São Bruno, Fundador da Cartuxa

Além de Cluny, das Ordens religiosas fundadas por São Romualdo – camaldulenses – e São João Gualberto – valombrosanos –, os cartuxos contribuíram para o esplendor da Idade Média, que atingiu seu ápice no século XIII.

Redação (06/10/2022 08:37, Gaudium Press) O Fundador da Cartuxa, São Bruno, nasceu em Colônia, Alemanha, em 1030, procedente de uma família de altíssima nobreza. Ainda adolescente foi para Reims, França, onde estudou Filosofia e Teologia obtendo brilhantes sucessos.

Tornou-se mestre na catedral dessa cidade e entre seus alunos encontrava-se um jovem que se tornou monge de Cluny e, posteriormente, o Bem-aventurado Papa Urbano II, proclamador da I Cruzada.

Em 1076, São Bruno foi nomeado chanceler da Catedral de Reims. Sabendo que o arcebispo era simoníaco, o Santo o denunciou e por isso foi demitido do cargo, perdendo as rendas que recebia.

Morte de um famoso professor da Universidade de Paris

Encontrando-se na capital da França, em 1082, São Bruno presenciou um fato extraordinário que o determinou a tornar-se religioso.

Um professor da Universidade de Paris, que gozava de enorme prestígio pela sua erudição e supostas virtudes, faleceu.

No momento em que o féretro ia ser levado à capela, o cadáver sentou-se e, em alta voz, declarou ter sido acusado por Deus.

A notícia se espalhou e, no dia seguinte, muitas pessoas acorreram para o lugar. O fato se repetiu, tendo o morto afirmado que fora julgado.

No terceiro dia, o defunto com voz espantosa exclamou que estava condenado. Então, as autoridades decidiram jogar seu cadáver no lixo.

       Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“É cena tipicamente medieval, pois a Idade Média foi a era dos milagres. Estes vão atrás dos que creem e não dos incréus, embora pareça um paradoxo, pois se diria que milagre é para quem não tem Fé.

“Nas épocas de muita Fé, o milagre é abundante; nas de ceticismo, ele se torna raro. O único desmentido a isso ocorreu nos séculos XIX e XX, com os milagres quase contínuos de Lourdes.”

Seu cadáver foi lançado no lixo.  “Conforme São Tomás de Aquino, quando vier o fim do mundo, toda matéria sórdida, lixo e outros detritos que não tenham sido queimados serão jogados dentro do Inferno, porque é a lata de lixo do universo para onde vão todas as almas e matérias que não prestam.”

Bandeirismo de oração

Após ter assistido essas terríveis cenas, São Bruno reuniu seis amigos e decidiram abandonar o mundo e buscar a perfeição. Rumaram, então, para Grenoble, Sudeste da França, cujo bispo, Santo Hugo de Châteauneuf, fora aluno de São Bruno.

Santo Hugo tivera um sonho, no qual viu um imenso deserto iluminado por sete estrelas, que lhe indicavam o caminho para um lugar onde Deus Pai queria construir uma casa onde morar.

Quando, no dia seguinte, sete peregrinos vieram se prosternar a seus pés, comunicando sua resolução e pedindo-lhe que os ajudasse, Santo Hugo compreendeu o significado do sonho e lhes cedeu a região montanhosa chamada Chartreuse – Cartuxa –, situada nas proximidades de Grenoble.

Nesse local, com aproximadamente mil metros de altitude, onde havia frequentes nevadas e o solo era pobre, São Bruno erigiu uma construção no ano 1084.

“Pode parecer estranho que o Bispo encaminhasse para um deserto horroroso almas tão eleitas. Mas fazia parte da vida monástica na Idade Média fixar os monges em pântanos, florestas, etc., porque ali eles lutavam contra os aspectos hostis da natureza pelo seu trabalho, enquanto cantavam e davam glória a Deus pela sua virtude. E as populações iam residir junto a eles, que constituíam a fina ponta do progresso.

“Época feliz em que os povos devastavam os matos e entravam pelos desertos não em busca do ouro, mas da virtude. Como tudo mudou!

“Era uma espécie de bandeirismo de oração. Não se iam procurar esmeraldas e sim virtudes. Que beleza! Não censuro a busca de esmeraldas, mas admiro a das virtudes.”

A cruz fica de pé enquanto o mundo gira

Seis anos depois, o Bem-Aventurado Urbano II ordenou que São Bruno fosse a Roma e o designou bispo de Reggio Calabria – Sul da Itália. Mas ele, valendo-se do direito que lhe autorizava recusar tal eleição, não aceitou o cargo, pois esta não era a sua vocação.

Depois de passar um ano na corte pontifícia, ele obteve do Pontífice permissão para voltar à vida contemplativa, mas no território italiano.

Foi assim que, em 1091, São Bruno fundou um mosteiro na Calábria – Sul da Itália–, onde permaneceu até à morte. A obra, tal como as fundações futuras, recebeu o nome “Cartuxa”, em lembrança da casa mãe.

São Bruno faleceu em 6 de outubro de 1101. Dos quase 71 anos de vida, passou apenas 16 na solidão que tanto apreciava: seis na Cartuxa francesa e dez na italiana.

No escudo da Ordem constam sete estrelas que representam São Bruno e seus seis primeiros discípulos, fazendo meio arco sobre um orbe coroado pela cruz, e o lema Stat crux dum volvitur orbis – A cruz fica de pé, enquanto o mundo gira.

São Pio X recebeu cartuxos muito idosos

Os cartuxos levam uma vida de oração e penitência. Fazem jejuns rigorosos e não tomam bebidas alcoólicas.  Entretanto, inventaram um dos mais famosos licores do mundo, o Chartreuse, composto de 130 ervas. Seu longo processo de preparação, com quatro destilações e cinco infusões, é conhecido apenas por dois cartuxos.

“São Pio X – pontificado de 1903 a 1914 – pensou em reformar a Regra deles, tomando em consideração que os homens de seu tempo não tinham mais a força dos homens de outrora. Por causa disso, a Regra, feita na Idade Média, podia não se adaptar a eles.

“Os cartuxos, então, mandaram uma delegação a São Pio X, de várias chartreuses do mundo, para pedir a não mitigação da Regra […]; eram dez monges, todos com mais de 90 anos de idade, fortes, de longas barbas brancas.

“Prosternaram-se diante do Papa e rogaram-lhe que não alterasse a Regra, pois eles eram a prova de que os cartuxos a aguentariam.

“Mas São Pio X, em sua sabedoria de santo, e tomando em consideração a debilitação do gênero humano, entendeu que as gerações posteriores que entrassem na Ordem dos cartuxos — aqueles eram da geração dos velhos, ainda suportavam — não aguentariam mais. Então fez algumas alterações, muito medidas e pequenas, na Regra dos cartuxos.”

                   A memória de São Bruno é celebrada em 6 de outubro.

Por Paulo Francisco Martos

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