Superstições de fim de ano são ‘adultério espiritual’, diz exorcista
Qual é a maneira católica de passar o ano? […] cheio da Palavra e do amor de Deus”, afirmou e acrescentou “um ano cheio de missas, boas comunhões, boas confissões… tudo o que alimenta a nossa comunhão com Deus”.
Redação (29/12/2025 16:54, Gaudium Press) Muitas pessoas iniciam o ano novo com rituais como saltar sete ondas na praia, usar roupas brancas, comer uvas ou lentilhas para atrair boa sorte, ou ainda consultar astrólogos, quiromantes ou jogar búzios. Esses costumes, embora comuns, não são meros hábitos inofensivos. Em entrevista à ACI Digital em 2021, o Pe. Duarte Lara, exorcista da diocese de Lamego (Portugal), alertou que práticas supersticiosas desse tipo configuram um “pecado contra a virtude da religião”.
Ele descreveu o pecado de superstição como uma forma de “adultério espiritual”, pois consiste em buscar salvação ou proteção em forças que não vêm de Deus. “O mal é esperar a salvação de uma força que não vem de Deus”, explicou, acrescentando que o “demônio aproveita essa brecha”.
O sacerdote destacou que existem formas autenticamente católicas de celebrar a passagem de ano. A Igreja concede indulgência plenária aos fiéis que, no último dia do ano, rezam o hino Te Deum em ação de graças. “Isso é uma coisa muito boa que podemos fazer na passagem do ano, terminar o ano agradecendo a Deus”, sugeriu.
Na visão do Pe. Lara, a cultura atual tende a minimizar a gravidade da superstição, tratando-a como algo leve ou até divertido, uma simples tentativa de “dar sorte”. No entanto, do ponto de vista teológico, ela é um vício que se opõe diretamente à virtude moral da religião, que consiste em uma disposição da nossa vontade para dar a Deus o culto que Lhe é devido”.
Ele identificou dois principais vícios contrários a essa virtude: a irreligião e a superstição. A irreligião manifesta-se no desprezo ou na falta de reverência pelo sagrado, isto é, “não tratar com a devida veneração as coisas sagradas, os lugares sagrados, objeto sagrados, dias santos ou a Bíblia”. Já a superstição “é divinizar criaturas ou alguma coisa criada – fonte de conhecimento etc. –, que não são Deus. Tem a ver com prestar um culto que é devido a Deus a alguma coisa que não é Deus. Isso é pecado”.
Segundo o exorcista, a superstição divide-se em três categorias principais: idolatria, adivinhação e magia.
A idolatria é “quando divinizo alguma coisa que não é Deus. Hoje em dia, começa a crescer a tendência de idolatria com coisas humanas, do trabalho, da saúde, do sucesso, do dinheiro. Às vezes, há pessoas que fazem disso o seu deus”.
A adivinhação consiste em “divinizar uma fonte de conhecimento que não vem de Deus”. Em vez de pedir a Deus, recorrer à oração, à leitura da Bíblia, a pessoa procura iluminação em fontes alternativas, como horóscopos, leitura da mão, invocação de espíritos ou astrologia. Ou seja, ela procura “ser iluminada por uma luz que não vem de Deus”.
O sacerdote explicou que, quando se recorre à adivinhação, espera-se que “aquela pessoa, não qualquer pessoa, por alguma inspiração, consiga prever o futuro. Isso implica em pôr a minha confiança nesta fonte de iluminação, o que é uma coisa impossível, mesmo sendo o demônio. Ele não conhece o futuro. O demônio consegue prever algumas coisas sim, como nós conseguimos prever se amanhã vai chover. O demônio consegue isso um pouco melhor, ou seja, consegue conjugar as causas presentes e ver a sua dinâmica natural e, portanto, traz cenários prováveis. O demônio também consegue prever coisas que ele próprio consegue causar. Ou seja, olha na palma da mão e diz ‘você vai ter um problema de saúde na próxima quinta-feira’ e, às vezes, é o próprio que consegue causar esse problema de saúde. Aí, também não é um grande adivinho, é uma espécie de truque”, disse.
Quanto à magia, trata-se de apelar a forças criadas para obter determinados resultados, seja para o bem ou para o mal. “Estou recorrendo a uma força que não é Deus e pedindo ajuda, basicamente, para o bem ou para o mal, e nesse último caso é claramente mais pecado. A magia negra, além de ser pecado contra a virtude da religião, ainda é contrária à caridade e à justiça”.
Questionado sobre o que leva as pessoas a aderir a essas práticas de superstição, o Pe. Duarte Lara apontou diferentes motivações: algumas acreditam na eficácia dos rituais, por experiências passadas que associam à “sorte”, são os “convictos”; outras tratam como brincadeira, pensando “não custa tentar”, pode dar sorte; há ainda quem olha para o rito, o ato e parece bastante inócuo… isso não faz mal a nada. O que perco? Não perco nada, melhor arriscar”.
Segundo o Pe. Lara, “isso já é pecaminoso, é uma imprudência, significa que não tem claro em seu coração ‘dar a Deus o que é de Deus’”. Além disso, “há a questão do escândalo, porque estou incentivando os outros pelo meu comportamento”. O padre ressaltou que algumas pessoas “são até contra”, mas fazem determinada superstição de fim de ano “porque estão com os amigos e não querem ser os únicos a não fazer”. “Aí entra a virtude da fortaleza, é também um ato de covardia”, afirmou.
Ele comparou a superstição a um “vírus”: quem adere a um costume como pular ondas ou comer uvas tende a abrir-se gradualmente a outras práticas, como ler horóscopos ao longo do ano. Isso revela, segundo ele, uma fé fragilizada e pouco nutrida pela Palavra de Deus, criando brechas que o maligno pode explorar.
O sacerdote alertou que, “quando deixo de pôr minha esperança de salvação em Deus e estou colocando em outra força sobrenatural, isso é perigoso e o demônio aproveita essa minha abertura”.
Como exemplo, citou o caso de uma jovem que se dizia católica, mas pouco praticante que, após a morte do pai, recorreu a adivinhos para saber se ele estava bem. “Esse tipo de curiosidade abre a porta. Foi uma fase da vida dela em que foi se envolvendo cada vez mais com o oculto, primeiro com uma coisa que parecia boa. Foi se envolvendo e depois foi preciso o exorcismo”, contou.
Na época da virada do ano, as pessoas costumam desejar saúde, paz, amor e prosperidade, presença da família, dos amigos. “Isso manifesta o que trazemos no coração; a ideia temos de felicidade”. “São bens legítimos”, reconheceu o sacerdote, “mas não os mais importantes”. Jesus ensinou que o essencial é a comunhão com Deus, viver na Sua graça e ser amigo de Deus.
“Então, qual é a maneira católica de passar o ano? Querido irmão, um 2022 cheio da Palavra e do amor de Deus”, e acrescentou “um ano cheio de missas, boas comunhões, boas confissões… tudo o que alimenta a nossa comunhão com Deus”.
Baseado no artigo de Natalia Zimbrão publicado na Acidigital






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