São Roberto Belarmino: guerras, armas, ameaças e… diálogo!
17 de setembro, memória de São Roberto Belarmino: pregou contra os desvios do clero, contra o mundanismo, contra a má formação dos sacerdotes, contra as frestas que se abriam na Igreja para o relaxamento dos costumes, o relativismo moral e os novos ventos de doutrina.
Redação (17/09/2021 10:00, Gaudium Press) Roberto Francisco Rômulo Belarmino nasceu de família nobre da Toscana no dia 04 de outubro de 1542. Descobriu logo sua vocação religiosa e ingressou na Companhia de Jesus. Aos quinze anos, como prodígio de sabedoria e de santidade que era, fez sua primeira pregação em uma sexta-feira santa. São Roberto Belarmino chegou a ser Cardeal e, segundo alguns autores, apenas não assumiu o pontificado porque as constituições de Santo Inácio não o permitiam. Ademais, brilhando sempre pela despretensão e humildade, nunca desejou galgar cargos ou postos de relevância dentro da Igreja, o que, naturalmente, considerava grande pecado de soberba.
O nome de batismo, que carregou até à eternidade, foi escolhido por seu pai Vicente. Roberto, da palavra latina robur, quer dizer força. Belarmino, também do latim, quase pode resumir sua vida: bella, arma, minae, ou seja: guerras, armas e ameaças. Infelizmente não encontramos em seu nome nenhuma referência ao termo diálogo, derivado este do grego: dia, que significa separar; e logos, em português: palavra. Porém, separar as palavras, ou melhor, dialogar – neste sentido grego que deveria ser o único – foi o que marcou do início ao fim a sua vida de pregador.
O método dos santos
Como bom pastor que era, São Roberto procurava constantemente alertar seus fiéis das ciladas da heresia e das armadilhas do maligno. Instruía-os zelosa e incansavelmente no cuidado contra o relaxamento dos costumes e do relativismo moral.
Sem dúvida, o melhor modo de fazer esta pregação, usado por São Roberto, confundiria certas mentalidades desviadas de hoje que pensam que para converter antes é necessário rebaixar-se ao estado e às condições daquele que se tem em vista trazer para o seio da Igreja. Não. Este não era o método de São Roberto Belarmino! Aliás, nunca foi o método dos santos…
Como era então o modo mais perfeito e eficaz de conquistar as almas para Deus? Era praticando o que ensinava; era personificando e sendo exemplo admirável das virtudes que eram lidas no catecismo.
Em última análise, era sobretudo mostrando a beleza, a grandeza e as maravilhas de Deus e, assim, elevando o espírito, ele conduzia as almas para a entrega a Deus pela vida de santidade; em suma, preocupava-se acima de tudo com a pobreza e a indigência espiritual daquelas almas – incomparavelmente mais importantes que as inquietações acerca das situações financeiras ou monetárias de uma pessoa.
Praticante, ele mesmo, de uma pobreza extrema, zelava sempre pelo decoro do cerimonial, pelo uso das vestes segundo a dignidade eclesiástica que cabia a cada um, e nunca – jamais! – permitia que os clérigos ou religiosos se assemelhassem aos hereges pelo uso indistinto das roupas.
Promoveu reformas não só nos costumes decadentes, mas também nos templos sagrados e nos conventos que vinham sendo tratados com desleixo. São Roberto não dispensou todo o empenho e atenção na decoração e restauração dos edifícios pois reconhecia a importância da beleza destes lugares para a elevação das almas a Deus, e bem sabia ele como aquilo poderia servir de pretexto para a atuação da graça e salvação dos fiéis.
Belarmino e antibelarministas
O “diálogo” o caracterizou. São Roberto, que começara o estudo da doutrina e da teologia aos 14 anos, procurou desde cedo traduzir os princípios da escolástica para a linguagem simples do povo fiel, separando bem as palavras de Deus das mentiras dos falsos pastores.
Assim, ensinando ao rebanho de Cristo como distinguir a verdade do erro através de palavras e exemplos de vida, São Roberto era um homem que arrastava as multidões e convertia os infiéis, sendo, ao mesmo tempo, uma ameaça contra a heresia. Diz um manuscrito da época: “Parecia-nos ver nele um bispo dos tempos antigos. As suas palavras fizeram-nos compreender que vinha até nós levado daquele espírito de força e doçura a que ninguém resiste”. (p. 41) Outro relato ratifica: “Falava como um anjo vindo do paraíso para mostrar a todos o caminho da salvação”. (p. 45)
Não demorou para que surgissem inimigos no horizonte. Gente pérfida que procurava destruir seu apostolado no campo doutrinário. Sim, no campo doutrinário, pois, no que dizia respeito à santidade e ao exemplo de vida que representava, era impossível negá-lo.
Na universidade de Heidelberg no ano de 1600, David Pareu obtém a fundação do Collegium Antibellarminianum, dedicado, como o próprio nome indica, a educar jovens no antibelarminismo, tornado para os protestantes síntese e símbolo do antijesuitismo doutrinal.
Não é preciso dizer que a verdadeira doutrina unida à santidade de São Roberto triunfou sobre eles, combatendo-os e dialogando maravilhosamente com linguagem clara e teologia irrefutável.
E os antibelarministas continuam…
Na época de São Roberto Belarmino todos os antibelarministas eram protestantes. Entretanto, se considerássemos todos os que hoje favorecem e promovem o que outrora Belarmino procurou exterminar, encontraríamos muitos antibelarministas circulando pelas sacristias…
Bastaria dar o elenco de tudo o que São Roberto combateu em sua vida que hoje assim os reconheceríamos:
– Os que tratam com desleixo os templos sagrados ou mesmo não preocupam-se em dar-lhes todo o esplendor;
– Os que combatem o uso dos hábitos religiosos e das roupas clericais, ou procuram de algum modo ridicularizá-los;
– Os que não advertem sobre o relativismo moral ou caem nele;
– Os que mostram indiferença quanto à dignidade sacerdotal;
– Os que procuram rebaixar-se sob pretexto de facilitar as conversões e, portanto, não se preocupam em ser modelo de santidade;
– Os que mesclam erros e verdades;
– Os que não combatem o mal, mas pactuam com a heresia;
– Os que promovem o diálogo num sentido que não lhe é próprio nem verdadeiro, isto é, distinguir, separar as palavras para com elas melhor combater o erro e a mentira;
– Os que não incentivam a virtude;
– Os que se preocupam mais pelos financeiramente pobres do que com os espiritualmente indigentes;
– Os que não mostram interesse em converter o mundo à Igreja Católica, mas transformar e rebaixar a Igreja Católica ao nível do mundo.
Por Cícero Leite
Texto extraído do artigo: Conhece gente assim?
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