São Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei
“São Josemaria foi escolhido pelo Senhor para anunciar a chamada universal à santidade e mostrar que as atividades correntes que compõem a vida de todos os dias são caminho de santificação” (João Paulo II). Sua memória litúrgica é celebrada no dia 26 de junho.
Redação (26/06/2024 07:23, Gaudium Press) No dia 6 de outubro de 2002, na Praça de São Pedro do Vaticano, perante uma multidão de mais de 300 mil pessoas de todas as idades e condições procedentes dos cinco continentes, o Papa João Paulo II celebrou a solene cerimônia de canonização de São Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei.
Papa João Paulo II dirigiu a palavra à multidão de fiéis, cooperadores e amigos do Opus Dei:
“São Josemaria foi escolhido pelo Senhor para anunciar a chamada universal à santidade e mostrar que as atividades correntes que compõem a vida de todos os dias são caminho de santificação. Pode-se dizer que foi o santo do cotidiano. De fato, estava convencido de que, para quem vive sob a ótica da fé, tudo é ocasião de um encontro com Deus, tudo se torna um estímulo para a oração. Vista desta forma, a vida diária revela uma grandeza insuspeita. A santidade apresenta-se verdadeiramente ao alcance de todos.”
Dom Javier Echevarría que recordava palavras de São Josemaria a seus filhos espirituais, escritas nos primórdios do Opus Dei, em 24 de março de 1930:
“Viemos dizer, com a humildade de quem se sabe pecador e pouca coisa -‘ homo peccator sum’ (Lc 5, 8), dizemos com Pedro – mas com a fé de quem se deixa guiar pela mão de Deus, que a santidade não é coisa para privilegiados, que o Senhor chama-nos a todos, de todos espera Amor: de todos, estejam onde estiverem; de todos, seja qual for o seu estado, a sua profissão ou ofício. Porque essa vida corrente, cotidiana, sem relevo, pode ser meio de santidade: não é preciso abandonar o próprio estado no mundo para procurar a Deus, se o Senhor não dá a uma alma a vocação religiosa, uma vez que todos os caminhos da terra podem ser ocasião de um encontro com Cristo”.
Com isso, São Josemaria nada mais fazia do que frisar, mais uma vez, o núcleo da mensagem que recebera de Deus, em 2 de outubro de 1928, data da fundação do Opus Dei. Após anos de oração e penitência constantes, naquela data Deus lhe mostrara a sua Vontade há muitos anos pressentida, sem conseguir ver o que era, e o Mons. Josemaria compreendeu que a única razão da sua existência devia ser entregar-se inteiramente, com todas as forças, ao cumprimento desse desígnio divino: o Opus Dei.
Todos são chamados à santidade
Em uma entrevista concedida a L’Osservatore della Domenica, em 1968, Mons. Escrivá definia assim o que caracteriza a vocação para o Opus Dei:
Vou dizê-lo em poucas palavras: é procurar chegar à santidade em meio do mundo, no meio da rua. Quem recebe de Deus a vocação específica para o Opus Dei sabe – e vive – que deve alcançar a santidade em seu próprio estado, no exercício de seu trabalho, manual ou intelectual.
A finalidade a que o Opus Dei aspira – esclarecia na mesma entrevista – é favorecer a procura da santidade e o exercício do apostolado por parte de cristãos que vivem no meio do mundo, seja qual for o seu estado ou condição. A Obra nasceu a fim de contribuir para que esses cristãos, inseridos no tecido da sociedade civil – com a sua família e as suas amizades, o seu trabalho profissional, as suas aspirações nobres -, compreendam que a sua vida, tal como é, pode vir a ser ocasião de um encontro com Cristo: quer dizer, que é um caminho de santificação e apostolado (…). A vida de um simples cristão – que talvez a alguns pareça vulgar e acanhada – pode e deve ser uma vida santa e santificante”.
Deus dissipava assim o mal-entendido, frequente entre muitos católicos, de que, para aspirar à santidade, seria “indispensável abandonar o mundo, afastar-se dele… ou dedicar-se a uma atividade eclesiástica”.
Caminho de santificação no trabalho e nos deveres cotidianos
Um traço específico do carisma do Opus Dei, com o qual Nosso Senhor abriu caminhos práticos para a santificação do cristão no meio do mundo, é a percepção de que o trabalho profissional (e quem diz trabalho diz família, diz deveres sociais, diz atividade cultural, diz lazer, diz, em suma, vida cotidiana) pode e deve ser meio e ocasião de santidade e de apostolado.
Viemos chamar de novo a atenção – esclarecia o Fundador – para o exemplo de Jesus que, durante trinta anos, permaneceu em Nazaré trabalhando, desempenhando um ofício. Nas mãos de Jesus, o trabalho, e um trabalho profissional semelhante àquele que desenvolvem milhões de homens no mundo, converte-se em tarefa divina, em trabalho redentor, em caminho de salvação”.
Não se cansava, por isso, de ensinar que, para os cristãos comuns, “a vida corrente é o verdadeiro lugar da existência cristã”.
Deus os chama a servi-Lo em e a partir das tarefas civis, materiais, seculares da vida humana. Deus nos espera cada dia: no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio do lar e em todo o imenso panorama do trabalho. Não esqueçamos nunca: há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir (…).
Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar o Senhor em nossa vida de todos os dias, ou não O encontraremos nunca.”
Com uma expressão sintética, que gostava de repetir, resumia esse ideal de santidade dizendo que consiste em “santificar o trabalho, santificar-se no trabalho e santificar os outros através do trabalho”.
Cristo, Maria, o Papa
Não ficaria completo este esboço, forçosamente sumário, do carisma e da mensagem espiritual do Fundador do Opus Dei, se não mencionássemos a sua cálida e intensa devoção a Nossa Senhora (a quem invocava, em tudo e para tudo, sem A separar jamais de São José) e o seu amor apaixonado à Igreja Santa, ao Romano Pontífice e aos bispos em comunhão com a Santa Sé.
Omnes cum Petro, ad Iesum per Mariam – Todos, com Pedro, a Jesus por Maria. Eis o roteiro espiritual que, desde a fundação, propôs como lema aos seus filhos espirituais, e que, seguindo o seu exemplo e os seus ensinamentos, os fiéis da Prelazia do Opus Dei procuram seguir e difundir com alegria e fidelidade.
“Sê de Maria e serás nosso”, escrevia nos anos trinta. “A Jesus sempre se vai e se ‘volta’ por Maria”, afirmava como um axioma sobrenatural. E frisava: “O amor à Senhora é prova de bom espírito, nas obras e nas pessoas singulares. Desconfia do empreendimento que não tenha esse sinal”.
E, quanto ao amor ao Papa, rezava assim: “Obrigado, meu Deus, pelo amor ao Papa que puseste em meu coração”. “Católico, Apostólico, Romano! Gosto de que sejas muito romano. E que tenhas desejos de fazer a tua romaria, videre Petrum, para ver Pedro”.
Este amor a Maria, à Igreja e ao Papa é um dos mais vincados traços do seu espírito, que gravou indelevelmente na alma dos fiéis da Prelazia, e que, por meio deles, vai ficando gravado no coração de quantos se aproximam do Opus Dei e procuram viver o seu espírito.
Por Pe. Francisco Faus
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2007, n. 68.
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