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São Carlos Borromeu, o Bispo da Contra-Reforma

Varão intrépido, São Carlos Borromeu combateu tenazmente o protestantismo que promoveu a primeira Revolução gnóstica e igualitária.

São Carlos Borromeu - Igreja de Santo Inácio de Loyola, Roma - Foto: Gustavo Kralj

São Carlos Borromeu – Igreja de Santo Inácio de Loyola, Roma – Foto: Gustavo Kralj

Redação (18/09/2025 09:46, Gaudium Press) Nascido no Castelo de Arona, às margens do Lago Maior – Norte da Itália –, em 1538, Carlos pertencia à família Borromeu. Seu pai, amigo do Imperador Carlos V, foi por este nomeado Senador de Milão, e sua mãe era irmã do Papa Pio IV. No momento em que ele veio ao mundo – plena madrugada –, uma luz celeste refulgente incidiu sobre o castelo.

Manteve sempre intacta sua inocência batismal e fez grandes progressos nos estudos. Aos 16 anos, foi enviado à Universidade de Pavia para cursar Direito Canônico Direito Civil.

Por duas vezes, elementos depravados introduziram em seu quarto uma mulher de má vida; ele fugiu do local e providenciou a expulsão das devassas.

Tendo obtido o doutorado em ambos os Direitos, seu tio, Cardeal Médicis, posteriormente eleito Papa com o nome de Pio IV, o nomeou Cardeal Arcebispo de Milão, cidade de 600.000 habitantes com 2,000 sacerdotes.

Muitos padres e religiosos levavam vida escandalosa; no interior de algumas igrejas faziam-se bailes. Prosternado diante de um Crucifixo durante horas, ele pedia ao Redentor a conversão de seu povo. Rezava o Breviário de joelhos e, depois, o Rosário. E frequentemente jejuava a pão e água.

A magnífica Catedral de Milão, feita de mármore em estilo gótico, encontrava-se em estado lamentável. São Carlos, auxiliado por alguns artistas, restaurou-a completamente. Na primitiva igreja, nesse mesmo local, o grande Santo Agostinho foi batizado.

Examinava a postura dos eclesiásticos

Para batalhar contra as heresias e o relaxamento moral existente na arquidiocese, ele obteve auxilio dos jesuítas, teatinos e capuchinhos.

“Serviu-se deles como de um poderoso corpo de exército para combater o vício e instaurar nas dioceses um regulamento perfeito”.[1]

Fundou cinco seminários, como recomendava o Concílio de Trento, e diversos colégios para o povo. Combatendo o igualitarismo promovido pela Revolução, criou um colégio de moços nobres, uma associação das damas do Oratório, que reunia as jovens das primeiras famílias de Milão, e também uma escola para moças pobres.

Visitava as quinze dioceses dependentes da arquidiocese de Milão, enfrentando terríveis dificuldades em regiões nas quais precisava subir a pé íngremes montanhas. Mandou restaurar igrejas, mosteiros, oratórios, confrarias, hospitais que estavam danificados.

Examinava minuciosamente os eclesiásticos: postura, vestimentas, cabelos, modos de ser, para que refletissem a verdadeira imagem da Igreja, outrora tão desprezada.

Com admirável intrepidez, excomungou os adúlteros e concubinários conhecidos como tais; alguns foram aprisionados. Indignados contra o Santo, os detentores do poder civil invadiram seu Castelo de Arona, que herdara de seu pai, difundiram panfletos injuriosos contra ele e o denegriram até junto ao papa.  Surpreendentemente, este ordenou a anulação da excomunhão lançada contra o governador de Milão.

O Santo se manteve em total serenidade e multiplicou suas orações e penitências. Algum tempo depois, o pontífice aprovou seu zelo, o Rei da Espanha Felipe II – senhor do ducado de Milão – reconheceu sua inocência e os próprios magistrados se convenceram da pureza de suas intenções. Alguns de seus perseguidores foram posteriormente castigados por Deus.

Atuação heroica durante a peste que atingiu Milão

Em 1576, Milão foi atingida por terrível peste. Os representantes do poder público fugiram da cidade, mas o arcebispo se dedicou heroicamente em favor dos atingidos, a maioria dos quais eram pobres.  Doou roupas, móveis e até sua cama para ajudá-los, passando a dormir sobre palhas… Fundou hospitais.

Promoveu procissões em toda a cidade, acompanhava-as descalço e muitas vezes seus pés sangravam. Dedicou-se, de modo especial, ao bem das almas. Atendia confissões, ministrava a Eucaristia e o Sacramento dos enfermos.

Estando Pio IV, seu tio, em agonia, ele o assistiu até o momento da morte dele, ocorrida em 1565.  Participou do conclave que elegeu São Pio V, o propugnador da guerra contra os turcos muçulmanos, derrotados pelas tropas católicas na Batalha de Lepanto, em 1571.

No último ano de sua breve vida de 46 anos, dirigiu-se ao país dos grisões – Sudeste da Suíça – onde metade da população caíra no calvinismo. Ele enfrentou hereges, ateus, feiticeiros e libertinos. Converteu diversos deles que admiraram, sobretudo, a maneira de viver do Santo.

Atingido por forte febre, voltou a Milão. Após celebrar a Missa de Todos os Santos, entrou em agonia e faleceu em 3 de novembro de 1584.

Modelo perfeito do bispo

A respeito desse admirável varão de Deus, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:

“São Carlos Borromeu foi, não apenas um grande bispo contra reformista, mas, em algum sentido, o Bispo da Contra-Reforma. Não só porque ele era um homem muito preparado, de grande cultura e que era irradiada por ele a toda a Igreja em seu tempo, mas por ter realizado o modelo perfeito do bispo.

“Muitos dos bispos bons, que viveram desde a Contra-Reforma até nossos dias, tinham o ideal de serem bispos como o foi São Carlos Borromeu. (…)

“Naquele tempo, julgava-se — como também nós julgamos — que um cardeal deve revestir-se de pompa, de grandeza, de solenidade, para fazer brilhar a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo diante dos homens.

“São Carlos Borromeu pertencia a uma grande família italiana; além de Príncipe da Igreja ele era, até certo ponto, senhor temporal de Milão e, durante certo tempo, foi Cardeal Secretário de Estado. Por todas essas razões devia cercar-se de grandeza e de fato ele assim o fez.

“Certa vez, ele andava numa esplêndida carruagem, com acolchoados e toda a pompa pelas ruas de Milão (…), quando passa perto dele um frade simples, pobre, montado a cavalo. Cumprimentos de parte a parte, e o frade lhe diz: “Eminência, como é agradável ser cardeal! Viaja-se de modo mais cômodo do que um simples frade!”

“O Cardeal Borromeu voltou-se muito gentilmente para o frade e convidou-o então a viajar com ele. O frade entrou na carruagem, sentou-se e começou a dar gritos devido aos cilícios existentes por debaixo do banco.

“O cardeal viajava sobre cilícios, sofrendo com as sacudidelas próprias de uma estrada ou rua daquele tempo, embora metido nas sedas, nos cristais e púrpuras de uma carruagem provavelmente toda dourada e ainda com plumas e lacaios”.[2]

Peçamos a São Carlos Borromeu, cuja memória é celebrada em 4 de novembro, que nos obtenha a graça de lutarmos pelo esplendor da Igreja, cuja face foi profanada pela Revolução gnóstica e igualitária.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1884, v. 34, p. 616.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Carlos Borromeu, o Bispo da Contra-Reforma. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XIII, n. 152 (novembro 2010), p. 13

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