“Trono do corpo e do sangue de Cristo”, o altar e a sua bissecular história
Com o decorrer dos séculos, os objetos e símbolos litúrgicos foram se desenvolvendo e aperfeiçoando.
Redação (20/10/2022 15:29, Gaudium Press) Desde os tempos apostólicos, a Celebração Eucarística foi o eixo em torno do qual se constituiu a Liturgia da Igreja Católica, e por uma razão muito sublime: a presença real e substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo na sagrada hóstia, em corpo, sangue e divindade sempre foi o motivo de incremento da piedade dos fiéis.
A justo título, por ser a Missa um “sagrado banquete”, era conveniente que sua efetivação se desse sobre uma mesa – também sagrada –, a qual, posteriormente, foi chamada de altar. Por isso, de tal modo o sacramento da Eucaristia se associou a essa “mesa sagrada”, que não há dúvida de que a ele nos referimos quando dizemos “sacramento do altar”.
Neste sentido, são esclarecedoras as palavras do bispo Optato de Mileto, do século IV: “O altar é o trono do corpo e do sangue de Cristo”,[1] razão pela qual o altar foi se constituindo como objeto de especial reverência e respeito por parte dos fiéis, desde a Igreja primitiva.
No início do cristianismo
Nos três primeiros séculos de cristianismo, a Igreja enfrentou terríveis e sucessivas cargas de perseguição. Visto que a morte pairava sobre a cabeça daqueles que ostentassem o nome de cristão, a Igreja nascente viu-se obrigada a realizar suas celebrações em catacumbas ou até mesmo em pequenas casas de família. Era, pois, necessário que os altares pudessem ser movidos de um lugar a outro, a fim de não estarem expostos a qualquer tipo de profanação por parte dos pagãos.
A maior parte dos altares desta época era, então, de madeira. Quando, porém, em 313, Constantino deu liberdade de culto aos cristãos, o altar – bem como toda a liturgia – desenvolveu-se em larga medida.[2]
Em primeiro lugar, os altares passaram a ser de pedra e fixos no solo, pois já não havia perigo – iminente pelo menos – de profanações. Ademais, uma vez que se estava desenvolvendo a arquitetura dos templos, não convinha colocar um altar de madeira numa Igreja imponente, sendo ela de pedra. Entretanto, havia um motivo ainda mais belo: uma vez que o altar representa o próprio nosso Senhor, que é a Pedra Angular da Igreja, seria arquitetônico que também fosse elaborado em pedra, simbolizando de modo mais perfeito a Cristo.[3]
As relíquias dos mártires
No século IV, o culto aos mártires cresceu muitíssimo, e os cristãos passaram a depositar suas relíquias sob os altares.
Como sabemos, a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, e cada membro seu é também um membro inseparável de Cristo. Com efeito, quando a Igreja é perseguida em seus membros, é o próprio Cristo que é perseguido: christianus alter Chirtus, o cristão é um outro Cristo.
Ora, o altar, sendo uma representação de Jesus, não pode estar completo sem os seus membros. Deste modo, como os mártires são membros de Cristo, é inteiramente louvável que tenham um lugar sob o altar. Ademais, quão belo é associar o sacrifício dos mártires ao Sacrifício da Cruz que se renova em cada Missa.[4]
Força dos símbolos cristãos
Com o decorrer dos séculos, do ponto de vista artístico, o altar desenvolveu-se muito, chegando a ser construído com retábulos e tabernáculos, onde se guarda o Santíssimo.
De modo semelhante, todos os outros objetos e símbolos litúrgicos foram sendo aperfeiçoados. Entretanto, o que lhes dá força é o seu caráter de perenidade. Se, por acaso, fosse possível dissociá-los desta tradição bimilenar, com certeza perderiam muito do seu brilho e do seu valor.
Em outras palavras, encanta aos fiéis saber que há objetos do culto católico com dois mil anos de História, nascidos da fé ardente dos Apóstolos e dos primeiros cristãos.
Por Lucas Rezende
[1] Cf. RIGHETTI, Mario. Historia de la liturgia. Madrid: BAC, 1955, p. 464.
[2] Cf. NEUNHEUSER, Burkhard Gottfied. Históra da liturgia através das épocas culturais. São Paulo: Loyola, 2007, p. 85.
[3] Cf. RIGHETTI, Mario. Op.cit., p. 457.
[4] Cf. ibid., p. 447-448.
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