Sereis presos e perseguidos
“Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn 3, 15)
Redação (08/12/2020 18:16, Gaudium Press) Ao anunciar aos Apóstolos as perseguições e sofrimentos que haveriam de enfrentar, Nosso Senhor tinha em vista também instruir os cristãos de todos os tempos, porque inúmeras vezes ao longo da História a proclamação do nome de Jesus Cristo lhes trará como consequência serem injustamente presos, perseguidos ou conduzidos aos tribunais.
E isto chegará ao auge nos últimos tempos, pois quanto maior for a decadência moral da humanidade, inelutavelmente mais ódio haverá contra os justos, cuja mera existência já representa muda censura aos maus.
Testemunhas da fé na hora da provação
Errôneo seria pensar que durante as perseguições cabe aos bons ficarem encolhidos e timoratos, incapazes de qualquer ação. Pelo contrário, dão-lhes elas ensejo a testemunharem com coragem a boa doutrina diante daqueles que se desviaram do caminho certo.
Ao afirmar que as portas do inferno não prevalecerão contra a sua Igreja (cf. Mt 16, 18), estabeleceu o Divino Fundador que ela será não apenas invencível, mas sempre triunfante. Assim, por mais que os infernos, não podendo destruí-la, se organizem para sufocá-la, jamais conseguirão impedir sua atuação.
E, sejam quais forem as aparências, a Luz de Cristo permanecerá em sua Esposa com todo o seu poder e grandeza, aguardando o momento de manifestar-se de forma intensa, majestosa e irresistível.
Nessas horas de tempestade, suscita a Providência testemunhas da fé que sejam fachos da Luz de Cristo a rasgar a obscuridade da provação.
Muitas vezes, inclusive, Deus Se utiliza de instrumentos frágeis, de modo a deixar mais patente sua onipotência: Gedeão, último homem da tribo de Manassés; Judite, piedosa viúva; e os próprios Apóstolos, simples pescadores.
E, se percorrermos as grandes aparições da Virgem Maria, desde Guadalupe até Fátima, a quem vemos como receptores da mensagem, senão pessoas de escassa cultura e predicados?
Quanto aos acontecimentos do fim do mundo, serão justamente a firmeza na fé e a força impetratória dos fiéis, perante o ódio insaciável dos sequazes do anticristo, que atrairão a intervenção divina, desencadeando o castigo final.
Conselho divino confirmado pela História
Na luta de todos os dias, vale o princípio atribuído a Santo Inácio: “Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós”. Mas, nos momentos de extrema aflição em que tudo parece perdido, poderão contar com a inspiração especial de Deus: ‘Não vos atemorizeis. Vós ireis ao combate, mas Eu é que combaterei; vós pronunciareis palavras, mas quem falará sou Eu’”.
De fato, a História comprova com abundância a esplêndida realização dessa profecia de Nosso Senhor, nos julgamentos iníquos promovidos contra os filhos da luz. Santa Joana d’Arc, por exemplo, era uma camponesa sem estudos; suas respostas, entretanto, confundiram o tribunal que a julgava, pela extraordinária profundidade teológica.
Deus é o principal Ator da História
Julgamos, por vezes, serem raríssimas as intervenções de Deus nos acontecimentos terrenos. Como se Ele, após criar o universo, deixasse os fatos correrem por si, procedendo de forma semelhante a alguém que planta uma árvore e se despreocupa totalmente do seu crescimento.
Nada mais contrário à realidade. Deus não só age na História, mas, sobretudo, é seu principal Ator. Tudo está em suas santíssimas mãos, nada foge ao seu governo: “Em Deus vivemos, nos movemos, e somos” (At 17, 28).
Às vezes, a ação da Divina Providência nos fatos concretos é visível aos olhos de todos, por ser desígnio seu torná-la patente. Porém, na maior parte das ocasiões, Ela opera de forma oculta ou discreta, deixando por conta do nosso entendimento e da nossa fé discernir o cunho de sua atuação.
O Criador tem tudo contado, pesado e medido. E, ao agir sobre os acontecimentos, tem sempre em vista, junto com a própria glória, a salvação dos que são seus. Por isso, afirma São Paulo: “Tudo quanto acontece, concorre para benefício dos justos” (Rm 8, 28). Cada um dos nossos atos, gestos ou atitudes serão consignados no Livro da Vida.
Esperança na vida verdadeira
Todos nós, como os Apóstolos, estamos sujeitos a passar por situações difíceis em razão de nossa fidelidade a Cristo. Como devemos nos comportar diante delas?
Antes de tudo, precisamos crer firmemente na onipotência de Nosso Senhor e ter bem presente seu amor por cada um de nós, conforme nos exorta Santo Agostinho: “Essa é a Fé cristã, católica e apostólica. Confiai em Cristo que diz: ‘não cairá sequer um fio de vossos cabelos’, e, uma vez eliminada a incredulidade, considerai o quanto valeis.
Quem de nós pode ser desprezado por nosso Redentor, se nem sequer um fio de cabelo o será? Ou: “como duvidaremos d’Aquele que, por amor a nós, recebeu alma e carne na qual morreu, e a recobrou para que desaparecesse o temor de morrer?”.
Uma vez compenetrados de estarmos de passagem nesta Terra, a caminho da eternidade, todos os males que possamos sofrer tomam outra dimensão.
É permanecendo firmes na Fé que ganharemos a verdadeira vida; é só na perspectiva da glória eterna que teremos forças para perseverar na hora das provações. E isto não depende tanto do nosso esforço quanto da graça divina, que devemos pedir sem cessar.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias,EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.107. Novembro 2010.
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