São Tomás de Aquino: Luminar da Santa Igreja
Sua incomparável obra teológica – cuja maior expressão é, sem dúvida, a Suma Teológica – baseada numa Filosofia “purificada” por ele mesmo, rendeu à Santa Igreja uma importantíssima, para não dizer indispensável, contribuição.
Redação (27/01/2025 18:09, Gaudium Press) Para o Doutor Angélico, a Filosofia era de ótima serventia para a Teologia, pois permitia demonstrar alguns pressupostos da fé acessíveis à razão natural, como a existência e a unicidade de Deus, bem como ilustrar, mediante oportunas similitudes, certas verdades de fé e refutar racionalmente os argumentos que se lhe opunham. Ele percebia que o aristotelismo, purificado das interpretações errôneas dos árabes, podia fornecer à Teologia bases muito mais sólidas do que as do agostinianismo platônico.
Tendo estudado com Santo Alberto Magno em Paris e em Colônia, São Tomás foi além da empresa de seu mestre e utilizou-se do aristotelismo para sintetizar a Filosofia Antiga e o dogma cristão. Nascia uma das maiores obras filosóficas e teológicas que os séculos veriam.
Um diálogo amistoso entre fé e razão, onde uma auxilia a outra, tornou-se uma das notas mais peculiares do pensamento do Aquinate. Além disso, entre seus escritos de maior renome encontra-se, por exemplo, a Suma contra os gentios, na qual ele demonstra racionalmente, para aqueles que não possuem fé, as razões para crer.
Mas a atividade de São Tomás não se reduziu à sua magistral síntese entre fé e razão. Sua incomparável obra teológica – cuja maior expressão é, sem dúvida, a Suma Teológica – baseada numa Filosofia “purificada” por ele mesmo, rendeu à Santa Igreja uma importantíssima, para não dizer indispensável, contribuição.
Luminar da Santa Igreja
Ao tecer considerações sobre um homem de tal envergadura e sobre sua influência na História da Igreja, corremos o risco de ficar muito aquém da realidade… Com efeito, as chances de se analisar superficialmente um personagem são proporcionais ao tamanho da figura contemplada.
Basta nos atermos ao modo como a vida e a obra do Aquinate foram consideradas por sucessivos Pontífices, para nos darmos conta de que não estamos diante de um homem qualquer.
“Ele [sozinho]”, assegura João XXII, “iluminou a Igreja mais que todos os outros Doutores; em um ano se aproveita mais a leitura de seus escritos, do que estudando a doutrina de outros durante a vida inteira”. Inocêncio IV, por sua vez, chegaria a afirmar sobre a doutrina do Doutor Angélico: “Nunca se verá aqueles que a seguirem se apartarem do caminho da verdade, e sempre será suspeitoso de erro aquele que a impugnar”.
Com Leão XIII e sua encíclica Æterni Patris, o Aquinate receberia os maiores louvores. O documento apresenta as razões pelas quais o ensinamento tomista está em íntima consonância com o Magistério da Igreja, e deve ser adotado como guia oficial dos estudos filosóficos e teológicos. Por isso, São Tomás foi declarado padroeiro das escolas e universidades católicas.
Para esse Pontífice, os ensinamentos do Doutor Angélico não se restringem, de forma alguma, ao âmbito da família dominicana: “É um fato constante que quase todos os fundadores e legisladores das Ordens Religiosas ordenaram a seus companheiros que estudassem as doutrinas de São Tomás e aderissem a elas religiosamente, dispondo que a ninguém fosse lícito separar-se impunemente, por pouco que fosse, das pegadas de tão grande mestre”. Leão XIII vai mais além e encontra no ensinamento de São Tomás a solução para os males da sociedade civil e familiar que “viveria certamente mais tranquila e mais segura se nas academias e nas escolas se ensinasse doutrina mais sã e mais conforme ao ensinamento do Magistério da Igreja, tal como o contêm as obras de Tomás de Aquino”.
Os Papas do século XX também se mostram prolixos em louvar a sabedoria do Santo de Aquino. Para Paulo VI, São Tomás “possuiu, no máximo grau, a coragem da verdade, a liberdade de espírito ao enfrentar os novos problemas, a honestidade intelectual de quem não admite a contaminação do Cristianismo pela Filosofia profana, mas tampouco defende a rejeição apriorística desta”. Por esta razão, o Doutor Angélico soube conciliar a secularidade do mundo com a radicalidade do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, “evitando assim a tendência antinatural de negar o mundo e seus valores, sem por isso faltar às exigências supremas e inabaláveis da ordem sobrenatural”.
João Paulo II, por sua vez, salienta a atualidade do pensamento tomista na encíclica Fides et ratio, de 14 de setembro de 1998, recordando que o Aquinate “foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer Teologia”. Nesse documento, o Papa polonês confere ao Santo o belo título de “Apóstolo da verdade”.
Além dos Pontífices individualmente considerados, diferentes concílios ecumênicos também tomaram sua doutrina como seguríssima, verdadeiro baluarte da ortodoxia: “Nos Concílios de Lyon, Vienne, Florença e Vaticano [I], pode-se dizer que São Tomás interveio nas deliberações e decretos dos padres, e quase foi o presidente”. No Concílio de Trento, junto aos livros que sobre o altar presidiam as sessões – as Sagradas Escrituras e os decretos dos Sumos Pontífices –, encontrava-se a célebre Suma Teológica do Santo. Que maior testemunho de aprovação poderia ser dado à sua obra magna? Mais recentemente, o Concílio Vaticano II recomendou vivamente o pensamento tomista em dois documentos: Optatam totius e Gravissimum educationis. E Bento XVI fez notar a importância conferida pela Igreja ao Doutor Angélico ao citá-lo por sessenta e uma vezes em seu catecismo.
Por fim, vale a pena lembrarmos que a doutrina teológica de São Tomás de Aquino se tornou “lei da Igreja” quando o novo Código de Direito Canônico demonstrou categórica preferência pelos ensinamentos desse doutor na formação dos clérigos.
Aos que procuram a verdade
Uma das notas características e até essenciais da elaboração do pensamento de São Tomás está na sua convicção sobre a unicidade da verdade: Deus é a Verdade Absoluta e todas as outras verdades que existem esparsas pelo universo são decorrentes desta, primeira e essencial.
Muitos séculos se passaram desde a morte do Doutor Angélico, ao longo dos quais o mundo foi se transformando. Na sociedade atual, em que reina o relativismo, a famosa indagação de Pôncio Pilatos torna-se cada vez mais frequente: “Que é a verdade?” (Jo 18, 38). Mais do que ignorá-la, as pessoas se negaram a procurá-la onde ela realmente está.
Quantas filosofias novas surgiram quais “pedras de tropeço”! Quantos modos de vida divergentes do Evangelho! Quantos pensadores que, em nome de um presunçoso e falso progresso da razão, deturparam a verdade única e imutável! Deixando penetrar a confusão das mentes até mesmo no recinto sagrado, quantos mestres culpados desfiguraram e continuam a desfigurar a imaculada doutrina da Igreja, perturbando e escandalizando os pequeninos!
Ora, diante de tanto reconhecimento prestado pela Esposa Mística de Cristo à doutrina que São Tomás legou-lhe, a ponto de ver nela uma referência segura em matéria teológica e propor, mais de uma vez, que fosse lecionada com toda a propriedade, uma pergunta se apresenta: aqueles que visam combater e menosprezar o genuíno ensinamento tomista não estão lutando contra a própria doutrina e, mais, contra a própria “mentalidade” da Igreja?
Encontramo-nos há sete séculos da canonização de um dos maiores luminares do Cristianismo, e nunca estivemos tão necessitados de seus ensinamentos!
Se somos daqueles que, de fato, querem que reine a verdade de sempre, a verdade católica, a única e imutável verdade, por que não recorremos ao ensinamento e à valiosa intercessão de São Tomás? A todos os autênticos amigos da sabedoria, os que vivem da verdade e para a verdade, este grande Santo foi e sempre será um ponto de referência incomparável.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 259, julho 2023. Por Eduardo José Ribeiro Matos.
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