São Guilherme de Verceil
Filho de família nobre e rica, São Guilherme nasceu em Verceil, norte da Itália, em 1085, e fundou a Ordem de Montevergine.
Redação (12/04/2023 15:22, Gaudium Press) Seus pais faleceram quando ele era adolescente. A fim de obter graças divinas para enfrentar as batalhas da vida e progredir no bem, tendo apenas 14 anos fez uma peregrinação a Santiago de Compostela, norte da Espanha. E por espírito de sacrifício realizou essa longa viagem, por estradas não asfaltadas, vestido de traje de peregrino e descalço.
Aos 23 anos de idade, para levar uma vida de oração e penitência, mudou-se para o alto de um monte, na Itália. Certo dia, trouxeram-lhe um menino cego e Guilherme restituiu-lhe a vista, milagrosamente. Sua fama de santidade espalhou-se pela região e ele, por amor à solidão, mudou-se para outro local.
Pouco depois, iniciou uma peregrinação a Jerusalém, mas foi assaltado numa estrada e compreendeu que Deus desejava que ele permanecesse na própria Itália.
Monte da Virgem
Decidiu, então, estabelecer-se no alto de um monte abrupto e elevado. Diversos discípulos ali se congregaram e ele construiu um mosteiro, bem como uma igreja dedicada à Santíssima Virgem. O local posteriormente passou a ser chamado Montevergine – Monte da Virgem.
Os monges levavam uma vida de recolhimento, oração e penitência; três vezes por semana, se alimentavam apenas de pão e verduras. E também faziam apostolado com as populações circunvizinhas.
Deitou-se sobre brasas ardentes
Os milagres realizados por São Guilherme se multiplicaram: curas de surdos, mudança da água em vinho, etc. O número de seus monges aumentava e ele, em 1126, fundou um instituto religioso chamado Ordem de Montevergine.
Roger II, Rei da Sicília e de Nápoles, erigiu um mosteiro dessa Ordem nas proximidades de seu palácio em Salerno, Sul da Itália, e conversava frequentemente com São Guilherme.
Entretanto, certo dia, alguns elementos infames da corte fizeram com que uma mulher de má vida visitasse o santo para incitá-lo ao pecado. Ele a conduziu a uma dependência vizinha, onde havia ampla lareira com brasas ardentes, na qual se deitou sem sentir a menor dor e suas roupas não foram chamuscadas.
A mulher, derramando torrentes de lágrimas, pôs-se de joelhos, pediu-lhe perdão e quis tornar-se religiosa. Vendeu todos seus bens, entrou num mosteiro fundado por São Guilherme, onde foi nomeada abadessa e viveu em oração, praticando rigorosas penitências.
São Guilherme fundou diversos conventos masculinos e femininos. Deus colheu a alma desse varão virginal em 1142. Sua memória é celebrada em 25 de junho[1].
Idade Média: época borbulhante de vida
Transcrevemos a seguir alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito de São Guilherme de Verceil.
“A Idade Média, contrariamente ao que muitos imaginam, tinha uma vida de atividade intensa. Tal atividade era sobretudo agrícola (…) a qual precisou ser muito intensa, e o foi de tal maneira, que de uma ponta a outra da Europa havia plantações, as quais se estendiam até mesmo pela Rússia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Norte das Ilhas Britânicas, e outras regiões de cuja existência os romanos nem sequer tinham noção.
“Naturalmente, a agricultura trouxe consigo o comércio. A abundância das plantações traz consigo a exportação e a permuta de seus frutos com outros artigos. Assim, iniciou-se também uma indústria caseira, a qual se transformou mais tarde numa indústria verdadeira, dotada de estabelecimentos especiais, desligados da atmosfera doméstica.
“Abriam-se, então, estradas, iniciava-se uma organização à maneira de polícia, como os cavaleiros andantes e outras forças locais, as quais se encarregavam de manter a segurança das vias, impedindo roubos e assassinatos. Os medievais viajavam muito. (…)
“De outro lado, havia na Idade Média a atividade intelectual, da qual muito já se conhece. Mas havia também a atividade guerreira, sumamente glorificada por alguns historiadores, do ponto de vista das Cruzadas, mas tão denegrida e exagerada por outros no que diz respeito a guerras domésticas entre famílias, casas e feudos.
“Isso tudo forma a verdadeira imagem da Idade Média: uma época borbulhante de vida.
A Igreja, fonte de toda harmonia e perfeição
“Na raiz dessa vida estava a Igreja, enquanto fonte de toda harmonia e perfeição. Seu modo de proceder consistia em impulsionar a sociedade em determinada direção, o que fazia com tanta serenidade, sabedoria e naturalidade, que poderia até mesmo causar a impressão de irrefletida. Contudo, era ainda capaz de, ao mesmo tempo, incentivar alguns a seguirem o rumo extremamente oposto dos demais, conservando assim a harmonia do corpo social.
“Um claro exemplo disso encontra-se no fato da Igreja ter estimulado extraordinariamente o desenvolvimento intelectual na Idade Média, ao mesmo tempo que impulsionava vigorosamente o trabalho manual, o extremo harmônico daquele.
“Assim, toda a movimentação do corpo social na Idade Média era largamente estimulada pela Igreja; mas também ela estava constantemente suscitando a formação de grandes famílias de almas, as quais procuravam retirar-se a lugares ermos, a fim de viverem no completo isolamento (…)
Tranquilidade, serenidade, meditação
“Era grande o contraste entre o borbulhar de vitalidade que havia na sociedade medieval e a vida tranquila, serena e meditativa de um número impressionante de eremitas, os quais abandonando tudo, iam viver em lugares distantes, na exclusiva consideração das coisas de Deus enquanto Motor imóvel, da eternidade e de outros assuntos cuja cogitação é geralmente evitada pela superficialidade de espírito de muitos homens.
“Desta forma, como fruto da verdadeira Igreja, constituiu-se o ponto de equilíbrio da sociedade medieval, bem como de cada alma individualmente.
“Pelo contrário, a atitude de uma igreja falsa seria a de estimular exclusivamente o eremitismo, ou a atividade, causando assim a desestabilização.
“São Guilherme é um característico exemplo deste modo de proceder da Igreja, enquanto propulsora dos contrários harmônicos. Ele, por sua condição de nobre, era naturalmente destinado a uma vida de guerra, de corte, de governo e de movimento. No entanto, (…) abandonou tudo e se retirou para um lugar ermo e solitário a fim de glorificar Nossa Senhora.
“Para ter garantia de não ser importunado por ninguém, dirigiu-se a uma alta e fria montanha, onde pretendia levar vida de penitência. Porém, é admirável verificar como as almas que se isolam por amor a Deus, acabam tendo muito mais poder de atração […] Tal foi o que se deu com São Guilherme, cujo exemplo atraiu muitos outros[2].
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. RIBEIRO, Jannart Moutinho. In ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 11, p. 199-201.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Guilherme: A beleza dos extremos harmônicos. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XIV, n. 159 (junho 2011), p. 9-11
Deixe seu comentário