São Pio X: Grande Papa na História, grande Santo na Igreja
A igreja celebra no dia 21 de agosto a memória de São Pio X, modelo de Pontífice e de varão católico, elevado às honras dos altares quarenta anos depois de partir para a eternidade.
Redação (21/08/2025 05:25, Gaudium Press) Giuseppe Melchiorre Sarto, o segundo entre dez irmãos, nasceu a 2 de junho de 1835, de família muito humilde: seu pai, Giovanni Battista Sarto, era carteiro do município de Riese, na Itália, e sua mãe, Margherita Sanson, costureira.
Desde criança, sentiu em si o chamado para o sacerdócio. A fim de encaminhá-lo rumo à realização dessa vocação, seus pais se dispuseram a lhe proporcionar os estudos necessários, enfrentando para isso sérias dificuldades pecuniárias.
O menino, consciente do sacrifício de seus progenitores, em tudo procurava aliviar-lhes tal fardo. Por exemplo, para ir à escola, ele precisava caminhar sete quilômetros. Com vistas a não gastar os sapatos, descalçava-se e amarrava-os sobre os ombros, recolocando-os somente quando se aproximava de seu destino. E isso com apenas onze anos de idade!
Início do ministério sacerdotal
Concluídos os estudos no seminário, Sarto foi ordenado sacerdote em 1858, e enviado a Tombolo como coadjutor. No período que ali esteve, a regra do Pe. Sarto era a salvação das almas, sem medir esforços. Durante o dia exercia o ministério e, à noite, preparava as catequeses e sermões, além de aprofundar seus estudos, sobretudo lendo as obras de São Tomás de Aquino.
Não tardou muito para as pregações do Pe. Sarto começarem a brilhar pelo primor da eloquência, lógica e piedade, e sobretudo por moverem os corações. Passados nove anos, o Pe. Sarto recebeu sua primeira paróquia, em Salzano.
Com a experiência da função anterior, elaborou o plano de trabalho que cumpriria à risca: visitar todos os fiéis, pregar a Palavra de Deus, ser incansável no confessionário, confortar os doentes e estar à disposição para assistir os moribundos. Tudo isso sem descurar do catecismo, atraindo a atenção pela vivacidade, bom humor e alegria com que ministrava as aulas.
Em 1873 adveio uma horrível epidemia de cólera naquela região da Itália, ceifando muitas vidas. Sem medo do contágio, o Pe. Sarto redobrou os cuidados com aqueles que a Providência lhe confiara. A igreja paroquial, em vez de fechar as portas aos fiéis, ia ao encontro deles na pessoa de seu cura, o qual visitava os enfermos para confortá-los.
Dinamismo sobrenatural e natural
Passados outros nove anos, mais uma vez Deus o chamou ad maiora. No ano de 1876, o Pe. Sarto recebeu uma carta de Dom Zinelli, Bispo de Treviso: “Pensei em vos dar de uma vez os três postos: cônego, secretário da Cúria Diocesana e diretor espiritual do seminário”.
Em Treviso, o Santo deitou seus primeiros esforços no seminário. Com efeito, ele transmitia aos rapazes o forte sentimento de confiança na Providência que sustentava sua própria vida interior; um amplo senso prático, capaz de captar e governar a realidade dos fatos; e uma alegria simpática e comunicativa que espantava da alma as amarguras, tornando-a ágil e flexível para todos os empreendimentos.
Ademais, como verdadeiro Santo, não lhe podia faltar uma profunda devoção a Maria, Medianeira e Corredentora dos homens. A piedade moveu-o a preparar um grupo de seminaristas para exercer as funções litúrgicas nas festas em honra da Santíssima Virgem na catedral.
A par do extenuante cuidado de duzentos jovens, ele mantinha o catecismo para crianças, os sermões nas igrejas da diocese e os trabalhos na cúria, tal era seu o dinamismo natural e sobrenatural!
Na Diocese de Mântua

Ciente dos bons resultados obtidos em Treviso, sua primeira atuação em Mântua foi no seminário. Dom Sarto precisava de clérigos, contudo, não buscava número, e sim ministros segundo o coração de Nosso Senhor. Era inflexível quando algum seminarista não apresentava sinais de vocação, convidando-o a abandonar a carreira sacerdotal. Fazia-o com dor, mas cheio de determinação, porque a vida lhe ensinara que os sacerdotes formados sob o estímulo de cálculos humanos e interesses terrenos tornavam-se um castigo de Deus.
Outra de suas fortes preocupações era o clero da diocese, o qual reunia com regularidade para tratar de assuntos pastorais, ensinando-lhe, sobretudo, com o exemplo. Certa vez, a um sacerdote que atrasava o início das Confissões por descansar até mais tarde, Dom Sarto preparou uma surpresa: quando o padre entrou na igreja, viu alguém atendendo os penitentes em seu lugar. Ao levantar a cortina do confessionário, encontrou o Bispo, o qual o fitou com um leve sorriso…
Destacou-se também seu empenho em valorizar a música sacra, conforme escreveu em 1893: “Deve-se recomendar o canto gregoriano, especialmente o modo de cantá-lo e torná-lo popular. Oh, se fosse possível conseguir que todos os fiéis cantassem as partes fixas da Missa – o Kyrie, o Gloria, o Credo, o Sanctus, o Agnus Dei – como cantam as Ladainhas Lauretanas e o Tantum ergo! Para mim, essa seria a mais bela conquista da música sacra, pois assim todos os fiéis, tomando parte verdadeiramente na Sagrada Liturgia, conservariam a piedade e devoção”.
Patriarcado de Veneza
Quando Dom Sarto completou trinta e cinco anos de ministério pastoral, nove deles enquanto Bispo de Mântua, Leão XIII o criou Cardeal e nomeou para o Patriarcado de Veneza.
O governo veneziano, nitidamente anticlerical, a princípio mostrou-se hostil ao novo pastor. Este, porém, munido de longa experiência e tino na direção das almas, em pouco tempo se fez amar e respeitar pela cidade dos doges, inclusive por seus dirigentes.
Em 1903, tendo falecido Leão XIII, os Príncipes da Igreja de todo o mundo se dirigiram a Roma para eleger o novo Sucessor de Pedro. Conta-se que o Patriarca de Veneza foi o único Cardeal a comprar passagem de ida e volta, tão longe estava de seus pensamentos a ideia de se tornar Papa.
Pastor do mundo inteiro!

O então Mons. Merry del Val, secretário do conclave e futuro Secretário de Estado, foi incumbido pelo Cardeal Decano de obter uma resposta definitiva do purpurado. Após longa procura, encontrou-o de joelhos diante do altar da Mãe do Bom Conselho, na Capela Paulina, com o rosto banhado em lágrimas. Mons. Merry del Val apenas teve forças para dizer-lhe: “Coragem, Eminência!”
Afinal, em 4 de agosto de 1903 o Cardeal Sarto aceitava sua eleição para Sumo Pontífice, adotando o nome de Pio X. Agora, seu rebanho não seria mais Tombolo, Salzano, Treviso, Mântua ou a gloriosa Veneza, mas o mundo inteiro.
Renovar todas as coisas em Cristo
“Esta é a minha política!”, declarava São Pio X enquanto assinalava um crucifixo, ao ser-lhe perguntado sobre sua orientação política. E ratificava essa afirmação o plano de seu pontificado: “Renovar todas as coisas em Cristo”.
De fato, São Pio X foi sobretudo um grande reformador. Com os mais de quarenta e cinco anos de experiência pastoral, fez como Pontífice o que sempre havia feito, só que em escala mundial. Assim, deu profunda atenção ao catecismo, promovendo uma nova edição; reformou a Liturgia, facilitou a Comunhão frequente para os fiéis e a liberou para as crianças – o que lhe valeu o título de Papa da Eucaristia –, redobrou o cuidado com o canto litúrgico, em especial o gregoriano; iniciou a elaboração de um novo Código de Direito Canônico; reorganizou a cúria e os dicastérios romanos.
Notável foi, ademais, sua luta contra o modernismo. A resistência frente a essa heresia e a promulgação da Encíclica Pascendi Dominici gregis – a qual continha trechos redigidos de próprio punho – revelam uma outra faceta de sua rica personalidade: para proteger as ovelhas, à figura do pastor une-se a do campeão de Deus, que brilha pela defesa da verdade e condenação do erro.
A São Pio X coube reunir, analisar, esquematizar e anatematizar os erros modernistas que, como germe oculto, infiltravam-se no rebanho de Cristo. Trabalho que, havia muito, vinha executando minuciosamente. Ainda em Mântua e Veneza, ele estudava e analisava os livros modernistas, sem perder oportunidade de denunciar seus desvios.
“Resigno-me totalmente”
Depois de tantas batalhas, conquistas e vitórias, chegava a hora de São Pio X unir sua voz à do Apóstolo quando pedia a Deus o prêmio por haver levado a termo o bom combate da Fé.
Após a festa da Assunção de Nossa Senhora de 1914, o Pontífice sentiu-se levemente indisposto, tendo um brusco agravamento em seu estado de saúde na noite do dia 18 de agosto. Seu escudeiro, amigo e filho espiritual, o Cardeal Merry del Val, acorreu a seus aposentos na manhã seguinte e narra que as últimas palavras ouvidas de seus lábios foram: “Eminência… Eminência! Resigno-me totalmente”.
Como cordeiro imolado que não abre a boca, depois disso o Santo Pontífice perdeu a faculdade de falar, apesar de permanecer completamente lúcido. A partir de então se limitou a fitar profundamente os circunstantes. À noite, entregou sua alma a Deus. O relógio marcava uma hora e quinze minutos da madrugada de 20 de agosto de 1914.
Era o crepúsculo de um pontificado solar. São Pio X deixava esta terra para brilhar por toda a eternidade no Céu e interceder pela Igreja Militante, à qual em vida tanto defendera, pela qual lutara e sofrera! A História o reverencia como um grande Papa, e a Esposa Mística de Cristo o louva como um grande Santo.
Por Alison Batista de Oliveira
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 236, agosto 2021.







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