v. XI, p. 57-384; 1889, v. XII, p. 16-60.

  2- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Decadência e queda do Império Romano do Ocidente, lição para os dias de hoje. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano I, n. 6 (setembro 1998), p. 18-19.

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