“São tantos os mártires de hoje: são mais que os mártires dos primeiros séculos”, diz Papa
A Bem-aventurança “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus” proclama a alegria escatológica dos perseguidos por justiça, disse Francisco o Papa na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira.
Cidade do Vaticano (29/04/2020 10:49, Gaudium Press) Por causa da pandemia do covid-19, a Audiência Geral desta quarta-feira (29/04) foi novamente realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico. Na catequese de hoje o Papa concluiu seus comentários feitos a propósito das Bem-aventuranças. Ele tratou da última delas: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.”
A alegria escatológica dos perseguidos por justiça
O Papa afirmou, logo no início, que esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”. Para Francisco, ela “anuncia a mesma felicidade que a primeira: o Reino dos Céus é dos perseguidos e dos pobres em espírito”.
Francisco interpreta que “Pobreza em espírito, choro, mansidão, sede de santidade, misericórdia, purificação do coração e obras de paz podem levar à perseguição por causa de Cristo, mas, no final, essa perseguição é motivo de alegria e grande recompensa nos céus”.
O Pontífice explicou que “o caminho das Bem-aventuranças é um caminho pascal que leva de uma vida segundo o mundo para a vida segundo Deus, de uma existência guiada pela carne, ou seja, pelo egoísmo, para uma existência guiada pelo Espírito”.
O mundo declara a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, algo a ser marginalizado
O Papa continuou com seus comentários afirmando:
“O mundo, com seus ídolos, seus acordos e suas prioridades, não pode aprovar esse tipo de existência. As ‘estruturas de pecado, muitas vezes produzidas pela mentalidade humana, tão estranhas ao Espírito da verdade que o mundo não pode receber, só podem rejeitar a pobreza ou a mansidão ou a pureza e declarar a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, como algo a ser marginalizado. ”
O testemunho cristão incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana
Comentando as consequências a que pode chegar a prática das Bem-aventuranças, destacou que “o testemunho cristão, que faz bem a muitas pessoas, incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana. Eles vivem isso como uma repreensão. Quando a santidade aparece e a vida dos filhos de Deus emerge, nessa beleza há algo de inconveniente que exige uma tomada de posição: ser questionado e abrir-se ao bem ou recusar essa luz e endurecer o coração”.
Dando continuidade a seu raciocínio, o Papa frisou logo em seguida:
“É curioso, chama a atenção ver como, nas perseguições dos mártires, a hostilidade aumenta a ponto de incomodar”. Basta recordar “as perseguições das ditaduras europeias do século passado: como se chega à ira contra os cristãos, contra o testemunho cristão e contra o heroísmo dos cristãos”.
Os mártires de hoje são muitos, são mais do que os mártires dos primeiros séculos
Depois de fazer esta afirmação no transcorrer da Audiência, Francisco mostrou uma triste constatação:
“É doloroso recordar que, neste momento, existem muitos cristãos que sofrem perseguições em várias áreas do mundo, e devemos esperar e rezar para que sua tribulação seja interrompida o mais rápido possível. São muitos: os mártires de hoje são mais do que os mártires dos primeiros séculos. Expressamos nossa proximidade a esses irmãos e irmãs: somos um único corpo, e esses cristãos são os membros ensanguentados do corpo de Cristo, que é a Igreja.”
O desprezo dos homens nem sempre é sinônimo de perseguição: pode ser por culpa nossa
Caminhando para a finalização dos comentários de sua catequese, o Pontífice fez uma admoestação.
Segundo o Papa, “devemos estar atentos para não ler essa Bem-aventurança de maneira vitimista, de auto-comiseração.
De fato, o desprezo dos homens nem sempre é sinônimo de perseguição: logo após Jesus diz que os cristãos são o “sal da terra” e alerta contra o perigo de “perder o sabor”, caso contrário, o sal “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Portanto, há também um desprezo que é culpa nossa quando perdemos o sabor de Cristo e do Evangelho”.
A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, nos fazem assemelhar a Cristo crucificado
Depois de afirmar que “devemos ser fiéis ao caminho humilde das Bem-aventuranças, porque é o que leva a ser de Cristo e não do mundo” o Papa explicou:
“A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, nos fazem assemelhar a Cristo crucificado e, associando-nos à sua paixão, são a manifestação de uma nova vida. Esta vida é a mesma de Cristo, que para nós homens e para a nossa salvação foi “desprezado e rejeitado pelos homens”.
O Pontífice encerrou a Audiência desta quarta-feira com uma afirmação e um conselho:
“Nas perseguições, há sempre a presença de Jesus que nos acompanha, a presença de Jesus que nos consola e a força do Espírito que nos ajuda a seguir em frente. Não desanimemos quando uma vida coerente do Evangelho atrai as perseguições das pessoas: o Espírito nos sustenta nesse caminho”. (JSG)
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