São João Crisóstomo, audaz contra os inimigos da Igreja
São João Crisóstomo lutou contra todos os erros de seu tempo. Mandou destruir templos onde se ofereciam sacrifícios a ídolos. Os bons o aplaudiam, porém, os maus o odiavam.
Redação (23/04/2021, 16:56, Gaudium Press) Deus concede às pessoas os mais variados dons. A Mozart o dom da música, ao Beato Fra Angélico, da pintura, a São João Crisóstomo, da palavra. O termo “Crisóstomo”, que foi acrescido ao seu nome, provém do grego e significa “boca de ouro”.
Incentivava a virtude e combatia os maus costumes
Nasceu São João em Antioquia, na atual Turquia, em 344. Seu pai, comandante-chefe das milícias do Império, faleceu quando João tinha cinco anos. Sua mãe era cristã e proporcionou-lhe ótima educação; estudou Filosofia e Retórica.
Rezava bastante, meditava sobre a Sagrada Escritura, jejuava frequentemente e fazia outras penitências.
Tendo uns trinta anos de idade, foi viver como eremita numa montanha próxima de Antioquia, sob a direção de um monge ancião. Após quatro anos, querendo levar uma existência mais perfeita, mudou-se para uma caverna onde praticou tais austeridades que ficou gravemente doente e precisou voltar para Antioquia.
Após seu restabelecimento, foi ordenado diácono e passou a escrever obras religiosas. Algum tempo depois, recebeu a ordenação presbiteral. Dedicou-se à pregação durante doze anos. Por seus eloquentes sermões e, sobretudo, pela sua santidade, o povo o estimava muito.
Proferiu belas homilias – que eram anotadas por taquígrafos – a respeito, por exemplo, da Sagrada Escritura, do sacerdócio, da virgindade; incentivava a virtude e combatia os maus costumes que grassavam na sociedade. Sua fama de orador difundiu-se por todo o mundo oriental.
Patriarca de Constantinopla
Tendo falecido o Patriarca de Constantinopla, São João Crisóstomo foi eleito para esse importantíssimo cargo, em 398, com o apoio do Imperador Arcádio, do clero e de toda a população. Tornou-se necessário retirá-lo às escondidas de Antioquia, onde o Santo exercia o ministério sacerdotal, pois o povo não permitiria que ele deixasse essa cidade.
Devido à moleza do bispo anterior, o clero de Constantinopla estava decadente. Teatros apresentavam espetáculos com cenas obscenas que corrompiam a população. Além disso, os arianos e os pagãos promoviam ações infames contra a Santa Igreja de Deus.
Nosso Santo batalhou contra todos esses erros. Por exemplo, mandou destruir templos onde se ofereciam sacrifícios a ídolos. Os bons o aplaudiam, porém os maus o odiavam.
A orgulhosa Imperatriz Eudóxia, esposa de Arcádio, e o péssimo Patriarca de Alexandria, Teófilo, se coligaram numa feroz campanha contra São João e conseguiram que o fraco Imperador o exilasse.
Durante uma cerimônia, católicos fiéis são assassinados
Foi ele levado à Nicomédia, no Noroeste da Turquia. Ao saber da notícia, o povo correu às portas do Palácio Imperial e, aos brados, protestavam contra Teófilo e Eudóxia.
Apavorada, Eudóxia se pôs a rogar ao Imperador que revogasse o exílio de São João. Começou, então, uma terrível tempestade, com tremores de terra; a multidão, aos gritos, dizia que eram castigos de Deus, e pediam a punição dos culpados.
O desterro foi então anulado. Quando o Santo regressou a Constantinopla, as ruas estavam enfeitadas com flores, muitas pessoas se ajoelhavam para oscular as bordas de seu manto e os locais onde seus pés pousavam. Na igreja, onde também se encontrava Eudóxia, ele fez um discurso tão fogoso que várias vezes foi interrompido por aplausos.
Algum tempo depois, Arcádio mandou colocar em Constantinopla, na praça onde se localizava a Basílica de Santa Sofia, uma estátua de prata da Imperatriz Eudóxia. No dia de sua inauguração, foram realizadas corridas, lutas de gladiadores e cerimônias pagãs.
Com admirável ousadia, São João Crisóstomo pronunciou um fervente sermão, maldizendo os que promoviam aqueles atos execráveis. Ébria de ódio, Eudóxia pediu a convocação de um concílio para condená-lo. Logo depois, ele fez uma homilia, lembrando a figura da ímpia Herodíades que pediu a cabeça de São João Batista num prato…
Certamente pagos pela Imperatriz, sicários tentaram matar São João Crisóstomo, mas foram impedidos por fiéis católicos. Houve tumultos, várias pessoas morreram.
Seus inimigos – sobretudo os bispos arianos –, manipulados pelo ímpio Patriarca de Alexandria, pressionaram o Imperador que prometeu exilar novamente São João Crisóstomo.
Na vigília pascal do ano de 404, facínoras invadiram a basílica onde se celebrava uma cerimônia de Batismo, e mataram diversos fiéis. Muitos catecúmenos se dirigiram a um campo, onde receberam o Sacramento. De repente, soldados investiram contra eles, assassinando muitos e lançando outros nas prisões. São João conseguiu refugiar-se numa casa, junto à qual católicos fiéis montavam guarda dia e noite.
Após celebrar Missa, sua alma foi levada ao Céu
Poucos dias depois, o Santo foi levado para um local da Armênia. Assim que ele saiu de Constantinopla, seus inimigos incendiaram a Basílica de Santa Sofia, visando matar os católicos fiéis que lá se encontravam.
O lugar onde ele ficou era frequentemente atacado por bárbaros. Eudóxia esperava que, durante uma dessas invasões, o Santo fosse degolado. Mas, impressionados por sua pessoa, eles o respeitaram.
São João começou a fazer apostolado com as pessoas das redondezas, causando grande admiração. Em breve, habitantes da Armênia e da Pérsia vinham vê-lo para ouvir seus conselhos. Ele recebia muitas cartas de fiéis de Constantinopla, e nas respostas os animava a lutarem contra o mal.
Foi ele, então, transportado para um lugar mais distante, porém muitas pessoas vinham visitá-lo e seu prestígio aumentava. Vários bispos, seus inimigos, pediram a Eudóxia que pusesse fim a tudo isso. Soldados foram encarregados de conduzi-lo para uma localidade aos pés das montanhas do Cáucaso, fora das vias de comunicação e do mundo civilizado.
Após três meses de caminhada, durante a qual sofreu imensamente, chegaram a uma capela, onde ele celebrou Missa. Terminada a ação de graças, disse: “Glória a Deus em todas as coisas”, e sua bela alma foi levada ao Céu. Contava 63 anos de idade .
Ele, São Basílio Magno, Santo Atanásio e São Gregório de Nazianzo são os quatro grandes Doutores da Igreja oriental.
São João Crisóstomo foi um varão audaz na luta contra os males de seu tempo. Peçamos-lhe que nos obtenha de Nossa Senhora a virtude da audácia para combatermos eficazmente a Revolução igualitária e gnóstica que domina toda a Terra.
Por Paulo Francisco Martos
(i, “Noções de História da Igreja” – 48)
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1 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1869, v. XI, p. 99-577; ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. II, p. 199-210.
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