São Gregório Magno e o fim de uma pandemia
Deus suscitou, em meados do século VI, um varão que, por suas orações, sacrifícios e lutas, conseguiu a conversão da Inglaterra, da Espanha, dos lombardos que aterrorizavam a Itália, e fez cessar terrível peste que dizimava a população: São Gregório Magno.
Redação (14/12/2021 09:38, Gaudium Press) Filho de um senador muito rico e de Santa Sílvia, São Gregório nasceu em Roma, no ano de 540. Estudou Gramática, Retórica, Filosofia e Direito, concluindo seus cursos com brilhante êxito.
Era alto e magro, de rosto oval perfeito, nariz aquilino, fronte elevada, olhar penetrante.
Supremo magistrado de Roma
Tendo 30 anos de idade, o Imperador do Oriente o nomeou pretor, isto é, supremo magistrado de Roma. Os lombardos ameaçavam invadir a Cidade Eterna, e a corte de Bizâncio dizia não ter exército para se opor àqueles bárbaros. Graças às judiciosas negociações de São Gregório com os lombardos, estes desistiram de seus ferozes projetos. Por sua notável sabedoria no exercício desse cargo, ele conquistou o coração dos romanos.
A família de São Gregório era bastante fervorosa. Seu pai deixou o cargo de senador, tornou-se diácono e passou a levar uma vida dedicada à Igreja. Sua mãe ingressou num mosteiro e três de suas tias paternas consagraram sua virgindade a Deus.
Ele ia frequentemente ao mosteiro beneditino de Monte Cassino a fim de rezar. E se alegrava em dizer que São Bento era “seu parente na ordem da natureza e seu pai na ordem da graça”. De fato, ambos pertenciam à nobre família Anicia.
Legado pontifício em Constantinopla
Com a morte de seu progenitor, São Gregório herdou enorme fortuna e decidiu levar uma vida em busca da santidade. Fez-se monge em seu palácio no Monte Célio, edificou sete mosteiros – seis na Sicília e um em Roma –, vendeu o restante de seus bens, distribuiu o dinheiro aos pobres e passou a cumprir a regra de São Bento, praticando rigorosos jejuns. Roma, que vira o nobre pretor andando pelas ruas com trajes de seda, cobertos de pedrarias, contemplou-o agora vestindo um burel.
Certo dia, ele observou num mercado de Roma diversos jovens bem apessoados, que estavam sendo oferecidos à venda como escravos. Perguntou a que povo pertenciam aqueles rapazes e lhe responderam que eram anglos. São Gregório afirmou: “Não são anglos, mas anjos.”
Informado de que eram pagãos, desejou ardentemente convertê-los e obteve do Papa São Bento I autorização de ir pregar o Evangelho na Grã-Bretanha. Acompanhado de alguns monges, ele se pôs a caminho, mas o povo, ao tomar conhecimento do fato, correu ao seu encontro e o obrigou a voltar para Roma.
Ordenado diácono, em 578, foi enviado a Constantinopla pelo Papa São Pelágio II, como legado junto à Corte de Bizâncio, onde adquiriu a estima de todos. Seis anos depois, regressou a Roma e o Pontífice o escolheu como seu secretário.
São Miguel embainhou sua espada e a peste cessou
Atingido por uma terrível peste que dizimava a população, São Pelágio II faleceu em 590. A fim de implorar a Deus a cessação desse flagelo, São Gregório promoveu uma procissão solene pelas ruas de Roma, durante a qual pessoas iam caindo mortas; após uma hora, seu número chegou a 80.
Então, o Santo tomou em suas mãos o quadro de Nossa Senhora, pintado por São Lucas, e, descalço, usando um traje de penitente, se pôs a caminhar em direção à Basílica de São Pedro.
Chegando junto a um grande castelo às margens do Rio Tibre, ouviu-se um coro angélico que cantava em louvor da Santíssima Virgem, e o povo se ajoelhou. Um Anjo apareceu no alto do castelo, tendo na mão uma espada que ele embainhou, significando que a peste havia terminado.
A partir de então o edifício começou a ser chamado “Castelo do Santo Anjo”. Era o dia 26 de março de 590. Posteriormente foi colocada no cume desse castelo uma imagem de São Miguel Arcanjo, feita de bronze.
Fugiu num cesto vazio para não ser aclamado Papa
Mas era necessário escolher o novo Papa. São Gregório foi eleito por unanimidade pelo clero, senado e povo. Quando soube da notícia, ele escreveu ao Imperador suplicando-lhe que não confirmasse sua eleição.
Prevendo que o Santo tentaria fugir de Roma, foram colocados vigias nas portas da cidade. Mas ele se escondeu dentro de um cesto vazio que alguns camponeses transportavam, e assim conseguiu escapar.
Quando teve conhecimento disso, a população começou a jejuar e rezar nas igrejas, pedindo a Deus a graça de encontrar seu pastor tão amado. Muitas pessoas se puseram a vasculhar as casas e os campos. Passados três dias, acharam-no orando numa gruta e o levaram à Basílica de São Pedro, onde foi aclamado. No dia seguinte, recebeu a sagração pontifícia.
Um dos quatro Padres da Igreja do Ocidente
Entre as admiráveis obras realizadas pelo Papa São Gregório, destacamos as seguintes:
Na Itália, converteu os lombardos arianos, os quais devolveram aos católicos todos os bens que haviam roubado.
Enviou à Inglaterra o Abade Agostinho acompanhado de 39 monges, onde converteram o Rei Etelberto e boa parte da população. Agostinho foi sagrado Bispo de Cantuária – Sudeste do país. No dia de Natal de 597, aproximadamente 2.000 pessoas receberam o Batismo nessa cidade. A Igreja elevou à honra dos altares Etelberto e Agostinho de Cantuária.
Atuou com firmeza para a conversão dos visigodos arianos que dominavam a Espanha e perseguiam violentamente os católicos.
Escreveu diversos livros, entre os quais “Regra pastoral”, sobre a missão dos bispos, no qual afirma que o verdadeiro prelado deve levantar-se “com ânsias de justiça contra os vícios dos pecadores”. E “Moralia”, que foi a base da Teologia Moral ensinada na Idade Média. Redigiu também 844 cartas, que constituem um autêntico tratado de Direito civil e eclesiástico.
Tal é a sabedoria, o esplendor e a grandeza manifestados em suas obras que São Gregório recebeu o epíteto “Magno” e foi declarado Doutor da Igreja. É um dos quatro Padres da Igreja do Ocidente, juntamente com Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
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