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Tem valor a Missa de um mau sacerdote?

Por mais paradoxal que possa parecer, devido ao valor intrínseco do Santo Sacrifício, até mesmo uma Missa celebrada com a finalidade de ultrajar a Deus O glorifica!

O valor da Missa depende de quem a celebra? Foto: Santiago Vieto

O valor da Missa depende de quem a celebra? Foto: Santiago Vieto

Redação (06/05/2025 09:48, Gaudium Press) Bem poderíamos traduzir o título acima numa formulação mais simples: um bom canhão funciona nas mãos de um mau soldado? Ou: de que vale um canhão se usado por inimigos? Sabemos que, por muito inepto que seja o artilheiro, um bom canhão não perde sua qualidade, ainda que sua precisão fique prejudicada… Se, por um lado, isso é consolador, por outro se torna sumamente alarmante ante a hipótese de essa eficácia se voltar contra o próprio exército através de um traidor.

Deixemos a metáfora e adentremos no assunto proposto: que valor tem – se é que tem – a Missa celebrada por um sacerdote infiel?

Em primeiro lugar, a evidência confirma que tudo quanto faz um sacerdote virtuoso é melhor do que aquilo que procede de um ministro indigno. Cumpre saber se até a Missa obedece a tal constatação.

Considerada em si mesma, ensina o Doutor Angélico, a Missa possui um valor intrínseco que independe da santidade do celebrante. Assim, vista por esse aspecto, a Missa do mau sacerdote não vale menos que a do bom, pois “ambos realizam o mesmo Sacramento” (Suma Teológica. III, q.82, a.6). Uma vez que o sacerdote atua in persona Christi – seja pelas mãos de um santo, seja pelas de um ímpio –, a Paixão do Senhor sempre se renovará de forma incruenta na Santa Missa, com seus infinitos méritos, e será glorificado o Pai Celeste.

Acontece, porém, que na Missa há também as orações que o ministro eleva a Deus pelos fiéis, vivos ou defuntos. E a eficácia destas dependem, sim, do fervor e da santidade de quem celebra. Segundo o Aquinate, “neste caso, não há dúvida de que a Missa de um sacerdote melhor é mais frutuosa” (a.6). Quanto ao ministro infiel, a ele se aplicam as palavras da Escritura: “Até em sua oração é um objeto de horror” (Pr 28, 9).

Portanto, se de fato queremos nos beneficiar de todos os frutos do Santo Sacrifício, a escolha entre assistir à Missa de um bom ou de um mau sacerdote não é tão indiferente quanto uma análise superficial, ainda que baseada em sólida Teologia, poderia insinuar.

Resta ainda o problema do “soldado traidor”… O canhão voltado contra o próprio exército pode lhe ser eficientemente nocivo?

Como ninguém, o sacerdote mau é capaz de ofender o Homem-Deus na Eucaristia. Só ele, ministro validamente ordenado, pode assumir esse papel nefando de carrasco da Divindade, obrigando o Rei Eterno a baixar dos Céus para ser insultado, pisoteado e ultrajado.

Todavia – por mais paradoxal que possa parecer –, devido ao valor intrínseco do Santo Sacrifício, até mesmo uma Missa celebrada com a finalidade de ultrajar a Deus O glorifica! Explica ainda São Tomás o motivo pelo qual Nosso Senhor permite que maus sacerdotes tenham o poder de consagrar: “Pertence à grandeza de Cristo que tanto os bons quanto os maus O sirvam, como a verdadeiro Deus, e que, pela sua providência, sejam ordenados para a sua glória” (a.5). Nem por isso, entretanto, o padre sacrílego deixa de ser réu de um pecado gravíssimo.

Em suma, o canhão – para retomarmos a metáfora inicial – será de excelente eficácia sempre que acionado, e os objetivos primordiais serão sempre atingidos. Mas quantas outras maravilhas não poderá ele realizar se bem utilizado!…

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 281, maio 2025. Redação.

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